Recentemente, arqueólogos trouxeram à luz uma descoberta fascinante e controversa: uma pequena estátua encontrada sob uma parede do antigo templo de Taposiris Magna, no Egito. Enquanto alguns especialistas acreditam que o artefato pode ser uma rara representação da famosa rainha Cleópatra VII, outros argumentam que a peça não pertence ao período da última dinastia ptolemaica e sim a uma era posterior, de influência romana. A controvérsia reacendeu debates sobre a figura histórica e seu legado.
Cleópatra VII, a última rainha do Egito, reinou entre 51 e 30 a.C. e pertenceu à dinastia ptolemaica, que teve origem grega, mas governou o Egito com base na cultura local. Cleópatra não era apenas uma figura política habilidosa, mas também uma estrategista diplomática e militar, conhecida por sua inteligência e capacidade de negociar alianças com grandes potências da época, como Roma.
Nascida em 69 a.C., Cleópatra se destacou pelos romances com dois importantes líderes romanos: Júlio César e Marco Antônio. Essas relações não apenas a tornaram conhecida no Ocidente, mas também desempenharam papéis cruciais na expansão do poder egípcio durante seu reinado. Apesar de sua morte trágica em 30 a.C., que marcou o fim da dinastia ptolemaica e o início do domínio romano no Egito, Cleópatra permanece uma das figuras históricas mais fascinantes e controversas.
A equipe responsável pela descoberta foi liderada por Kathleen Martinez, uma renomada arqueóloga especializada em história egípcia. Segundo Martinez, a estatueta — do tamanho de uma palma da mão — representa uma mulher com coroa e reforça a ligação entre o templo de Taposiris Magna e Cleópatra. Para ela, o busto pode ser uma representação da rainha, especialmente considerando a presença de outras moedas e artefatos da época que foram encontrados no mesmo local.
No entanto, nem todos concordam com essa interpretação. Zahi Hawass, ex-ministro de Antiguidades do Egito, é cético quanto à identificação da estátua como sendo de Cleópatra. Para ele, o estilo artístico do busto é claramente romano e difere dos retratos típicos da dinastia ptolemaica. Segundo Hawass, a influência romana só chegou ao Egito após a morte de Cleópatra, o que torna improvável que a peça a represente.
O templo de Taposiris Magna, onde a estátua foi encontrada, é um dos locais arqueológicos mais ricos do Egito. Fundado por volta de 280 a.C., o local serviu como um importante centro religioso e cultural durante a dinastia ptolemaica.
Os arqueólogos que trabalham no local já descobriram diversos artefatos que reforçam a conexão entre o templo e o reinado de Cleópatra. Entre eles, estão moedas com a imagem da rainha, joias de bronze dedicadas a deuses egípcios e uma lâmpada a óleo decorada.
A pequena estátua estava em um depósito de fundação, uma prática comum no Egito Antigo. Esses depósitos eram buracos escavados sob construções importantes, onde objetos simbólicos eram enterrados para garantir a proteção e a prosperidade do edifício. Além da estátua feminina, outro busto encontrado representa um rei com o “nemes”, adorno tradicional usado por faraós.
Além da estátua e das moedas, a equipe liderada por Martinez encontrou uma necrópole contendo 20 túmulos e diversos túneis arqueológicos. Esses túneis continham cerâmicas, estruturas arquitetônicas preservadas e inscrições.
Outro destaque da escavação foi um anel de bronze dedicado à deusa Hathor, frequentemente associada à fertilidade e à música, representada com uma cabeça de vaca. Também foi encontrado um amuleto com a inscrição “A justiça de Rá surgiu”, que remete ao deus-sol egípcio.
Os arredores do templo também revelaram vestígios de um templo romano construído no século IV a.C., destruído cerca de 200 anos depois. Esses elementos reforçam a riqueza histórica do local e sua importância como um ponto de encontro entre culturas egípcia e romana.
A polêmica em torno da estátua reflete a complexidade da arqueologia e a subjetividade das interpretações históricas. Enquanto alguns cientistas veem na peça um raro retrato de Cleópatra, outros argumentam que a influência artística e o contexto em que foi encontrada não coincidem com o período da rainha.
Independentemente da resposta definitiva, a descoberta lança luz sobre a rica história de Taposiris Magna e reacende o interesse público por Cleópatra. O mistério que cerca sua figura histórica e sua aparência continua a fascinar pesquisadores e o público em geral.
Cleópatra não é apenas uma figura histórica; ela se tornou um símbolo cultural que transcende o tempo. Filmes, livros e peças de teatro reforçam sua imagem como uma mulher poderosa e estrategista, embora muitas vezes romantizada ou distorcida. A descoberta da estátua, independentemente de sua verdadeira identidade, lembra-nos da importância de revisitar a história com um olhar crítico e aberto a novas interpretações.