Itaipu Binacional: Pioneiros revelam curiosidades sobre a maior obra de engenharia da história do Brasil

A grandiosidade da Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional começa muito antes das escavações e do concreto. Foi a partir de uma série de acordos históricos e de uma visão compartilhada que Brasil e Paraguai deram início ao maior projeto de cooperação internacional da América do Sul.

Localizada no Rio Paraná, na fronteira entre os dois países, Itaipu não é apenas uma barragem monumental: é símbolo de entendimento, desenvolvimento e respeito mútuo. A criação da Itaipu Binacional em 1974 solidificou esse compromisso, oficializando a união que permitiria à região aproveitar o potencial hidrelétrico colossal do Rio Paraná.

A gênese dessa obra começou com a assinatura da Ata do Iguaçu em 1966, um marco que sinalizava a intenção de explorar as riquezas naturais de forma conjunta. Já o Tratado de Itaipu, celebrado em 1973, trouxe as diretrizes que definiriam a parceria: a energia produzida seria repartida igualmente entre Brasil e Paraguai, refletindo a natureza binacional do empreendimento. A fundação da Itaipu Binacional foi oficializada em 17 de maio de 1974, data em que os conselhos e diretores foram empossados, selando a aliança histórica.

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Primeiros passos e a mobilização de recursos

O ano de 1975 marcou o pontapé inicial das obras, após o aval governamental para o início dos trabalhos. A complexidade do projeto exigiu a união de consórcios de engenharia dos dois países, sendo a Andrade Gutierrez uma das líderes desse esforço colossal. Foram necessários milhares de trabalhadores e uma logística impressionante para dar vida ao maior gerador de energia limpa do planeta. A meta era clara: construir uma estrutura que pudesse dominar as águas do Rio Paraná, mas sem esquecer o impacto que isso teria nas populações ribeirinhas e na natureza exuberante da região.

A operação de desvio do Rio Paraná foi um dos momentos mais desafiadores. Um canal provisório foi aberto para permitir a continuidade das escavações e a construção da barragem principal. Essa etapa, que envolveu escavações em rochas e remoção de volumes inimagináveis de terra, foi um espetáculo de engenharia e coragem. Quando concluída, permitiu que a barragem começasse a ganhar forma, com milhões de metros cúbicos de concreto moldando a estrutura que hoje é referência mundial.

Formação do reservatório e impacto ambiental

Em outubro de 1982, o desvio do Rio Paraná foi fechado, criando um imenso reservatório que alterou para sempre a paisagem e a vida local. O enchimento do reservatório teve consequências diretas para as comunidades ribeirinhas e para o meio ambiente. Operações como a Mymba Kuera, que salvou mais de 36 mil animais ameaçados pela inundação, demonstram a preocupação ambiental que já despontava na época.

Contudo, a magnitude da obra teve seu preço. Enquanto o reservatório se formava, moradores de Foz do Iguaçu viam o rio esvaziar, e as Sete Quedas de Guaíra desapareciam sob as águas, deixando um vazio simbólico na memória de quem testemunhou essas mudanças. O alagamento, inevitável para a geração de energia, deixou marcas profundas na cultura e no cotidiano das comunidades, que precisaram reinventar suas vidas às margens de um novo lago.

Início da geração de energia e o poder da cooperação

A partir de 1984, o Brasil e o Paraguai testemunharam o início da operação de Itaipu. A primeira unidade geradora entrou em funcionamento em maio daquele ano, resultado de um esforço coordenado e de um espírito de colaboração ímpar. As peças principais, como as gigantescas rodas das turbinas importadas, enfrentaram jornadas épicas até o canteiro de obras, consolidando a ideia de que Itaipu era um projeto global, construído com as mãos de muitos.

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Com o passar dos anos, a produção de energia só fez crescer. De um modesto início em 1984 com apenas duas unidades instaladas, a usina chegou a contar com 20 unidades em operação, gerando números impressionantes. Em 2004, completando duas décadas de atividade, Itaipu já havia produzido energia suficiente para abastecer o mundo durante mais de um mês. É o retrato de um sucesso que combina planejamento, tecnologia e uma força de trabalho movida pela confiança de que cada gota de suor valeria a pena.

Impactos econômicos e o papel da Itaipu Binacional

A construção de Itaipu Binacional não apenas consolidou a infraestrutura elétrica dos dois países, mas também criou uma nova dinâmica econômica. Os royalties pagos pela usina são direcionados a investimentos em infraestrutura, saúde e educação, transformando positivamente as comunidades que antes dependiam apenas da agricultura e da pesca. Com a eletricidade gerada a preços competitivos, indústrias puderam florescer e a vida das pessoas mudou para melhor.

