Há livros que atravessam o tempo não apenas por suas histórias, mas pelas frases que saltam das páginas e se tornam parte da cultura universal. Alice no País das Maravilhas, escrito por Lewis Carroll em 1865, é um desses raros casos. A obra é um convite ao inesperado, à lógica subvertida e ao questionamento das regras que regem o mundo.
Seja em diálogos aparentemente sem sentido ou em reflexões que parecem simples, Carroll construiu um texto repleto de simbolismos. Uma das frases mais famosas do livro é dita pelo Gato de Cheshire: “Nós estamos todos loucos aqui.” À primeira vista, é uma declaração engraçada; mas ao olhar mais fundo, trata-se de uma crítica à normalidade. Quem define o que é loucura? Carroll sugere que a vida é feita de absurdos e que, em certo grau, todos partilhamos da mesma estranheza.
Outra frase inesquecível surge do Chapeleiro Maluco: “Por que você sempre está atrasada para o chá?”. O chá eterno representa uma metáfora do tempo suspenso, do ciclo repetitivo da vida e, de certa forma, da própria ansiedade humana em relação ao relógio. Carroll brinca com a noção de tempo, transformando-o em personagem e lembrando-nos de que, muitas vezes, somos prisioneiros das horas.
Alice diante do espelho de si mesma
Uma das questões centrais da obra é a identidade. Quando Alice pergunta a si mesma: “Quem sou eu, afinal?”, ela não expressa apenas a confusão de uma menina em um mundo fantástico, mas também a busca universal de todos nós em compreender nossa essência. Essa frase, aparentemente ingênua, dialoga diretamente com a filosofia e a psicologia: afinal, não é raro que, em algum momento da vida, nos sintamos como Alice, perdidos entre o que fomos e o que queremos ser.
Carroll também reflete sobre as mudanças da vida por meio da frase: “Às vezes penso em seis coisas impossíveis antes do café da manhã.” É um lembrete de que a imaginação é combustível, e que acreditar no impossível é o primeiro passo para transformar a realidade. Essa ideia ecoa ainda hoje em debates sobre criatividade e inovação.

O nonsense como crítica social
Lewis Carroll era matemático e lógico, e por trás do nonsense de Alice no País das Maravilhas há críticas sociais disfarçadas. A Rainha de Copas, com seu famoso bordão “Cortem-lhe a cabeça!”, simboliza a arbitrariedade do poder e o autoritarismo desmedido. Sua figura grotesca não é apenas engraçada, mas também um espelho deformado da tirania que Carroll enxergava em sua época.
Já o diálogo entre Alice e o Gato de Cheshire, quando ela pergunta: “Você poderia me dizer, por favor, qual caminho devo seguir a partir daqui?”, e o Gato responde: “Isso depende muito de para onde você quer ir”, é uma das passagens mais profundas do livro. Por trás da simplicidade da resposta, há uma verdade universal: sem saber nossos objetivos, qualquer caminho parece válido. A literatura infantil aqui se cruza com a filosofia existencial.
Conclusão
Ao revisitarmos as frases de Alice no País das Maravilhas, percebemos que elas são muito mais do que simples diálogos de personagens excêntricos. Elas funcionam como janelas para compreender a condição humana, nossas inquietações, sonhos e dilemas.
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