O Rio Grande do Sul se despede de um dos seus maiores expoentes da música nativista. João Chagas Leite faleceu aos 80 anos, na manhã desta terça-feira, em Erechim, no norte do estado. O artista estava em tratamento contra um câncer colorretal, diagnosticado em 2023, e veio a óbito em decorrência de complicações da doença. O velório ocorre em Erechim, e o sepultamento será realizado no Cemitério Pio XII, em cerimônia acompanhada por familiares, amigos e admiradores.
Natural de Uruguaiana, nascido em 22 de agosto de 1945, João Chagas Leite foi cantor, compositor e instrumentista, reconhecido por sua contribuição fundamental à preservação da música regional do sul do Brasil. Com uma carreira de mais de cinco décadas, tornou-se símbolo do nativismo, interpretando e compondo canções que exaltam o campo, o cavalo, o homem rural e a identidade cultural gaúcha.
Entre suas mais de 300 composições, destacam-se clássicos como “Por Quem Cantam os Cardeais”, “Desassossegos”, “Ave Sonora” e “Pampa e Querência”, obras que atravessaram gerações e consolidaram seu nome entre os grandes da música tradicionalista. Sua voz serena e sua poesia simples, mas profunda, conquistaram o público e renderam-lhe inúmeros prêmios em festivais nativistas pelo estado e pelo país.
João Chagas Leite venceu 13 festivais de música regional, incluindo a Tertúlia Musical Nativista, em Santa Maria, um dos mais prestigiados do Rio Grande do Sul. Sua trajetória é marcada pela autenticidade e pela fidelidade às raízes culturais. Mesmo enfrentando limitações físicas — ele tocava violão com técnica adaptada devido a uma deficiência na mão esquerda — nunca se afastou dos palcos, mantendo o compromisso de levar a arte regional ao público.
Sua vida foi dedicada à valorização da cultura gaúcha. Chagas Leite enxergava no nativismo mais que um gênero musical: via nele uma expressão de pertencimento e identidade. Em entrevistas, costumava afirmar que cantar sobre o pampa era sua forma de preservar as tradições do Rio Grande do Sul e de retribuir o que a terra lhe ensinara.
Ao longo da carreira, o músico lançou diversos discos e participou de gravações coletivas com outros nomes consagrados do gênero. Seu trabalho influenciou artistas das novas gerações, que encontram em sua obra um exemplo de autenticidade e amor à cultura regional. A sensibilidade de suas composições, sempre voltadas à simplicidade e à beleza da vida campeira, consolidou sua posição entre os grandes ícones da música do sul.
Nos últimos anos, João Chagas Leite dedicava-se também a apresentações mais intimistas, palestras e participações em eventos culturais. Mesmo durante o tratamento de saúde, manteve contato com o público e demonstrava gratidão pelo carinho recebido de fãs e colegas de profissão. Seu nome é constantemente lembrado em festivais e homenagens promovidas por entidades tradicionalistas.
A morte do artista provocou grande comoção no meio cultural. Associações, grupos musicais e prefeituras do estado emitiram notas de pesar, reconhecendo sua importância para o fortalecimento da música regional. Em Uruguaiana, sua cidade natal, foi decretado luto oficial de três dias. Em Erechim, artistas locais se mobilizam para promover uma homenagem póstuma que celebrará sua trajetória.
João Chagas Leite deixa uma herança que ultrapassa fronteiras. Sua arte permanece viva nas rádios, nas rodas de mate e nas vozes daqueles que, inspirados por ele, continuam cantando a terra, o vento e o tempo do Rio Grande. Sua partida representa o fim de um ciclo, mas sua influência seguirá presente na cultura do sul e no coração de quem aprendeu com suas canções a respeitar a simplicidade e o orgulho de ser gaúcho.
Mais do que um cantor, ele foi um contador da alma do pampa, transformando vivências em versos e melodias que resistem ao tempo. João Chagas Leite se despede, mas o som de sua voz continuará ecoando nos galpões, nos festivais e nas memórias de quem reconhece na sua obra o verdadeiro espírito do Rio Grande.

Foto: Reprodução/ Intagram (@joaochagasleiteoficial)
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