Itaipu é um exemplo vivo de como grandes obras podem ser alavancas para o crescimento sustentável. Ela fornece energia limpa, e sua operação evita a emissão de milhões de toneladas de CO2 a cada ano, mostrando que desenvolvimento e responsabilidade ambiental podem andar de mãos dadas. O modelo binacional, em que Brasil e Paraguai compartilham igualmente a propriedade e a gestão da usina, é frequentemente citado como um caso de sucesso internacional em diplomacia e negócios.

O legado dos “Barrageiros”

Entre os grandes protagonistas dessa epopeia estão os “barrageiros”. Homens como Antonio e João, que trabalharam duro durante a construção e continuam a contar suas histórias aos turistas que visitam Itaipu. Eles lembram de um tempo em que a região era apenas mato e pedras, e de como a disciplina e a organização eram levadas a sério: nada de descuidos que pudessem comprometer a integridade da barragem. Trabalhar na obra era, ao mesmo tempo, oportunidade e orgulho.

Esses pioneiros relatam não só a força de trabalho que ergueu Itaipu, mas também os pequenos negócios que surgiram paralelamente para atender essa multidão de operários: bares, mercearias e até agiotas que surgiram de olho no dinheiro que corria solto. Essa movimentação econômica ajudou a moldar a cidade de Foz do Iguaçu como a conhecemos hoje, transformando-a em polo turístico e cultural que recebe visitantes do mundo inteiro.

Crescimento da produção

Desde então, a usina hidrelétrica de Itaipu, empreendimento binacional compartilhado por Brasil e Paraguai, já gerou mais de 3 bilhões de megawatts-hora (MWh). A produção anual de energia aumentou significativamente ao longo dos anos, conforme mostrado na tabela abaixo:

Produção Anual da Usina de Itaipu

Produção Anual da Usina de Itaipu (1984 – 2024)

Ano Unidades Instaladas GWh Produzidos
198422.277
19852-36.327
19863-621.853
19876-935.807
19889-1238.508
198912-1547.230
199015-1653.090
199116-1857.517
19921852.268
19931859.997
19941869.394
19951877.212
19961881.654
19971889.237
19981887.845
19991890.001
20001893.428
20011879.307
20021882.914
20031889.151
20041889.911
20051887.971
20061889.500
20071892.100
20081894.400
20091891.500
20101891.900
20111898.300
20121898.000
20131898.600
20141887.800
20151889.500
201618103.100
20171898.000
20181896.500
20191895.200
20201896.000
20211892.300
20221889.400
20231891.700
20241895.000
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Em 2004, quando completou 20 anos de atividade, a usina já havia gerado energia suficiente para abastecer o mundo durante 36 dias.

A Itaipu Binacional e a geração de energia limpa

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Ao longo dos anos, a Itaipu Binacional consolidou seu papel como uma das maiores geradoras de energia limpa e renovável do mundo. Produzindo mais de 3 bilhões de megawatts-hora desde o início de suas operações, a usina evita a emissão de toneladas de gases poluentes, contribuindo para as metas globais de sustentabilidade e para o bem-estar de milhões de pessoas.

A preocupação ambiental vai além da produção de energia: Itaipu exige que todos os seus fornecedores adotem práticas sustentáveis, integrando a consciência ecológica em toda a cadeia de produção. A relação com as comunidades locais também é prioridade, com investimentos em programas sociais e culturais que reforçam o vínculo entre a usina e a população.

Inovação e avanços tecnológicos

O sucesso de Itaipu não seria possível sem a constante modernização de suas estruturas e sistemas. Desde o início da operação, a usina passou por várias fases de ampliação e modernização, incorporando tecnologias de ponta para garantir eficiência e segurança. As unidades geradoras, as comportas e os sistemas de controle foram continuamente aprimorados, refletindo o compromisso com a excelência.

Atualmente, Itaipu é referência em inovação e serve de exemplo para novos projetos hidrelétricos ao redor do globo. Com o foco em eficiência energética, a usina permanece na vanguarda, adaptando-se às demandas do século XXI e mantendo seu legado como líder global em energia limpa.

O futuro da cooperação internacional

A história de Itaipu Binacional não termina com a conclusão das obras ou o início da operação. Ela segue viva, como um símbolo de que a diplomacia e o diálogo são ferramentas poderosas para alcançar objetivos ambiciosos. O modelo de gestão binacional provou que é possível encontrar equilíbrio, mesmo em temas tão complexos quanto a partilha de recursos naturais e a gestão de grandes empreendimentos.

Para Brasil e Paraguai, Itaipu não é apenas uma usina: é um marco de identidade compartilhada, de prosperidade e de esperança. Um legado que continuará iluminando casas, alimentando fábricas e inspirando o mundo com a força da união e do compromisso com um futuro sustentável.

