Eridu: A primeira cidade do mundo e seus segredos perdidos

No árido deserto do sul do Iraque, onde o tempo parece ter parado, repousam as ruínas de uma das mais antigas cidades do mundo. Eridu, um nome que soa como um eco distante da mitologia suméria, foi considerada pelos antigos como o berço da civilização. Fundada por volta de 5.400 a.C., essa cidade tem sido uma chave para entender os primeiros passos da humanidade em direção à urbanização, religião e governança. Mas, por mais de dois mil anos, esse local permaneceu escondido, seu valor e importância esquecidos.

Tudo começou a mudar em 1854, quando o oficial britânico John George Taylor, trabalhando para a Companhia das Índias Orientais, foi enviado para investigar o que ele acreditava ser um simples monte de detritos em Tell Abu Shahrain, localizado perto de Eridu. Em seu relatório de 1855, Taylor se mostrou desencorajado: “Minha visita não produziu resultados importantes”, escreveu ele, sem saber que, sob a areia, estavam enterradas algumas das ruínas mais significativas da história humana.

Esses “mundos esquecidos” não eram apenas destroços. Eles pertenciam a Eridu, uma cidade mítica que, segundo a mitologia suméria, era o local onde a realeza havia descido dos céus para governar a terra. Em um texto sumério conhecido como a Lista de Reis Sumérios, Eridu é descrita como o ponto inicial da realeza, antes de um grande dilúvio que devastou a terra, em uma história que lembra a narrativa bíblica do Gênesis.

Apesar da visão inicial de Taylor, as descobertas subsequentes no local de Eridu mostraram a grandiosidade de sua história. A cidade era mais do que um simples assentamento; ela era o centro espiritual da Suméria, dedicada ao deus Enki, o deus da água e da sabedoria. A cidade foi lar de templos monumentais, onde peregrinos de toda a Mesopotâmia vinham prestar culto. Os arqueólogos que finalmente desenterraram esses templos confirmaram sua importância não apenas religiosa, mas também social e política.

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O verdadeiro avanço nas escavações de Eridu começou em 1946, quando o arqueólogo iraquiano Fuad Safar, com a ajuda do arqueólogo britânico Seton Lloyd, iniciou uma escavação mais aprofundada. Eles descobriram não apenas o templo de Enki, mas também uma pirâmide escalonada, um zigurate inacabado, que estava associado à terceira dinastia de Ur. Este zigurate, uma impressionante estrutura de vários andares, revelou-se um marco da arquitetura suméria, e por baixo dele, outras camadas de ocupação, remontando até a era Ubaid, um período anterior à ascensão dos sumérios.

Ao todo, os arqueólogos desenterraram 18 camadas distintas de ocupação, incluindo seis templos dedicados a Enki. Cada um desses templos foi reconstruído ao longo de milênios, refletindo a evolução da sociedade suméria, que passava de cultos domésticos para uma religião mais formal e institucional. Essas camadas de templos mostram como a cidade se transformou ao longo do tempo, à medida que a religião e a política se fundiam, consolidando Eridu como um centro de poder e fé.

Porém, à medida que a Suméria perdeu seu poder político, Eridu também experimentou um declínio. A cidade deixou de ser uma metrópole reconhecível por volta de 600 a.C., mas sua importância religiosa perdurou por muitos séculos. Descobertas mais recentes indicam que Eridu continuou a ser um local de peregrinação, mesmo após seu apogeu, refletindo a continuidade de sua importância espiritual. Escavações adicionais nos montes próximos sugerem que a cidade ainda era um destino para aqueles que buscavam o sagrado, mesmo durante o período helenístico.

Hoje, o sítio arqueológico de Eridu continua sendo uma fonte de fascínio para arqueólogos de todo o mundo. Apesar dos desafios políticos e da instabilidade na região, as escavações continuam, com equipes da Itália e da França expressando interesse em continuar a exploração do local. A cada nova descoberta, mais segredos do passado são revelados, trazendo à tona os vestígios de uma das primeiras grandes civilizações da humanidade.

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Eridu, embora há muito tempo esquecida, está novamente no centro da atenção acadêmica e internacional. Suas ruínas, mais do que simples pedras e muros, representam os primeiros passos de uma civilização que moldou a história de nossa espécie. A cidade pode ter desaparecido fisicamente, mas seu legado espiritual e cultural permanece firme, aguardando para ser completamente desvendado, um pedaço de história que, finalmente, está sendo reconhecido por seu valor imensurável.

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