O Mosteiro de Geghard, localizado na província de Kotayk, no centro da Armênia, permanece no centro de debates históricos relacionados à chamada Lança Sagrada, objeto cuja origem é associada à lança que, segundo o Evangelho de João, teria perfurado Jesus durante a crucificação.
A tradição cristã atribuiu a essa arma supostos poderes sobrenaturais e grande relevância religiosa, tornando-a uma das relíquias mais disputadas ao longo dos séculos. Diversas igrejas afirmam possuir o objeto, que também é conhecido como Lança do Destino ou Lança de Longinus. Entre esses locais está Geghardavank, o “Mosteiro da Lança”, nome que reforçou a fama do sítio ao longo da história.
O mosteiro encontra-se no Vale do Azat, uma região montanhosa de paredões rochosos onde parte de sua estrutura foi diretamente escavada na pedra. A tradição atribui sua fundação ao século IV d.C., por São Gregório, o Iluminador.
Antes da cristianização da região, o local já era considerado sagrado devido a uma nascente situada dentro de uma caverna, motivo pelo qual o mosteiro recebeu inicialmente o nome de Ayvirank, “Mosteiro da Caverna”. As estruturas originais não sobreviveram, pois foram destruídas durante invasões árabes no século IX.
A reconstrução ocorreu posteriormente, após o declínio do domínio muçulmano na região, com a edificação da Capela de São Gregório, cuja inscrição mais antiga data de 1177. Essa capela, escavada na rocha, encontra-se do lado leste do complexo e foi abandonada antes de sua conclusão.
Na primeira metade do século XIII, novas construções foram realizadas graças ao patrocínio dos irmãos Zakare e Ivane, generais a serviço da rainha georgiana Tamar. Sob sua direção, foi erguida a igreja principal, conhecida como Kathoghikè, concluída em 1215.
Antes de 1250, foi construída a primeira igreja rupestre. Pouco depois, o complexo passou ao domínio da família Proshyan, que investiu em sua ampliação. Foram adicionadas uma segunda igreja rupestre, um salão de estudos e diversas celas monásticas, além do túmulo da própria família, identificado por um brasão com dois leões acorrentados e uma águia que segura um bezerro com as garras.
Durante esse período, o mosteiro consolidou o nome que possui atualmente. Inicialmente chamado de “Mosteiro das Sete Igrejas” ou “Mosteiro dos Quarenta Altares”, passou a ser conhecido como Geghard devido à crença de que a lança que perfurou Jesus teria sido levada à Armênia por São Judas Tadeu e preservada no local.
A partir dessa tradição, o mosteiro passou a atrair um grande número de peregrinos, o que resultou em doações de terras, manuscritos, dinheiro e outros bens. Muitas dessas doações foram registradas por meio de inscrições no interior da igreja.
Apesar da relevância histórica da tradição, a autenticidade da suposta Lança Sagrada permanece sem comprovação científica. O intervalo temporal entre o século I d.C., quando ocorreu a crucificação, e os primeiros registros sobre a lança no século XII impede a validação histórica. Não há análises modernas, como datação por carbono ou estudo metalúrgico, que confirmem origem compatível com a época de Cristo.
Especialistas também apontam que a ponta da lança tem formato cerimonial e não apresenta características funcionais. Além disso, outras três relíquias reivindicam a mesma identidade, localizadas em Roma, Viena e Antioquia. A Igreja Católica não autentica oficialmente nenhuma versão. A lança de Viena, submetida a testes, data aproximadamente do século VIII.
A lança que a tradição armênia associou a Geghard atualmente está exposta no museu do Mosteiro de Echmiadzin, centro espiritual da Igreja Apostólica Armênia. Ela é preservada em um estojo de prata dourada confeccionado em 1687. Mesmo sem abrigar mais o artefato, o Mosteiro de Geghard continua sendo um dos principais destinos turísticos e religiosos da Armênia.
Em 2000, recebeu da UNESCO o título de Patrimônio Mundial, reconhecimento que destaca sua preservação e sua relevância para o desenvolvimento da arquitetura e das artes medievais armênias.
O interesse internacional pelo mosteiro foi ampliado em 2017, quando Geghard passou a integrar o projeto de realidade virtual 360GreatArmenia, que disponibiliza visitas virtuais por meio de imagens aéreas e terrestres. A iniciativa, divulgada pela revista Smithsonian, permite que usuários explorem áreas internas e externas, observem detalhes arquitetônicos e acessem representações de relíquias e obras de arte.
Atualmente, o Mosteiro de Geghard mantém sua importância histórica e religiosa, sendo procurado por visitantes interessados tanto em sua arquitetura quanto em seu papel na tradição cristã armênia. A controvérsia sobre a Lança Sagrada permanece um tema de debate acadêmico e teológico, com ausência de evidências conclusivas e forte dependência de relatos tradicionais.
Ainda assim, o local continua a desempenhar um papel relevante na preservação da memória religiosa e cultural da Armênia, além de oferecer recursos modernos de acesso virtual para o público mundial.





