Cientistas desvendam enigma da Pedra do Altar de Stonehenge

Por quase 4.500 anos, Stonehenge permaneceu como um dos maiores mistérios da arqueologia mundial. Este monumento megalítico, situado na planície de Salisbury, na Inglaterra, sempre intrigou historiadores, cientistas e o público em geral. Entre as inúmeras perguntas não respondidas, a origem e o significado da chamada “Pedra do Altar”, localizada no coração de Stonehenge, sempre despertaram especial curiosidade. Agora, uma nova pesquisa trouxe à tona descobertas que podem finalmente solucionar parte desse enigma, ao identificar que a Pedra do Altar veio de uma região inesperada: o nordeste da Escócia.

Origem da Pedra do Altar

Durante muito tempo, acreditava-se que a Pedra do Altar, assim como as famosas pedras azuis menores de Stonehenge, fosse originária das Colinas Preseli, no País de Gales. Essa suposição baseava-se em estudos geológicos que haviam identificado as pedreiras galesas como a fonte das pedras usadas na construção do monumento. No entanto, essa teoria foi posta em xeque no final de 2021, quando uma equipe de pesquisadores determinou que a composição mineral e a idade da Pedra do Altar não correspondiam às rochas das Colinas Preseli.

A investigação se intensificou com o objetivo de determinar a verdadeira origem da pedra. Os cientistas utilizaram métodos avançados de análise geológica, comparando a composição dos grãos minerais da Pedra do Altar com bancos de dados regionais e nacionais de rochas. O resultado foi surpreendente: a Pedra do Altar não veio do País de Gales ou de qualquer parte da Inglaterra, mas sim de uma formação geológica conhecida como Arenito Vermelho Antigo, localizada na Bacia Orcadiana, no nordeste da Escócia.

A descoberta de que a Pedra do Altar é oriunda de uma região a quase 800 quilômetros de distância de Stonehenge é significativa por vários motivos. Em primeiro lugar, subverte teorias antigas que associavam todas as pedras de Stonehenge às pedreiras galesas, expandindo a compreensão das complexas redes de transporte e construção durante o Neolítico. A Bacia Orcadiana, uma formação geológica que se estende por mais de 160 quilômetros, oferece uma nova perspectiva sobre as interações entre diferentes comunidades pré-históricas na Grã-Bretanha.

Richard Bevins, geólogo da Universidade Aberystwyth, no Reino Unido, destaca a importância dessa descoberta: “Esses resultados são realmente notáveis – eles subvertem o que se pensava no século passado. Conseguimos calcular, por assim dizer, a idade e as impressões digitais químicas de talvez uma das pedras mais famosas do monumento antigo mundialmente conhecido.” Isso não apenas redefine a origem da Pedra do Altar, mas também levanta questões sobre o motivo pelo qual essa pedra específica foi escolhida e transportada de tão longe.

Stonehenge

O mistério do transporte

A identificação da origem escocesa da Pedra do Altar levanta um novo e intrigante mistério: como essa pedra de mais de 5.800 kg foi transportada por uma distância tão grande? A hipótese de que ela tenha sido movida por ação de geleiras foi descartada, uma vez que as geleiras que cobriam as Órcades nunca alcançaram o centro-sul da Inglaterra, onde Stonehenge está localizado.

Dessa forma, a explicação mais plausível é que seres humanos foram responsáveis pelo transporte da pedra. David Nash, geógrafo físico da University of Brighton, sugere que mover um megálito desse porte por terra, através de terrenos acidentados, seria uma tarefa extremamente difícil, “para ser educado”. No entanto, ele considera mais plausível a hipótese de que a pedra tenha sido transportada por barco, uma vez que, no Neolítico, já se utilizavam embarcações para transportar cargas pesadas, como gado e outros recursos.

Essa descoberta também sugere a existência de redes de comércio de longa distância na Grã-Bretanha durante o período Neolítico, além de níveis mais elevados de contato e cooperação entre grupos diferentes do que se imaginava anteriormente. “Eles deram muito valor em trazer aquela pedra por 700, 800, 900 quilômetros”, comenta o coautor do estudo, Pearce. “Por que isso significou tanto para eles? Isso nos dá algo para refletir.”

Stonehenge

Redes de comércio e cooperação no neolítico

A descoberta da origem escocesa da Pedra do Altar de Stonehenge abre novas possibilidades de entendimento sobre as relações entre diferentes grupos no Neolítico. Acreditava-se que as sociedades neolíticas eram relativamente isoladas, com contatos limitados a áreas geográficas próximas. No entanto, a existência de uma rede de comércio capaz de transportar uma pedra tão grande e pesada por uma distância tão grande indica uma organização social e uma infraestrutura de transporte muito mais avançadas do que se imaginava.

Essas redes de comércio não se limitavam apenas ao transporte de pedras. É provável que outros bens, como alimentos, ferramentas e talvez até conhecimento e ideias, também fossem trocados entre diferentes regiões. A capacidade de organizar e realizar tal empreendimento sugere que essas sociedades possuíam níveis elevados de cooperação e planejamento.

Além dos aspectos práticos e logísticos do transporte da Pedra do Altar, é importante considerar o significado espiritual e cultural que essa pedra deve ter tido para as pessoas que a trouxeram até Stonehenge. No contexto neolítico, as pedras megalíticas não eram meros materiais de construção; elas carregavam significados simbólicos profundos e muitas vezes estavam associadas a práticas religiosas e cerimoniais.

A escolha de uma pedra específica, proveniente de uma região distante, sugere que a Pedra do Altar possuía um valor simbólico ou espiritual particular. Talvez fosse vista como uma pedra sagrada, com propriedades únicas que a tornavam adequada para um monumento tão importante como Stonehenge. A jornada épica da pedra, desde sua origem na Escócia até seu destino na planície de Salisbury, pode ter sido parte de um ritual ou tradição, reforçando o poder e o prestígio daqueles que a trouxeram.

Conclusão

A descoberta da origem escocesa da Pedra do Altar de Stonehenge é um marco importante na compreensão desse antigo monumento. Ela não apenas resolve um mistério de longa data sobre a origem da pedra, mas também lança luz sobre as complexas redes de comércio e cooperação que existiam na Grã-Bretanha durante o Neolítico. A jornada da Pedra do Altar, seja por terra ou por mar, nos revela uma sociedade organizada e conectada, capaz de realizar feitos impressionantes de engenharia e transporte.

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