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O Jornal da Fronteira conversou com dois aposentados que trabalharam na época da construção de Itaipu. Dos mais de 120 trabalhadores que passaram nos anos de construção da obra, sete deles trabalham hoje para a Itaipu Binacional, contando histórias das obras aos turistas.

Eles são chamados de “barrageiros” (homens que trabalharam na construção da barragem). Antonio e João, como já citamos acima, chegaram muito jovens, um com 20 e outro com 25 anos, movidos pela vontade de ganhar de dinheiro.

“Na época, trabalhar na construção da Usina de Itaipu era uma oportunidade para pessoas como nós, homens jovens oriundos de cidades carentes de trabalho, pois aqui ganhava-se muito bem. Muita gente veio de outros estados, assim como nós. Trabalhamos aqui durante mais de 15 anos, na construção da obra, casamos, estabelecemos família e se fixamos aqui, onde permanecemos até hoje”, contaram eles.

João acrescentou apesar do grande número de trabalhadores, cerca de 40 mil atuando simultaneamente, a organização era extraordinária. Segundo ele, eram várias construtoras, cada uma encarregada de uma parte da obra.

“Cada pessoa tinha uma missão, para uma obra monumental, uma força de trabalho com 40 mil pessoas, alinhadas com o mesmo pensamento, produz um efeito igualmente impressionante. Se acontecesse de alguém jogar uma bituca de cigarro no concreto, o serviço era interrompido, até que isso fosse retirado, para não provocar um ponto de fraqueza na barragem, em um futuro distante. O concreto que ia para a barragem tinha que ser puro, misturado com o gelo, para se transformar em uma verdadeira pedra, realmente sólido”, relatou ele.

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Os pioneiros de Itaipu contaram ainda como era a vida dos barrageiros, durante as obras.

“Não era fácil, pois quando começamos estávamos no meio do nada, era só mato e um rio. Começamos a trabalhar no desvio do rio, e isso levou três anos, escavando nas pedras. Era uma vida de muito trabalho, e o trabalho, por maior que fosse, era muito organizado. Todos ganhavam muito bem, então a gente se superava”, relataram os pioneiros.

Os antigos barrageiros acrescentaram ainda que na época das obras muitos outros negócios paralelos foram surgindo na região.

“A concentração de milhares de homens nas obras, trouxe também muitos bares por aqui. Com isso, apesar de muitos ganharem bem, gastavam quase tudo depois nos bares e outras diversões. Naquela época, também, apareceram por aqui alguns para emprestar dinheiro aos trabalhares. Engraçado observar que a nobre construção de Itaipu, naquela época, desencadeou o surgimento de inúmeros outros negócios paralelos, não tão nobre quanto”, relataram.

A construção da Usina de Itaipu Binacional é um marco histórico e um exemplo de cooperação internacional entre Brasil e Paraguai. Desde a assinatura da Ata do Iguaçu em 1966 até a inauguração da usina em 1984, o projeto envolveu um esforço monumental de engenharia e a colaboração de milhares de trabalhadores de ambos os países.

10 maiores obras da engenharia já construídas no Brasil

Conheça agora obras colossais, obras-primas da engenharia, com magnitude, impacto e complexidade:

1️⃣ Usina Hidrelétrica de Itaipu
Localizada na fronteira com o Paraguai, é a segunda maior usina hidrelétrica do mundo em geração de energia.

2️⃣ Ponte Rio-Niterói (Ponte Presidente Costa e Silva)
Com 13,29 km de extensão, foi a maior ponte do hemisfério sul por muito tempo, ligando Rio de Janeiro a Niterói.

3️⃣ Rodovia Transamazônica (BR-230)
Uma das maiores estradas do país, atravessa a Amazônia com quase 4.000 km de extensão, embora muitos trechos ainda sejam de terra.

4️⃣ Usina Hidrelétrica de Belo Monte
Segunda maior do Brasil, construída no rio Xingu, no Pará, com capacidade instalada de 11.233 MW.

5️⃣ Usina Hidrelétrica de Tucuruí
Localizada no Pará, foi a primeira grande hidrelétrica brasileira construída na região amazônica.

6️⃣ Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira
Um marco moderno na engenharia de pontes, localizada em São Paulo, com vão estaiado em forma de “X”.

7️⃣ Metrô de São Paulo
Maior e mais complexo sistema de transporte metroviário do Brasil, com dezenas de estações e expansão constante.

8️⃣ Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos (GRU)
Maior aeroporto do Brasil em movimento de passageiros e cargas, com sucessivas ampliações e modernizações.

9️⃣ Usina Hidrelétrica de Jirau
Localizada no rio Madeira, em Rondônia, destaca-se pela complexidade ambiental e logística da obra.

🔟 Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ)
Um dos maiores investimentos industriais do país, projeto monumental para a produção e refino de petróleo.