Em tempos de inflação, consumidores brasileiros diminuem compras de itens essenciais

Nos primeiros dias de 2025, com a inflação, os brasileiros já começaram a dar sinais claros de que o bolso apertado está mexendo com seus hábitos de consumo. Um levantamento da Varejo 360, feito entre os primeiros 21 dias de janeiro, revela que o cenário inflacionário está impactando diretamente as compras de itens essenciais, como leite, café e produtos de higiene.

A pesquisa apontou que a média de unidades de leite UHT compradas por cliente caiu 4,5% em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto o consumo de café torrado e moído também teve um recuo de 2,5%. Esse movimento de redução de consumo em produtos básicos está se tornando cada vez mais comum, à medida que o consumidor tenta se adaptar a uma inflação persistente.

No campo das indulgências, a mudança é ainda mais notável. Chocolates e biscoitos, conhecidos como “mimos” para muitos, registraram quedas de mais de 5% e 3,7%, respectivamente. Até produtos como leite condensado e creme de leite, itens que também fazem parte da cesta de produtos que podem ser considerados supérfluos, apresentaram uma redução nas vendas.

O que chama a atenção, porém, é o comportamento em relação aos itens de higiene e limpeza, que, apesar de não sofrerem aumentos significativos de preço, também viram a quantidade comprada por cliente cair, como aconteceu com sabão em barra e desodorantes.

Fernando Faro, diretor da Varejo 360, explicou que isso reflete uma escolha clara do consumidor em priorizar o que é mais urgente, ou seja, a alimentação. “As pessoas estão tendo que fazer escolhas e estão priorizando a alimentação. Para garantir a xícara do café, que está muito caro, elas estão abrindo mão de outras coisas”, disse Faro, destacando que esse fenômeno é mais evidente entre as classes médias e baixas.

Outro reflexo da inflação é a troca de marcas, com consumidores migrando das tradicionais marcas aspiracionais para as mais baratas, como as marcas próprias de grandes varejistas. Antônio Sá, sócio da Amicci, apontou que, apenas em janeiro, os itens de marcas próprias cresceram 20% em relação ao mesmo mês de 2024, refletindo a busca por alternativas mais acessíveis.

Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, também notou uma adaptação gradual do consumidor, com o fracionamento das compras e o adiamento da aquisição de itens menos essenciais. “Ele pode levar um café melhor para servir no domingo e outro para o dia a dia”, explicou Meirelles, destacando que essa nova forma de consumo vai se consolidando com o tempo.

O impacto da inflação também pode ser sentido em bens duráveis. Em 2025, as grandes redes de varejo já notam uma redução nas vendas de produtos como TVs e eletrodomésticos. José Rafael Vasquez, CEO do Sam’s Club e Carrefour Varejo, afirmou que, desde o ano passado, houve uma mudança no perfil de consumo, com os consumidores priorizando itens essenciais e produtos de menor custo.