A história dos gatos domésticos pode estar passando por uma reescrita significativa. Uma pesquisa recente conduzida por especialistas da Universidade de Roma Tor Vergata analisou amostras de DNA de 70 felinos que viveram entre o século IX a.C. e o século XIX d.C., em regiões da Europa, do Norte da África e da Anatólia. Os resultados indicam que os ancestrais dos gatos domésticos europeus podem ter chegado ao continente muito mais tarde do que se imaginava: há aproximadamente 2.000 anos.
Durante décadas, a teoria predominante afirmava que a domesticação dos gatos havia começado há cerca de 10.000 anos, no Levante, quando felinos selvagens passaram a conviver com agricultores, atraídos por roedores que infestavam depósitos de grãos. Partia-se do pressuposto de que esses gatos teriam acompanhado os agricultores neolíticos em suas migrações para a Europa, aproximadamente 6.000 anos atrás. A nova análise, no entanto, sugere um cenário diferente.
Gatos europeus com raízes africanas
Ao comparar o DNA de felinos antigos com o genoma de gatos domésticos e selvagens atuais, os pesquisadores identificaram uma relação genética mais forte entre os gatos domésticos modernos e o Felis lybica, espécie selvagem originária do Norte da África. Isso contradiz a ideia de que a domesticação europeia teria sido influenciada diretamente pelos gatos selvagens do Levante.
Além dessa descoberta, o estudo mostrou que os primeiros gatos domesticados encontrados na Europa tinham apenas 2.000 anos, indicando um processo de domesticação muito mais recente. Antes desse período, os gatos que habitavam a Europa e a Anatólia eram geneticamente equivalentes aos felinos selvagens daquela região, e não a animais domesticados.

A surpreendente história dos gatos na Sardenha
Outro ponto revelado pela pesquisa envolve os gatos da ilha da Sardenha. Durante muito tempo, acreditou-se que esses felinos fossem descendentes de populações domésticas locais. A análise genética, porém, demonstrou que eles têm maior proximidade com gatos selvagens do Norte da África. A hipótese agora é que populações humanas tenham levado felinos africanos para a ilha há cerca de 2.200 anos, e não que a domesticação tenha ocorrido ali.
Embora o estudo tenha derrubado teorias antigas, ele não encerra o debate. Pesquisadores afirmam que ainda não é possível determinar com precisão quando ocorreu a domesticação definitiva dos gatos. Para isso, novas análises estão em andamento. A equipe pretende examinar amostras da África, incluindo múmias egípcias do período faraônico, onde os gatos eram reverenciados e representados como divindades protetoras, o que pode oferecer indícios importantes para a compreensão desse processo.
A ciência, portanto, continua desvendando não apenas a história de um animal que se tornou símbolo de independência e mistério, mas também os caminhos que moldaram sua relação com os seres humanos. Cada nova descoberta reforça a ideia de que os gatos não apenas acompanharam civilizações antigas, como também atravessaram mares, fronteiras e culturas até ocupar o lugar que têm hoje: o de companheiros inseparáveis, respeitados e admirados em todos os continentes.
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