Estudo brasileiro aponta veneno de aranha nativa como possível cura para o câncer

Há mais de duas décadas, cientistas brasileiros vêm desbravando os segredos do reino animal em busca de soluções para uma das doenças mais desafiadoras da medicina moderna: o câncer. Uma pesquisa liderada pelo Hospital Israelita Albert Einstein e pelo Instituto Butantan, em São Paulo, revelou recentemente uma descoberta revolucionária: uma molécula derivada do veneno da aranha Vitalius wacketi apresenta potencial promissor no tratamento da leucemia, uma das formas mais prevalentes de câncer em crianças e adultos.

A substância em questão não é extraída diretamente do veneno da aranha, mas sim purificada por meio de um processo inovador desenvolvido pelo hospital paulista. Esse processo não apenas remove quaisquer contaminantes presentes no veneno, mas também potencializa seus efeitos terapêuticos. Embora ainda esteja em fases iniciais de desenvolvimento, a pesquisa já demonstrou resultados promissores no combate às células cancerígenas da leucemia.

A trajetória para a descoberta dessa molécula começou há mais de três décadas, quando espécimes da aranha Vitalius wacketi foram coletados durante visitas de rotina a áreas de atividades humanas, como desmatamento e corte de árvores. O aracnólogo Rogério Bertani, do Instituto Butantan, liderou os estudos iniciais sobre a taxonomia das aranhas coletadas. Anos mais tarde, o bioquímico Thomaz Rocha e Silva, em seu trabalho de conclusão de curso, decidiu investigar as propriedades farmacológicas do veneno dessas aranhas.

Ao analisar o veneno da Vitalius wacketi, Rocha e Silva identificou uma atividade neuromuscular e iniciou a busca pela toxina responsável por esse efeito. Embora a pesquisa tenha sido publicada em periódicos acadêmicos, o projeto foi suspenso devido à falta de potencial comercial.

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(Fonte: Thomaz Rocha e Silva/Hospital Albert Einstein)

Anos mais tarde, Rocha e Silva retomou o estudo enquanto lecionava em uma faculdade. Ele orientou um aluno interessado em investigar o potencial citotóxico dos venenos das aranhas do gênero Vitalius. Durante essa pesquisa, uma toxina encontrada na Vitalius wacketi chamou a atenção pela sua atividade promissora.

A molécula foi isolada, purificada e posteriormente sintetizada em laboratório. Isso significa que não é mais necessário extrair a substância diretamente das aranhas. Experimentos realizados em laboratório demonstraram que a molécula induziu a morte das células de leucemia por apoptose, um processo no qual as células tumorais sinalizam ao sistema imunológico que estão morrendo.

Após esses resultados promissores, as equipes de inovação das instituições envolvidas na pesquisa garantiram a propriedade intelectual da tecnologia por meio de patentes.

A descoberta dessa molécula derivada do veneno da aranha Vitalius wacketi representa um avanço significativo no campo do tratamento do câncer. Se os resultados promissores observados em laboratório se traduzirem em eficácia clínica, essa nova terapia poderá oferecer uma nova esperança para pacientes com leucemia e outras formas de câncer. O trabalho colaborativo entre instituições brasileiras de renome, como o Hospital Israelita Albert Einstein e o Instituto Butantan, destaca a capacidade do país de realizar pesquisa de ponta e inovar no campo da biomedicina.