Revelações de um fóssil de 444 milhões de anos

Depois 25 anos de análise meticulosa, pesquisadores da Universidade de Leicester, no Reino Unido, confirmaram a identificação de uma nova espécie fossilizada: o Keurbos susanae. Esse antigo artrópode marinho, encontrado em Soom Shale, na África do Sul, surpreendeu a comunidade científica por ter passado por um raro processo de fossilização, no qual seus tecidos internos foram preservados com detalhes impressionantes, enquanto sua carapaça e apêndices externos desapareceram.

Um processo de fossilização inusitado

Diferente da maioria dos fósseis, nos quais são comuns estruturas externas bem preservadas, “Sue” – como foi apelidado o exemplar – se destaca pela notável conservação de seus órgãos internos. Segundo Sarah Gabbott, líder do estudo, os tecidos moles de “Sue”, incluindo músculos, tendões e vísceras, tornaram-se uma verdadeira cápsula do tempo mineralizada. Entretanto, sua carapaça resistente, pernas e cabeça foram completamente degradadas ao longo dos milênios.

O mistério da preservação excepcional

Os cientistas acreditam que as condições extremas do ecossistema onde “Sue” foi fossilizada foram essenciais para essa forma peculiar de conservação. Durante a extinção Ordoviciano-Siluriana, quando boa parte da vida marinha desapareceu, a bacia marinha em que o fóssil foi encontrado pode ter oferecido um ambiente protegido das condições mais severas. No entanto, o sedimento local apresentava uma alta concentração de sulfeto de hidrogênio, tornando-o altamente tóxico e desprovido de oxigênio. Essa química letal não apenas levou à morte do organismo, mas também contribuiu para a extraordinária fossilização de seus tecidos moles.

Revelações de um fóssil de 444 milhões de anos
Foto: Universidade de Leicester

Uma janela para o passado

O estudo desse fóssil é uma mina de ouro para paleontólogos, pois permite compreender melhor a anatomia dos antigos organismos marinhos e seus sistemas internos. No entanto, a falta de referências externas preservadas torna difícil a tarefa de associar “Sue” a outras espécies conhecidas. Como resultado, os cientistas ainda têm dúvidas sobre a sua exata posição na árvore evolutiva.

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Uma homenagem de gerações

O nome “Keurbos susanae” foi escolhido por Sarah Gabbott como uma homenagem a sua mãe, Susanae, que sempre a encorajou a seguir a carreira científica. “Ela dizia que eu deveria buscar o que me faz feliz, e para mim, isso significa escavar rochas, encontrar fósseis e desvendar os segredos da evolução da Terra”, declarou a pesquisadora. A decisão de publicar os achados antes de finalizar toda a taxonomia da espécie também teve influência de sua mãe, que expressou o desejo de ver essa descoberta compartilhada com o mundo.

Próximos passos da pesquisa

A equipe planeja continuar as investigações sobre “Sue”, buscando mais informações para compreender seu papel na evolução dos artrópodes marinhos. Além disso, os pesquisadores estão interessados em explorar novas escavações na região de Soom Shale, na esperança de encontrar outras espécies fossilizadas que possam ajudar a preencher as lacunas desse fascinante quebra-cabeça evolutivo.