Desafios e soluções para a formação de professores em Santa Catarina

A qualidade da educação básica em Santa Catarina está diretamente ligada à formação dos professores que atuam nas escolas públicas do estado. Na tarde desta terça-feira (20), um importante seminário realizado no plenário da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) reuniu professores, gestores escolares, dirigentes municipais e estaduais, além de pesquisadores e representantes sindicais, para discutir o futuro da formação docente no estado.

O evento, que continuará ao longo da semana, busca não apenas diagnosticar os problemas existentes, mas também sugerir caminhos para melhorar a qualidade do ensino e, consequentemente, da formação de novos professores.

O seminário foi motivado por uma crescente inquietação quanto à qualidade da formação de professores no Brasil, especialmente em Santa Catarina. Odilon Luiz Poli, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unochapecó, destacou a urgência de se reavaliar o processo de formação docente, que ele considera incompatível com as necessidades de uma sociedade democrática. Segundo Poli, os gestores escolares, secretários municipais e integrantes das coordenadorias regionais de educação têm expressado preocupação com a qualidade dos professores recém-formados que chegam às escolas.

Para Poli, o seminário tem como principal objetivo fazer um diagnóstico detalhado da situação atual, identificar boas práticas, discutir a formação continuada dos docentes e, finalmente, oferecer subsídios para a criação de políticas interinstitucionais que possam melhorar a formação de professores.

Um dos pontos centrais discutidos no seminário foi a valorização dos professores. Evandro Accadrolli, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte-SC), ressaltou que não é aceitável que instituições formadoras entreguem às escolas profissionais que não estão adequadamente preparados para ensinar. Ele também sublinhou que a qualidade da educação está diretamente ligada à valorização dos docentes e à estrutura de carreira oferecida a eles.

Accadrolli apontou que Santa Catarina tem uma das piores carreiras do magistério no Brasil, o que, segundo ele, contribui para a queda no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do estado. Além disso, ele destacou que 64% dos professores no estado são temporários, ou seja, contratados em fevereiro e demitidos em dezembro, o que cria um ambiente instável e desmotivador para os profissionais da educação.

A percepção dos gestores públicos em relação à formação de professores também foi um ponto de destaque no seminário. Gerson dos Santos Sicca, representante do Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE-SC), reconheceu que, apesar dos avanços em áreas como ampliação do acesso à educação e melhores mecanismos de avaliação da aprendizagem, a formação de professores continua sendo uma preocupação significativa.

Sicca chamou a atenção para a atratividade da carreira docente, especialmente em áreas onde há escassez de professores, como nos anos finais do ensino fundamental. Ele destacou que a falta de jovens interessados em seguir a carreira de professor é um problema que precisa ser abordado de forma urgente e multidimensional.

O secretário de Estado da Educação, Aristides Cimadon, também participou das discussões, enfatizando a necessidade de incentivar a carreira docente. No entanto, ele questionou como tornar a valorização dos professores uma realidade em um cenário onde os recursos são limitados e a regulação existente não é suficiente para promover as mudanças necessárias.

Cimadon destacou que é fundamental que as políticas educacionais sejam desenvolvidas com uma visão ampla, que vá além das limitações políticas e que seja voltada para as necessidades dos catarinenses. Ele defendeu a cooperação entre o estado e os municípios como uma estratégia essencial para melhorar a qualidade da educação em Santa Catarina.

Durante o seminário, representantes das universidades e instituições formadoras de professores também tiveram a oportunidade de compartilhar suas perspectivas. Hamilton de Godoy Wielewicki, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), enfatizou a importância de avaliar o papel de todos os atores envolvidos na cadeia educacional. Para ele, é comum culpar os professores pelos resultados negativos sem considerar todo o contexto que influencia o processo educacional, o que inclui políticas públicas, condições de trabalho e formação inicial inadequada.

Romeu Hausmann, coordenador da Câmara de Graduação das Fundações Educacionais (Acafe) e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb), ressaltou a necessidade de um alinhamento maior entre as ações dos diferentes atores educacionais. Ele destacou que, muitas vezes, há uma desconexão entre o que é ensinado nas universidades e as necessidades reais das escolas. Hausmann defendeu a união de esforços e a realização de discussões mais qualificadas entre as academias e as redes educacionais, para que as ações sejam mais eficazes e coerentes com a realidade das salas de aula.

A deputada Luciane Carminatti (PT), presidente da Comissão de Educação e Cultura da Alesc, destacou que o objetivo do seminário não é encontrar culpados, mas sim identificar os problemas e trabalhar em soluções colaborativas. Ela ressaltou a importância de reunir todos os atores envolvidos na educação, desde as universidades até os sindicatos, para discutir e construir um caminho que leve à melhoria da qualidade da formação de professores.

Carminatti também lembrou que o seminário resultará na construção de um documento que será encaminhado aos conselhos Nacional e Estadual de Educação, ao Ministério da Educação e à Secretaria de Estado da Educação. Esse documento servirá como base para futuras políticas e ações voltadas para a formação docente em Santa Catarina.

O “Seminário Avançado sobre a Formação de Professores para Educação Básica – Subsídios para uma Política Catarinense” continua nos próximos dias, com sessões programadas para a manhã e tarde de quarta-feira (21). Os debates seguirão no plenário Osni Régis da Assembleia Legislativa, onde os participantes continuarão a discutir temas cruciais para a melhoria da formação dos professores e, consequentemente, da qualidade da educação básica em Santa Catarina.

Este evento marca um passo importante na busca por soluções concretas para os desafios enfrentados pela educação no estado. A participação ativa de diferentes setores da sociedade e a disposição para o diálogo mostram que há um compromisso sério com a melhoria da formação de professores, que é fundamental para o desenvolvimento de uma educação de qualidade.