Há algo de profundamente cativante em passar a noite em um hotel que viu gerações, guerras, revoluções e transformações culturais — mas que segue, firme e elegante, recebendo hóspedes até hoje. Em meio a um mundo de hotéis boutique minimalistas, estruturas inteligentes e quartos automatizados, alguns hotéis antigos continuam sendo ícones vivos da hospitalidade, preservando suas colunas de mármore, móveis centenários, salões dourados e histórias que ultrapassam a ficção.
Neste artigo, convidamos você a embarcar em uma jornada por cinco hotéis históricos que sobreviveram às tormentas do tempo. Mais do que acomodações, são testemunhos da história viva — lugares que hospedaram reis e revolucionários, serviram banquetes a artistas e políticos, e guardam lendas em corredores que rangem à meia-noite. De Viena ao Japão, passando por Londres e Rio de Janeiro, cada um desses hotéis é um capítulo do mundo que segue sendo escrito… com serviço de quarto e vista para o passado.
1. Hotel Nacional (Rio de Janeiro, Brasil)
Inaugurado em 1972, mas com raízes nos anos 1940 e projeto do mestre Oscar Niemeyer, o Hotel Nacional é um ícone do modernismo brasileiro que passou décadas fechado e abandonado antes de sua revitalização. A aura de glamour da década de 70 ainda paira sobre o hall imenso e os salões circulares. Durante os anos dourados, recebeu figuras como Liza Minnelli, B.B. King e Jane Fonda.
Sua reabertura em 2016 devolveu ao Rio de Janeiro um de seus símbolos arquitetônicos e turísticos. Localizado em São Conrado, de frente para o mar, o Nacional mantém seus traços originais, inclusive a arte de Carybé e o paisagismo de Burle Marx. Mais do que se hospedar, é possível sentir-se parte da história da cultura e da arquitetura nacional.
2. Raffles Hotel (Singapura)
Aberto em 1887, o Raffles é um dos mais lendários hotéis da Ásia. Nomeado em homenagem a Sir Stamford Raffles, fundador colonial de Singapura, o hotel se tornou sinônimo de luxo e sofisticação desde sua origem. Ele sobreviveu à ocupação japonesa na Segunda Guerra Mundial, a reformas intensas e à transformação urbana acelerada de Singapura — mas nunca perdeu o charme colonial britânico que o tornou célebre.
O Raffles é considerado o berço do famoso coquetel Singapore Sling, criado no seu Long Bar em 1915. Pelas suas suítes passaram personalidades como Rudyard Kipling, Elizabeth Taylor, Michael Jackson e até Charlie Chaplin. Seu estilo vitoriano, com pátios internos e mobiliário ricamente esculpido, faz do hotel um verdadeiro mergulho na elegância de outra época.
3. Hotel del Coronado (Califórnia, EUA)
Construído em 1888 na ensolarada San Diego, o Hotel del Coronado é um dos maiores resorts à beira-mar dos Estados Unidos e talvez o mais cinematográfico de todos. É impossível não reconhecer sua silhueta vitoriana com telhado vermelho — cenário de inúmeros filmes, sendo o mais famoso “Quanto Mais Quente Melhor” (1959), com Marilyn Monroe.
Apesar de ter passado por várias expansões e modernizações, a estrutura principal preserva detalhes originais, como escadarias entalhadas à mão, lustres de bronze e elevadores operados manualmente. O hotel é repleto de lendas, incluindo aparições fantasmagóricas atribuídas à hóspede Kate Morgan, encontrada morta em 1892. Clássico e excêntrico na medida certa, ainda atrai celebridades e curiosos com seu ar de romance vintage.
4. Imperial Hotel (Tóquio, Japão)
Poucos hotéis representam tão bem a fusão entre tradição e modernidade quanto o Imperial Hotel de Tóquio. Fundado em 1890 por ordem do governo japonês para receber dignitários estrangeiros, o Imperial foi reconstruído em 1923 com projeto de ninguém menos que Frank Lloyd Wright, o mais icônico arquiteto norte-americano do século XX.
A obra de Wright resistiu milagrosamente ao Grande Terremoto de Kanto, no mesmo dia da inauguração, tornando-se símbolo de engenharia avançada. Infelizmente, o prédio original foi demolido nos anos 1960, mas muitos elementos foram preservados e integrados ao novo edifício. Mesmo modernizado, o Imperial carrega em seus salões a memória do Japão imperial, das negociações diplomáticas cruciais e da beleza das tradições nipônicas traduzidas em luxo silencioso.
5. Hotel Sacher (Viena, Áustria)
Fundado em 1876, o Hotel Sacher é quase um patrimônio nacional austríaco. Localizado ao lado da Ópera Estatal de Viena, é sinônimo de tradição europeia, requinte e, claro, da famosíssima Sachertorte — o bolo de chocolate criado na casa e protegido por uma receita secreta. O hotel não é apenas um marco turístico: é uma joia viva da Belle Époque que sobreviveu ao fim dos impérios, duas guerras mundiais e à passagem do tempo com altivez vienense.
Entre seus hóspedes célebres, figuram John F. Kennedy, Indira Gandhi, Leonard Bernstein e a própria Rainha Elizabeth II. Os quartos ostentam mobiliário clássico, tapeçarias originais e um serviço que parece saído de um outro século, com ares de cerimônia e sofisticação que hoje são raros.
A História Ainda Está Acontecendo, Quarto Por Quarto
Estes cinco hotéis não são apenas locais para dormir — são páginas vivas de um livro que se recusa a ser fechado. Cada recepção, corredor e suíte carrega o peso de decisões, paixões, conspirações e descobertas que moldaram a história moderna. E o mais curioso: continuam recebendo hóspedes normalmente, como se o tempo ali tivesse aprendido a andar mais devagar.
Estar nesses hotéis é mais do que turismo. É vivenciar o passado em tempo real, cruzar portas por onde reis e artistas passaram, e deixar que cada detalhe — da cortina ao carpete — conte uma parte de uma história que não cabe nos livros. Eles provam que, quando se trata de tradição e memória, a verdadeira inovação pode ser manter-se exatamente como sempre foi.
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Formada em técnico em administração, Nicolle Prado de Camargo Leão Correia é especialista na produção de conteúdo relacionado a assuntos variados, curiosidades, gastronomia, natureza e qualidade de vida.