No coração da África Austral, as ruínas de Grande Zimbabwe contam a história de uma civilização avançada que, em seu auge, foi a primeira grande cidade da região. Entre os séculos 11 e 15, Grande Zimbabwe não era apenas um centro político e comercial vibrante, abrigando cerca de 18 mil pessoas, mas também um exemplo de inovação e sustentabilidade. Recentemente, pesquisadores desenterraram evidências de um sistema de armazenamento de água incrivelmente avançado, que desafia as teorias anteriores sobre o declínio da cidade.
Um estudo colaborativo internacional revelou a existência de um sofisticado sistema de captação e armazenamento de água, centrado em torno de estruturas conhecidas como “dhakas”. Esses poços, estrategicamente posicionados ao redor e dentro da cidade, eram essenciais para a coleta de água da chuva e para represar partes de rios, garantindo assim o abastecimento de água para consumo e agricultura durante todo o ano, inclusive em períodos de seca.
As pesquisas, utilizando varredura aerotransportada e investigações de campo, indicam que os dhakas poderiam armazenar até 18 milhões de litros de água. Esse sistema não só destaca a engenhosidade dos habitantes de Grande Zimbabwe mas também oferece lições valiosas sobre gestão de recursos hídricos e sustentabilidade. As plantas encontradas ao redor dos dhakas, típicas de solos úmidos, corroboram a função dessas estruturas como reservatórios de água.
Contrariando a crença de que secas e climas áridos contribuíram para o abandono da cidade, o estudo sugere que a população de Grande Zimbabwe estava bem equipada para lidar com tais desafios. O sistema de dhakas evidencia uma sociedade que não apenas compreendia a importância da água mas que também possuía o conhecimento técnico para gerenciá-la de forma eficaz.
Ainda assim, o mistério do declínio de Grande Zimbabwe persiste. Durante seu apogeu, o mundo experimentou a Anomalia Climática Medieval, seguida por uma pequena Era do Gelo, eventos que poderiam ter impactado a cidade. No entanto, as mudanças climáticas, por si só, parecem insuficientes para explicar o colapso. Crises econômicas e políticas também podem ter desempenhado um papel crucial, levando ao eventual abandono da metrópole.
As descobertas em Grande Zimbabwe não apenas iluminam o passado mas também oferecem inspiração para o presente e o futuro. Ao revelar o avançado sistema de gestão hídrica da cidade, os pesquisadores nos lembram da resiliência e inovação dos nossos antepassados. Grande Zimbabwe permanece como um testemunho da capacidade humana de adaptar-se e prosperar, mesmo diante de adversidades ambientais e climáticas. À medida que continuamos a desvendar os segredos de sua história, podemos aprender lições valiosas sobre sustentabilidade, gestão de recursos e a complexidade das sociedades humanas.