Fotos: AA Photo / www.turkiyetoday.com
O silêncio das montanhas de Antália escondia uma história que parecia enterrada para sempre. Entre pedras e raízes, arqueólogos trouxeram à luz um estádio romano de 1.800 anos, esculpido diretamente na encosta da antiga cidade de Syedra. Não é apenas mais uma ruína: é um palco fossilizado de glórias atléticas, rituais religiosos e celebrações imperiais.
O estádio mede 200 metros de comprimento por 16 de largura e ainda guarda fileiras de assentos capazes de acomodar até 3.000 pessoas. Imagine o som da multidão ecoando pela encosta, vibrando a cada combate de luta livre ou boxe, modalidades citadas em quase 40 inscrições gravadas na própria pedra da cidade. Syedra, à época, não era um vilarejo qualquer: era um porto próspero, ativo desde o século IX a.C., que sobreviveu a civilizações helenísticas, romanas, bizantinas e seljúcidas.
A grandiosidade da obra impressiona. Os romanos aproveitaram a topografia natural da montanha para erguer uma arena com acústica perfeita, sem precisar de grandes fundações. A parte norte ainda está notavelmente preservada, com blocos de pedra cortados com precisão quase cirúrgica. Evidências sugerem que as arquibancadas mais altas eram de madeira, hoje desaparecidas, mas que ampliavam a capacidade e reforçavam a imponência do estádio.
O professor Ertug Ergurer, líder da escavação, ressalta que a construção exigiu recursos e mão de obra qualificada, sinal de que Syedra era um centro regional de cultura e poder. As inscrições e os monumentos vizinhos indicam que os jogos não eram apenas entretenimento, mas também atos de devoção e afirmação política. A arena reunia corpos, fé e poder em um espetáculo total.
Syedra guarda muito mais do que o estádio. Entre suas ruínas estão ruas ladeadas por colunatas, casas de banho, um edifício de conselho e mosaicos lendários representando os doze trabalhos de Hércules. Seu sistema de água, com cisternas e canais, mostra o planejamento minucioso de uma cidade que queria impressionar moradores e visitantes.
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As escavações seguem em ritmo acelerado. A expectativa é que novos espaços relacionados ao estádio sejam revelados — talvez áreas de treinamento, vestiários ou estruturas que apoiavam os atletas e os grandes eventos. Cada pedra virada aproxima o presente de um passado onde esporte, religião e poder se entrelaçavam de forma inseparável.
Hoje, ao se deparar com essa arena esquecida, é impossível não traçar paralelos. Os estádios modernos, que lotam milhões em busca de emoção, têm raízes que remontam a lugares como Syedra. As arquibancadas escavadas na rocha são mais que ruínas: são lembranças petrificadas de uma paixão humana que resiste há milênios — a necessidade de se reunir, competir, celebrar e deixar uma marca no tempo.
