Uma recente descoberta no sítio arqueológico de Al-Bahansa, na província de Minya, Egito, está fascinando a comunidade científica e os entusiastas da história.
Uma missão arqueológica conjunta entre a Universidade de Barcelona e o Instituto do Antigo Oriente Médio, em colaboração com pesquisadores egípcios, revelou túmulos da Era Báltica, adornados com gravuras, textos coloridos e uma série de artefatos nunca antes encontrados na região. Essa descoberta marca um avanço significativo na compreensão das práticas funerárias e religiosas do período.
O Dr. Mohammed Ismail Khaled, Secretário-Geral do Conselho Supremo de Antiguidades, destacou que esta é a primeira vez que restos humanos, incluindo múmias com línguas e unhas douradas, foram encontrados na região arqueológica de Al-Bahansa. Essas descobertas são acompanhadas por amuletos, medalhas de ouro e textos decorativos únicos, que fornecem informações valiosas sobre as crenças e rituais da Era Báltica.
Entre os achados mais notáveis estão:
- 13 línguas e unhas douradas, que provavelmente serviam para facilitar a comunicação espiritual dos falecidos com os deuses no pós-vida.
- Amuletos dedicados a divindades como Hórus, Isis, Jahouti e ao pilar Djed, símbolo de estabilidade.
- Túmulos decorados com cenas religiosas que representam divindades como Anúbis, Osíris, Hórus e Áton.
O túmulo de “One Ner”
Uma das descobertas mais impressionantes foi o túmulo do indivíduo identificado como “One Ner”. Suas câmaras funerárias contêm gravuras detalhadas que retratam o proprietário e sua família em adoração a divindades egípcias. As paredes estão decoradas com imagens coloridas e inscrições, enquanto o teto exibe uma pintura celestial da deusa Nut, cercada por estrelas, destacando a conexão entre o falecido e o cosmos.
A arqueóloga espanhola Dra. Ester Ponce Milado, que lidera a missão internacional, explicou que os túmulos são compostos por um salão principal que leva a três câmaras funerárias, utilizadas como sepulturas coletivas. Dentro dessas câmaras, dezenas de múmias foram encontradas alinhadas lado a lado, sugerindo a existência de práticas funerárias comunitárias.
A importância das línguas douradas
A descoberta das línguas douradas é particularmente intrigante. Essas peças, moldadas em ouro e colocadas dentro das bocas das múmias, têm um significado simbólico profundo. Elas eram utilizadas em rituais funerários para garantir que os falecidos pudessem falar com os deuses no outro mundo. O uso de unhas douradas, por sua vez, reforça a ideia de preparação cuidadosa para a vida após a morte, refletindo a importância das crenças espirituais no Egito Antigo.
Um elemento que chamou a atenção dos arqueólogos foi a presença de textos e imagens que aparecem pela primeira vez na região de Al-Bahansa. Esses registros representam cenas de oferendas e encontros com divindades, além de paisagens mitológicas que ajudam a reconstruir a visão de mundo dos antigos egípcios da Era Báltica.
Um exemplo impressionante é a representação de Anúbis, deus da mumificação, supervisionando o processo funerário, enquanto Osíris, deus do submundo, está cercado por Ísis e Néftis, suas irmãs divinas, em uma cena de proteção ao falecido.
Artefatos e amuletos
Além das múmias e gravuras, a missão encontrou 29 amuletos relacionados ao pilar Djed, símbolo de força e estabilidade, e peças que retratam Hórus, Jahouti e Ísis juntos, indicando a importância dessas divindades na Era Báltica. Um anel com o símbolo do deus Rá também foi encontrado, sugerindo uma conexão com o culto solar.
Entre os achados estão quatro caixões de calcário, preservados em excelente estado, que serão transferidos para análise e restauração. A presença de medalhas de ouro no rosto das múmias, assim como em figuras de Osíris e Ísis, reforça o significado sagrado dos enterros.
A Dra. Maite Maskort, também chefe da missão espanhola, destacou que esta não é a primeira descoberta significativa na região de Al-Bahansa. Em temporadas anteriores, a equipe encontrou túmulos que datam de períodos gregos e romanos, além de uma basílica cristã primitiva e o templo de Osireion. Esses achados evidenciam a importância histórica e cultural da região como um centro religioso e social ao longo de diferentes períodos históricos.
Os arqueólogos planejam continuar as escavações para explorar mais segredos dessa região fascinante e compreender melhor as práticas religiosas e funerárias do Egito Antigo.
Essas descobertas em Al-Bahansa representam um marco significativo para a arqueologia egípcia. Elas não apenas fornecem uma visão mais detalhada sobre a Era Báltica, mas também ampliam a compreensão das práticas espirituais e artísticas do período. A recuperação de túmulos com textos e imagens inéditas reforça a riqueza cultural do Egito e destaca a importância da colaboração internacional em projetos arqueológicos.