As geadas que atingiram o Paraná entre os dias 9 e 15 de agosto de 2024 trouxeram grandes preocupações para o setor agrícola do estado, especialmente para os produtores de trigo. O fenômeno, embora comum nesta época do ano, apresentou intensidade suficiente para comprometer parte das lavouras, dependendo da fase de desenvolvimento das plantas e da localização geográfica das áreas atingidas.
Além do trigo, outros setores da produção agrícola paranaense, como milho, olerícolas e proteínas animais, também podem ser afetados, conforme detalha o Boletim de Conjuntura Agropecuária do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
O relatório do Deral aponta que as geadas registradas na terça-feira, 13 de agosto, foram as mais severas, especialmente nas regiões Sudoeste e dos Campos Gerais. Há mais de um milhão de hectares de trigo cultivados no Paraná, e a colheita teve início durante essa semana, atingindo cerca de 1% da área total. No entanto, as geadas podem comprometer significativamente o desenvolvimento das plantas, dependendo do estágio em que se encontram.
Entre as áreas cultivadas, 22% estavam em fase de desenvolvimento vegetativo, uma etapa na qual as temperaturas negativas podem até beneficiar as plantas ao controlar pragas e favorecer o perfilhamento. No entanto, 57% das áreas de trigo estavam em fases mais críticas, como espigamento e enchimento de grãos, tornando-as suscetíveis a danos causados pelas geadas. Essas fases são as mais vulneráveis, e as perdas podem variar de acordo com a intensidade do fenômeno e o estágio de desenvolvimento das plantas.
De acordo com o agrônomo Carlos Hugo Godinho, do Deral, as áreas mais afetadas pelas geadas somam cerca de 200 mil hectares. Essas lavouras estão localizadas principalmente nas regiões onde as temperaturas foram mais baixas. No entanto, para se ter uma avaliação precisa das perdas, será necessário aguardar que as plantas mostrem os primeiros sinais de danos, o que deve ocorrer nos próximos dias. Essas observações serão detalhadas no relatório de Condições de Tempo e Cultivo do Deral, previsto para ser divulgado na próxima terça-feira, 19 de agosto.
A produção de milho também está em destaque no Boletim de Conjuntura Agropecuária. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma produção de 115,6 milhões de toneladas de milho no Brasil para a safra 2024, representando uma queda de 12% em relação à safra anterior, que totalizou quase 132 milhões de toneladas.
O Paraná, sendo o segundo maior produtor do país, com 13% da produção nacional, deve enfrentar desafios semelhantes aos observados na cultura do trigo, caso as condições climáticas adversas persistam.
A diminuição na produção de milho pode impactar o abastecimento interno e as exportações, gerando possíveis aumentos nos preços e pressionando o mercado de grãos. O estado do Mato Grosso continua a liderar a produção nacional de milho, com uma participação de 42% do total, mas o Paraná mantém uma posição relevante no cenário agrícola brasileiro.
Além dos grãos, o Boletim do Deral também traz informações sobre a produção de olerícolas no Paraná. Segundo dados de 2022, o estado responde por cerca de 11% da produção nacional de olerícolas, ocupando a quarta posição entre os estados brasileiros, de acordo com a pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM) do IBGE. O relatório destaca as principais bases de dados sobre a produção de olerícolas no Brasil, fornecendo uma visão abrangente dos itens considerados e da frequência de atualização dos dados.
As olerícolas são um setor vital para a agricultura paranaense, e a ocorrência de geadas também pode impactar negativamente essa produção, especialmente para culturas mais sensíveis às baixas temperaturas. As perdas nas lavouras de olerícolas podem refletir diretamente no abastecimento do mercado interno e nos preços ao consumidor.
O setor de proteínas animais do Paraná continua a ser um dos pilares da economia do estado. O Paraná é o maior produtor e exportador de frango do Brasil, e em julho de 2024, comercializou 188,2 mil toneladas para o mercado externo, um aumento de 5,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
O estado também registrou seus primeiros embarques de carne suína para as Filipinas em julho, abrindo novas oportunidades de mercado. Este é um marco importante, pois até então, esse mercado era abastecido exclusivamente por Santa Catarina. A diversificação dos destinos de exportação é crucial para o fortalecimento da indústria de proteínas animais no Paraná, especialmente em tempos de incertezas climáticas que podem impactar outras áreas da produção agrícola.
Outro destaque do relatório é o crescimento significativo no abate de fêmeas bovinas no Paraná no primeiro trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. De acordo com o IBGE, o número de vacas e novilhas abatidas aumentou de 3,35 milhões para 4,29 milhões de cabeças, refletindo uma estabilização nos preços da arroba bovina desde meados de 2023. Essa tendência tem ajudado a manter os preços em patamares mais baixos, o que é benéfico para o consumidor final, mas representa um desafio para os pecuaristas que enfrentam margens de lucro mais apertadas.