Fungos letais da tumba de Tutancâmon: Uma nova arma contra a Leucemia?

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Por trás de uma das espécies mais perigosas da natureza pode estar uma chave promissora para o combate à leucemia. O Aspergillus flavus, conhecido por sua capacidade de contaminar plantações, provocar infecções pulmonares severas e estar presente em escavações arqueológicas ligadas a mortes misteriosas, acaba de ganhar um novo papel: o de potencial aliado no desenvolvimento de terapias anticancerígenas.

Engenheiros da Universidade da Pensilvânia isolaram uma nova classe de moléculas produzidas por esse fungo e testaram suas propriedades contra células de leucemia, com resultados tão eficazes quanto os obtidos por medicamentos consagrados pela FDA, agência americana equivalente à Anvisa.

A virada de jogo se deu quando os pesquisadores modificaram geneticamente os peptídeos do fungo — pequenas moléculas envolvidas na formação de proteínas —, selecionando genes específicos e otimizando os compostos para torná-los terapeuticamente ativos.

O processo envolveu a identificação, por meio de marcadores químicos, dos genes responsáveis por produzir esses peptídeos com alta bioatividade. O diferencial está justamente na complexidade da estrutura molecular: anéis interligados que tornam a ação do composto mais precisa e potente na eliminação de células cancerígenas.

A ideia de transformar um agente tóxico em um tratamento eficaz não é nova na ciência, mas o potencial demonstrado pelos peptídeos do A. flavus impressionou até os próprios pesquisadores. Em experimentos laboratoriais, os compostos não apenas suprimiram as células leucêmicas, mas também demonstraram efeitos equivalentes aos de medicamentos como citarabina e daunorrubicina — amplamente utilizados na oncologia. Um segundo teste incorporou lipídios aos peptídeos, o que aumentou significativamente sua capacidade de penetrar nas células cancerosas e agir de forma seletiva.

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Segundo a pesquisadora Qiuyue Nie, responsável pela investigação no Departamento de Engenharia Química e Biomolecular da Universidade da Pensilvânia, o acréscimo dos lipídios influenciou diretamente na expressão de um gene essencial para transportar os compostos ao interior das células doentes, otimizando o tratamento.

Essa descoberta resgata até um dos episódios mais enigmáticos da arqueologia: as mortes relacionadas à abertura da tumba de Tutancâmon, nos anos 1920. Muitas teorias circularam sobre uma “maldição do faraó”, mas cientistas levantaram a hipótese de que esporos de A. flavus, adormecidos no sarcófago, tenham sido reativados, contaminando os exploradores.

Um século depois, o mesmo fungo associado à tragédia agora revela um inesperado potencial terapêutico, deixando claro como a ciência pode ressignificar até mesmo os agentes mais perigosos do planeta.

O próximo passo da pesquisa envolve testes em animais, com o objetivo de analisar como os compostos se comportam em organismos vivos e como poderiam ser aplicados em tratamentos humanos. A expectativa é que, após comprovar segurança e eficácia, os ensaios clí­nicos avancem para fases mais amplas, transformando essa ameaça microscópica em uma nova arma contra um dos tipos mais agressivos de câncer sanguíneo.

• Cientistas modificaram geneticamente compostos do fungo Aspergillus flavus e obtiveram ação anticancerígena potente
• Peptídeos testados mostraram eficácia comparável a medicamentos aprovados contra leucemia
• Estruturas moleculares com anéis interligados foram responsáveis pela elevada bioatividade
• A adição de lipídios aumentou a penetração dos compostos nas células cancerosas
• Estudo pode levar a novos tratamentos após testes em animais e humanos