Uma estrutura de defesa datada de mais de dois milênios foi desenterrada no deserto do Sinai, revelando novas pistas sobre as táticas militares usadas pelo Egito durante os períodos ptolomaico e romano. Localizada no sítio arqueológico de Tell Abu Saifi, no norte da Península do Sinai, a descoberta foi anunciada pelo Ministério de Turismo e Antiguidades do Egito.
As escavações trouxeram à luz residências militares, fornos, uma trincheira de proteção e uma estrada revestida de calcário, que outrora era ladeada por uma vegetação densa, sugerindo uma complexa infraestrutura defensiva. Especialistas acreditam que o local tenha desempenhado um papel essencial como ponto estratégico de fronteira oriental, reforçando o controle territorial egípcio e servindo como base naval e industrial ao longo de séculos.
Uma janela para a dinastia ptolomaica e domínio romano
O Egito ptolomaico teve início com o reinado de Ptolomeu I Sóter, por volta de 305 a.C., logo após a fragmentação do império de Alexandre, o Grande. A fortificação de Tell Abu Saifi teria sido erguida nesse contexto, e posteriormente adaptada pelos romanos, que passaram a controlar o Egito a partir de 30 a.C.
Essa sobreposição de períodos históricos torna o sítio um ponto chave para entender as transformações no sistema de defesa egípcio, da era helenística à romana. A localização, próxima à conexão entre África e Ásia, indica que a fortaleza possuía um papel geopolítico crucial na contenção de ameaças vindas do oriente, como revoltas internas, o avanço romano e incursões de reinos vizinhos, como o selêucida.
Trincheiras, estrada fortificada e círculos de plantio
Uma das descobertas mais intrigantes foi uma vala escavada junto à entrada da fortaleza, com mais de 1,80 metro de profundidade, que teria servido como obstáculo defensivo contra invasores. Ligada a ela, os arqueólogos encontraram uma estrada de calcário, com cerca de 11 metros de largura por 90 metros de comprimento, conectando os portões da fortificação ao centro do complexo.
Ao longo da estrada, foram identificados mais de 500 círculos de argila, possivelmente utilizados como suportes de plantio para árvores. Embora o número pareça elevado, estudos de arqueologia agrícola e evidências encontradas em papiros antigos indicam que o cultivo em larga escala de árvores frutíferas e videiras era comum no Egito ptolomaico.
Essa arborização pode ter tido fins estéticos, religiosos ou até mesmo funcionais — fornecendo sombra e alimento para os soldados e famílias que ali viviam.
Um bastião entre continentes
De acordo com Mohamed Ismail Khaled, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, as estruturas descobertas em Tell Abu Saifi aprofundam o entendimento sobre como o Egito defendia suas fronteiras terrestres em um momento histórico marcado por instabilidade política e guerras frequentes.
A Península do Sinai, por sua localização estratégica entre o Mar Vermelho e o Mediterrâneo, era vista pelos antigos faraós como o primeiro escudo do Egito contra invasões estrangeiras. Fortalezas como a de Tell Abu Saifi foram fundamentais para monitorar movimentações militares e controlar rotas comerciais.
A região já era conhecida como base naval ptolomaica, usada para a construção e reparo de navios de guerra. Com as novas evidências, essa função é ampliada para incluir defesa terrestre e ocupação militar estruturada, com áreas de habitação e atividades logísticas.
Vestígios de habitação e estruturas ainda misteriosas
Além da trincheira e da estrada, os arqueólogos descobriram alojamentos destinados a soldados e possivelmente suas famílias, o que reforça a ideia de que o local era mais do que uma simples base militar — era um núcleo de vida cotidiana e organização social.
Outro ponto de interesse foi a identificação dos quatro cantos de uma edificação maior, ainda em análise, que pode pertencer a um período anterior ao domínio ptolomaico. Os trabalhos continuam para determinar a data exata dessa estrutura mais antiga e seu papel no contexto geral do sítio.
Conclusão
A redescoberta da fortaleza de Tell Abu Saifi no deserto do Sinai lança uma nova luz sobre a sofisticação e a complexidade das estratégias militares egípcias antigas. Com trincheiras bem planejadas, estradas arborizadas e organização residencial, a estrutura demonstra que o Egito não apenas reagia a ameaças externas, mas planejava meticulosamente sua defesa territorial.
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