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Estátuas em miniaturas eram de uso diário em rituais dos vikings, aponta estudo

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Uma pesquisa recente está reformulando o entendimento acadêmico sobre as miniaturas da Era Viking ao demonstrar que esses objetos não eram apenas amuletos simbólicos, mas componentes ativos da vida social e ritual das comunidades nórdicas.

O estudo, publicado na revista Antiquity, analisou dez estatuetas de bronze e prata provenientes de coleções suecas e identificou evidências de processos de produção complexos, modificações intencionais e padrões variados de uso que indicam um envolvimento contínuo com esses artefatos ao longo do tempo.

A investigação foi conduzida a partir de peças pertencentes ao acervo do Museu de História da Suécia e incluiu figuras tradicionalmente associadas à mitologia nórdica, como valquírias, além de uma figura fálica sentada, uma rara estatueta representando uma mulher grávida e a chamada cabeça de Aska, fundida separadamente.

Para o exame dos objetos, os pesquisadores utilizaram técnicas avançadas, como análise de microdesgaste e Imagem de Transformação Reflexiva, que permitiram identificar alterações sutis na superfície, incluindo polimentos, arranhões, fraturas e marcas de retrabalho.

Os resultados indicam que muitas dessas estatuetas passaram por um processo de fabricação em várias etapas, e não por uma única fundição. Após a moldagem inicial do corpo em metal, os artesãos realizavam ajustes, refinamentos e intervenções específicas em determinadas partes das figuras.

Esse padrão sugere que alguns elementos, como vestimentas, armas ou atributos corporais, recebiam maior atenção do que outros, enquanto traços faciais, por exemplo, podiam permanecer menos detalhados. A distribuição desigual do acabamento aponta para escolhas deliberadas, relacionadas à função e ao significado prático desses objetos para seus usuários.

Nove das dez estatuetas analisadas apresentavam argolas ou perfurações destinadas à suspensão, indicando que foram concebidas para serem presas a roupas, cordões ou outros suportes. No entanto, os padrões de desgaste observados variam de forma significativa.

Algumas peças exibem bordas suavizadas e superfícies arredondadas, compatíveis com manuseio frequente ou contato prolongado com tecidos, enquanto outras preservam contornos bem definidos, sugerindo uso limitado antes de sua deposição final. Essa diferença reforça a hipótese de que nem todas as estatuetas circularam no cotidiano, e que algumas podem ter sido produzidas especificamente para contextos funerários ou rituais.

As evidências de modificações intencionais após a produção original se mostraram especialmente relevantes. A conhecida figura de Rällinge, por exemplo, apresenta um braço fraturado cuja área foi posteriormente alisada, indicando que o objeto foi retrabalhado após o dano, em vez de descartado.

Já a cabeça de Aska apresenta marcas de impacto compatíveis com uma separação deliberada de um corpo maior, e não com uma quebra acidental. Esses dados sugerem uma relação prolongada entre as pessoas e esses objetos, marcada por reparos, adaptações e resignificações ao longo do tempo.

Seis das estatuetas analisadas foram recuperadas em sepulturas, onde acompanhavam restos humanos, enquanto outras provinham de tesouros ou foram encontradas de forma isolada. Os diferentes contextos de deposição indicam que esses objetos desempenhavam papéis relevantes em práticas funerárias, rituais e expressões de identidade.

A ausência de um padrão único de uso ou descarte reforça a ideia de que as estatuetas não tinham uma função fixa ou exclusivamente decorativa, mas eram incorporadas a diferentes práticas sociais conforme o contexto.

Ao priorizar a análise de vestígios materiais em vez de interpretações baseadas apenas em iconografia ou textos históricos, o estudo questiona classificações tradicionais que definiam essas peças principalmente como amuletos, ornamentos ou representações mitológicas.

Os pesquisadores argumentam que as estatuetas vikings devem ser compreendidas como objetos dinâmicos, moldados pela interação humana, pelo uso ritual e pelas transformações físicas ao longo de sua trajetória.

Os resultados apontam que essas miniaturas participavam ativamente da vida social e religiosa das comunidades vikings. Elas eram produzidas, utilizadas, transportadas, modificadas e, por fim, depositadas em contextos carregados de significado.

Essa abordagem contribui para uma compreensão mais precisa da cultura material da Era Viking, revelando que mitologia, prática cotidiana e ação ritual estavam profundamente entrelaçadas. Em vez de símbolos estáticos de divindades como Thor ou Freyr, as estatuetas emergem como objetos com histórias próprias, transformadas pelo uso e pela ação humana ao longo de gerações da sociedade nórdica.

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