mulheres

Elas lutaram, o Brasil mudou: Histórias de luta feminina que viraram leis

Entre em nosso grupo de notícias no WhatsApp

A história brasileira é marcada por batalhas travadas em silêncio — muitas delas por mulheres que se recusaram a aceitar a injustiça como destino. Por trás de cada direito conquistado, há nomes e rostos que enfrentaram violência, preconceito e invisibilidade para abrir caminhos que antes pareciam impossíveis. Suas histórias não apenas ecoam, mas se tornaram marcos legais, leis que hoje moldam a vida de milhões de brasileiras.

Da ousadia das sufragistas que lutaram pelo voto feminino à persistência de Maria da Penha na busca por justiça, passando pela criação da Lei do Feminicídio e outras legislações inspiradas por histórias reais, o fio condutor é um só: coragem. Cada lei carrega a marca de uma mulher que se recusou a ser silenciada. E o mais impressionante é perceber como essas vozes individuais conseguiram transformar um país inteiro.

Neste artigo, você vai conhecer as histórias de luta feminina que viraram leis no Brasil, entender os contextos por trás delas e descobrir como essas conquistas continuam a moldar nossa sociedade — mesmo diante dos desafios que ainda persistem.

O direito de existir na política

Na década de 1920, o Brasil ainda via o espaço político como um território masculino. Foi nesse cenário que surgiu Bertha Lutz, bióloga, cientista e filha do renomado Adolfo Lutz, que decidiu desafiar a exclusão feminina da vida pública. Educada na França, onde testemunhou o avanço do movimento sufragista europeu, Bertha trouxe para o Brasil um espírito de revolução.

Em 1922, fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) e começou uma campanha nacional pelo direito das mulheres ao voto. Organizou marchas, debates e petições, enfrentando políticos que afirmavam que “mulher não entendia de política”. O preconceito era tamanho que alguns jornais ironizavam o movimento, chamando as sufragistas de “desocupadas de luxo”.

A conquista que mudou o jogo

Depois de anos de mobilização, o Decreto nº 21.076, assinado em 1932 por Getúlio Vargas, finalmente garantiu o voto às mulheres brasileiras. No entanto, foi apenas em 1934 que o direito se consolidou na Constituição. A primeira mulher eleita para a Câmara dos Deputados, Carlota Pereira de Queirós, tomou posse em 1935 — um marco histórico.

Hoje, quase 100 anos depois, as mulheres representam mais de 53% do eleitorado brasileiro, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. O caminho aberto por Bertha e suas companheiras transformou não só a política, mas a própria noção de cidadania feminina.

Curiosidade

Em 2022, a Câmara dos Deputados inaugurou a “Sala Bertha Lutz”, uma homenagem à mulher que abriu as portas do Parlamento para todas as brasileiras.

Quando a dor virou lei

Maria da Penha Maia Fernandes era farmacêutica, mãe de três filhas e vivia um casamento aparentemente estável. Em 1983, foi vítima de duas tentativas de assassinato cometidas pelo marido: primeiro, ele atirou em suas costas enquanto ela dormia; depois, tentou eletrocutá-la durante o banho. As agressões a deixaram paraplégica. O crime foi denunciado, mas o agressor só foi preso 19 anos depois.

Cansada da impunidade, Maria da Penha levou o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que condenou o Brasil por negligência e omissão diante da violência doméstica. Foi a primeira condenação do país nesse tipo de caso, um marco internacional.

O nascimento da Lei 11.340/2006

A repercussão levou à criação da Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006. A lei passou a reconhecer que a violência contra a mulher não é “briga de casal”, mas uma violação dos direitos humanos. Ela criou medidas protetivas, endureceu penas e estabeleceu políticas públicas de prevenção e atendimento.

Desde então, milhares de mulheres foram salvas por meio dessas medidas. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que, a cada dois minutos, uma mulher solicita proteção com base na Lei Maria da Penha. Ainda assim, o desafio é contínuo: o número de casos de agressão doméstica segue alarmante.

Um símbolo de resistência

Maria da Penha transformou a dor em missão. Criou o Instituto Maria da Penha, que atua na conscientização e educação sobre violência de gênero. Em 2023, completou 40 anos desde o crime — e ela segue como uma das vozes mais ativas pela justiça feminina no Brasil.

O crime que tem nome

Mesmo com a Lei Maria da Penha, as mortes de mulheres por razão de gênero continuaram a crescer. Entre 2003 e 2013, os assassinatos de mulheres aumentaram 54%. O termo “feminicídio” passou a ser usado por movimentos feministas e estudiosos para descrever assassinatos motivados por ódio, desprezo ou sentimento de posse masculina.

Foi apenas em 2015, após forte pressão social, que o Brasil sancionou a Lei 13.104, incluindo o feminicídio no Código Penal como circunstância qualificadora do homicídio, com pena de 12 a 30 anos. O país, enfim, reconhecia que mulheres estavam sendo mortas por serem mulheres.

A lei em números

Desde a aprovação, os registros de feminicídio aumentaram — não necessariamente porque os crimes cresceram, mas porque passaram a ser reconhecidos e tipificados corretamente. Segundo o Anuário de Segurança Pública de 2024, 1.706 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2023 no Brasil, uma média de uma morte a cada cinco horas.

A luta que continua

Embora o reconhecimento legal tenha sido um avanço, especialistas alertam: a lei sozinha não basta. É preciso fortalecer políticas de proteção, ampliar abrigos, criar canais de denúncia acessíveis e promover a reeducação social. A raiz do problema está na cultura de machismo estrutural — e combatê-lo exige muito mais do que endurecer penas.

Conclusão

As leis que hoje protegem e empoderam as mulheres brasileiras nasceram de histórias reais, de dores transformadas em força e de vozes que se recusaram a ser caladas. O voto feminino, a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio não são apenas textos jurídicos — são memórias vivas de coragem. Elas lembram que, enquanto houver injustiça, haverá mulheres dispostas a lutar.

Para acompanhar mais reportagens sobre cidadania, direitos humanos e história, acesse o Jornal da Fronteira — onde a informação inspira, transforma e resiste.

Perguntas Frequentes (FAQs)

1. Quando as mulheres conquistaram o direito ao voto no Brasil?
O voto feminino foi conquistado em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, após décadas de luta liderada por Bertha Lutz.

2. O que motivou a criação da Lei Maria da Penha?
A lei nasceu da história real de Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de violência doméstica e tentativa de feminicídio, cujo caso gerou pressão internacional sobre o Brasil.

3. O que é considerado feminicídio?
É o assassinato de uma mulher motivado por ódio, desprezo ou sentimento de posse, tipificado como crime hediondo pela Lei 13.104/2015.

4. A Lei Maria da Penha realmente funciona?
Sim. Desde sua criação, milhões de mulheres obtiveram medidas protetivas e denúncias cresceram, indicando maior conscientização. Ainda assim, há desafios na aplicação.

5. Há outras leis inspiradas em lutas femininas?
Sim. Leis sobre licença-maternidade, igualdade salarial, parto humanizado e combate ao assédio também nasceram de mobilizações lideradas por mulheres.

Rolar para cima
Copyright © Todos os direitos reservados.