George Orwell além de 1984: os livros que revelam a origem de sua obsessão pelo poder

George Orwell além de 1984: os livros que revelam a origem de sua obsessão pelo poder

Entre em nosso grupo de notícias no WhatsApp

George Orwell é frequentemente lembrado como o autor de 1984, romance que se tornou sinônimo de vigilância, censura e controle estatal. No entanto, reduzir sua obra a esse único título é ignorar um percurso intelectual marcado por experiências concretas com o abuso de poder, a propaganda política e as desigualdades sociais. Antes de imaginar o Big Brother, Orwell viveu, observou e escreveu sobre sistemas de dominação reais, que moldaram sua visão crítica e deram consistência à sua literatura.

Com uma escrita direta, quase jornalística, Orwell construiu uma obra em que o poder não aparece como abstração, mas como prática cotidiana, exercida sobre corpos, ideias e linguagens. Seus livros menos populares ajudam a compreender por que o tema se tornou central em sua produção e como 1984 é, na verdade, o ponto final de uma longa reflexão.

A obsessão de Orwell pelo poder começa fora da literatura. Antes de se tornar escritor, ele atuou como policial imperial britânico na Birmânia, então colônia do Reino Unido. Essa vivência é fundamental para entender sua obra.

Em Dias na Birmânia, romance publicado em 1934, Orwell expõe a lógica moralmente corrosiva do imperialismo. O poder colonial aparece como um sistema que oprime tanto os dominados quanto os próprios agentes que o executam. A autoridade, nesse contexto, não se sustenta pela legitimidade, mas pelo medo, pela violência simbólica e pela manutenção artificial de hierarquias.

Esse contato direto com o autoritarismo institucional foi decisivo para que Orwell passasse a enxergar o poder como algo que desumaniza a todos os envolvidos.

George Orwell além de 1984: os livros que revelam a origem de sua obsessão pelo poder

A pobreza como instrumento de dominação

Outro eixo central da obra de Orwell é a relação entre poder e miséria. Em Na Pior em Paris e Londres, o autor abandona o conforto da classe média e se infiltra entre trabalhadores precarizados, mendigos e desempregados.

O livro revela como a pobreza não é apenas uma condição econômica, mas uma forma silenciosa de controle social. Ao mostrar rotinas exaustivas, humilhações constantes e a ausência de qualquer mobilidade, Orwell evidencia que o poder também se exerce pela exclusão, pela invisibilidade e pela normalização do sofrimento.

Essa percepção reaparece em 1984, onde a escassez permanente mantém a população ocupada demais para questionar o sistema.

George Orwell além de 1984: os livros que revelam a origem de sua obsessão pelo poder

A guerra e a manipulação da verdade

A relação entre poder e verdade ganha força na obra de Orwell após sua participação na Guerra Civil Espanhola. Em Lutando na Espanha, o autor relata não apenas os horrores do conflito, mas o impacto devastador da propaganda política.

Orwell observa como fatos são distorcidos, apagados ou reescritos conforme os interesses de partidos e regimes. Essa experiência foi essencial para a criação do conceito de “controle da narrativa”, que mais tarde se transformaria no Ministério da Verdade, em 1984.

Aqui, nasce uma das ideias mais duradouras do autor: quem controla a informação controla a realidade.

George Orwell além de 1984: os livros que revelam a origem de sua obsessão pelo poder

A Revolução dos Bichos

Antes de 1984, Orwell já havia sintetizado sua crítica ao autoritarismo em A Revolução dos Bichos. Embora frequentemente classificada como fábula, a obra é uma análise sofisticada dos mecanismos de concentração de poder.

O livro mostra como ideais de igualdade podem ser instrumentalizados por líderes que, aos poucos, reescrevem regras, manipulam a memória coletiva e consolidam privilégios. A famosa frase “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros” resume a percepção de Orwell sobre a corrupção inevitável do poder absoluto.

Essa obra funciona como uma ponte direta entre suas experiências históricas e o universo distópico que ele desenvolveria mais tarde.

George Orwell além de 1984: os livros que revelam a origem de sua obsessão pelo poder

Ensaios e jornalismo

Além dos romances, os ensaios de Orwell são fundamentais para compreender sua obsessão temática. Em textos como A Política e a Língua Inglesa, ele argumenta que a degradação da linguagem é uma ferramenta política.

Para Orwell, regimes autoritários dependem de palavras vagas, eufemismos e frases ocas para ocultar violência e injustiça. Essa reflexão se materializa em 1984 com o conceito de Novilíngua, criada justamente para limitar o pensamento crítico por meio da redução do vocabulário.

Sua produção ensaística revela que, para Orwell, o poder começa na linguagem antes de se manifestar na força.

Muito além de 1984

Ao observar o conjunto da obra de George Orwell, fica claro que 1984 não surgiu do nada. O romance é a culminação de anos de observação, experiências pessoais e reflexões políticas profundamente enraizadas na realidade do século XX.

Ler Orwell além de 1984 é compreender que sua obsessão com o poder não era teórica, mas vivida. Seus livros mostram que autoritarismo, manipulação e desigualdade não são fenômenos distantes ou exclusivos de regimes extremos, mas riscos permanentes das sociedades modernas.

Essa é, talvez, a razão pela qual Orwell continua atual: ele não escreveu apenas sobre o poder, mas sobre a fragilidade humana diante dele.

LEIA MAIS: 4 livros para quem ama mistério com humor

Rolar para cima
Copyright © Todos os direitos reservados.