Vários artefatos de ferro antigos, construídos a partir de metais de origem meteórica, estão intrigando arqueólogos e cientistas metalúrgicos por todo o mundo.
Esses objetos — que incluem contas egípcias com cerca de 5.000 anos, uma lâmina de ferro encontrada na lápide de Tutancâmon e joias da Península Ibérica feitas com ferro vindo de meteoritos — mostram que, muito antes da fundição sistemática do ferro terrestre, diversos povos utilizavam fragmentos metálicos caídos do céu como matéria-prima para objetos de prestígio ou rituais. Por exemplo, pesquisadores estabeleceram que contas de ferro de Gerzeh (Egito) foram obtidas através de meteoritos trabalhados.
Na Espanha, peças do Tesouro de Villena datadas de cerca de 3.000 anos foram confirmadas como feitas de ferro meteórico.
Estudos recentes na Polônia identificaram dezenas de objetos de ferro de origem meteórica em cemitérios da Idade do Ferro — sugerindo que o uso desse material não era estritamente esporádico.
Esses achados alteram a compreensão de quando e como a humanidade começou a manipular o ferro e enriquecem o panorama da tecnologia antiga. O ferro comum terrestre requer mineração, seguida de fundição e forjamento—a etapa para que metais fiquem utilizáveis. Em contraste, o ferro meteórico chega já no estado metálico, pronto para ser trabalhado, e assim foi aproveitado por culturas que ainda não dominavam a tecnologia de redução do minério de ferro.
Um dos casos mais emblemáticos é a lâmina da tumba de Tutancâmon, cujo conteúdo de níquel e cobalto coincide com o de um meteorito, confirmando sua origem “extraterrestre”. Além disso, artefatos localizados na Suíça, Polônia e outros pontos da Europa Central reforçam que a prática de empregar ferro meteórico se estendeu para além do mundo do Oriente Médio e Norte da África.
A investigação desse tipo de objeto não só oferece pistas sobre a tecnologia e o comércio antigos, mas também sobre valores simbólicos e rituais. O fato de um metal “caído do céu” ter sido utilizado para fabricar joias, armas ou adornos revela o peso simbólico que tais materiais tinham — eram raros, difíceis de obter, e por isso talvez associados a poder, elite ou sacralidade. Em muitos casos, foram encontradas em tumbas de alta hierarquia ou como componentes de tesouros.
Contudo, ainda permanecem muitas perguntas abertas: quantos desses objetos existiram, quantos sobreviveram, como o metal foi obtido — se por recolha de fragmentos ou comércio — e qual foi a real extensão da sua fabricação. A soma exata dos artefatos de ferro de origem meteórica descobertos até hoje não está claramente definida na literatura científica pública, mas já se sabe que existem dezenas de casos confirmados ou fortemente sugeridos, espalhados por várias regiões do planeta.
A continuações das pesquisas analíticas (como identificação de níquel, cobalto, análises isotópicas) prometem revelar com mais precisão os itinerários desses metais celestes que se tornaram artefatos terrenos. Para a arqueologia, esses objetos são uma ponte fascinante entre o céu e a terra, entre a queda de meteoritos e a mão humana que os transformou em símbolos ou ferramentas.





