Dois dos maiores expoentes da literatura lusófona, Jorge Amado e José Saramago, protagonizaram uma amizade que transcendeu continentes e ficou registrada não apenas na memória dos admiradores, mas também em correspondências reveladoras. Reunidos em diversas ocasiões e lugares ícones como Paris, Roma, Madri, Lisboa, Brasília e Bahia, os escritores estreitaram laços enquanto compartilhavam reflexões sobre a vida, a literatura e a sociedade.
A conexão entre Jorge Amado e José Saramago teve início em um período em que ambos já desfrutavam de carreiras literárias consolidadas e uma idade mais avançada. O encontro de duas mentes tão brilhantes não poderia resultar em menos do que um vínculo profundo, baseado em respeito e admiração mútua. Essa relação foi muito além das conversas presenciais e se estendeu a uma correspondência rica e cheia de significado, que posteriormente foi reunida no livro Com o mar por meio – Uma amizade em cartas, publicado pela Companhia das Letras em 2017.
A obra Com o mar por meio traz cartas, bilhetes, cartões e faxes trocados entre os escritores e suas companheiras, Zélia Gattai e Pilar del Río, durante os anos de 1992 a 1998. Esses escritos revelam não apenas a amizade entre Amado e Saramago, mas também a espontaneidade de suas personalidades. A correspondência não se limitava a discussões literárias; os dois compartilhavam reflexões sobre questões íntimas, comentavam a conjuntura política e social da época e especulavam sobre os rumos da literatura mundial.
Entre os temas mais frequentes, estavam os prêmios literários e as associações de escritores. Jorge e José debatiam sobre possíveis vencedores do Prêmio Nobel e do Prêmio Camões, refletindo sobre o impacto dessas conquistas na cena literária lusófona. A correspondência permite aos leitores testemunhar esses momentos de cumplicidade e revela a opinião sincera dos escritores sobre os bastidores do mundo literário.
Os encontros presenciais entre Amado e Saramago ocorreram em locais emblemáticos, enriquecendo ainda mais o laço entre os dois. Em Paris, caminharam pelos corredores da história literária europeia. Em Lisboa, trocaram experiências sobre suas visões de mundo em um cenário carregado de significado para Saramago. Na Bahia, terra natal de Jorge Amado, desfrutaram da hospitalidade calorosa que é tão marcante na cultura brasileira.
Esses encontros foram também espaços de reflexão sobre as relações entre Brasil e Portugal, suas experiências coloniais e como esses aspectos influenciaram suas obras. As conversas abordaram desde questões históricas até a necessidade de estreitar laços culturais entre os países lusófonos.
A publicação de Com o mar por meio é um presente não apenas para os fãs de Jorge Amado e José Saramago, mas também para todos os apreciadores da literatura. As cartas revelam um lado íntimo e humano dos escritores, permitindo que os leitores se aproximem de suas rotinas e processos criativos.
Esse material ajuda a compreender como a literatura não é apenas um reflexo da vida, mas também um instrumento para interpretá-la e transformá-la. A relação entre Amado e Saramago, documentada em suas correspondências, é um testemunho da força da amizade e da conexão através das palavras.
A amizade entre Jorge Amado e José Saramago é um exemplo do poder transformador dos laços humanos na construção de pontes culturais. Suas reflexões sobre o papel da literatura, a responsabilidade social do escritor e a importância de celebrar as diferenças continuam a inspirar escritores e leitores ao redor do mundo.
Os encontros, as cartas e as reflexões desses dois gênios da literatura não apenas marcaram um momento histórico, mas também deixaram um legado que permanece vivo na memória cultural lusófona. Em cada linha escrita ou palavra trocada, Jorge Amado e José Saramago nos lembram que a literatura é, acima de tudo, uma celebração da humanidade.