Uma extraordinária espada do século VI foi desenterrada em um cemitério anglo-saxão perto de Canterbury, Kent, impressionando arqueólogos pela notável preservação e artesanato. A arma, considerada uma das mais refinadas de sua época, oferece um raro vislumbre sobre a vida e cultura da Inglaterra medieval inicial. Essa descoberta foi conduzida pela equipe do programa Digging for Britain, da BBC, e está sendo comparada à famosa espada de Sutton Hoo devido à sua riqueza de detalhes.
A espada é um objeto de elite em todos os sentidos. Seu punho, adornado com prata e ouro, apresenta intrincados padrões que denotam um trabalho artesanal excepcional. Fragmentos de sua bainha de couro e madeira, assim como vestígios de forro de pele de castor, foram preservados, fornecendo pistas sobre as técnicas de confecção utilizadas na época. Além disso, a lâmina inscrita com runas agrega um elemento místico e cultural ao achado.
O anel preso ao punho é outro destaque. De acordo com especialistas, ele simboliza um juramento a um rei ou figura de alta patente, reforçando a hipótese de que o dono da espada era uma pessoa de grande importância social e política. “Esta espada está no topo dos escalões das armas da época, um objeto verdadeiramente único”, afirmou Duncan Sayer, arqueólogo-chefe da Universidade de Lancashire Central.
O cemitério onde a espada foi encontrada abriga mais de 200 túmulos datados dos séculos V e VI d.C., embora apenas doze sepulturas tenham sido escavadas até o momento. Entre os achados, destacam-se armas como lanças e escudos em sepultamentos masculinos, além de broches, facas e fivelas em sepulturas femininas. Um pingente de ouro, com uma inscrição representando uma serpente ou dragão, foi encontrado em um dos túmulos, sugerindo sua importância como lembrança preciosa ou objeto de devoção.
As descobertas também revelaram conexões culturais amplas. Artefatos com influências escandinavas e francas foram encontrados, indicando um período de intensas trocas culturais e migrações. “Este é um extraordinário cemitério anglo-saxão com túmulos lindamente mobiliados, algo que raramente vemos preservado com tanta qualidade”, disse a professora Alice Roberts, apresentadora do Digging for Britain.
Análises microscópicas conduzidas pela conservadora Dana Goodburn-Brown mostraram pupas de mosca na espada, sugerindo que o corpo do falecido foi deixado exposto antes do sepultamento. Essa prática funerária, possivelmente para homenagens ou rituais, traz novas perspectivas sobre os costumes da época.
Estudos genéticos recentes complementam essas descobertas. Análises de DNA de 300 indivíduos da costa leste da Grã-Bretanha revelaram que 75% do material genético vinha do norte da Europa continental. Isso confirma um evento significativo de migração anglo-saxã após a retirada romana, moldando a paisagem cultural e política de Kent e regiões vizinhas.
A espada e os demais artefatos passarão por uma conservação detalhada antes de serem exibidos no Museu de Folkestone. O projeto de escavação continua, prometendo trazer à tona mais segredos sobre a vida dos primeiros anglo-saxões. “Cada descoberta nos aproxima um pouco mais de entender como essas comunidades viviam, interagiam e honravam seus mortos”, conclui Duncan Sayer.