Em mais um passo significativo para preservar seu patrimônio cultural, o Egito conseguiu recuperar um conjunto valioso de peças arqueológicas que estavam sob a posse da Universidade de Cork, na Irlanda. Essa conquista foi fruto de negociações que duraram mais de um ano e meio e que culminaram com a recente visita do presidente egípcio à capital irlandesa, Dublin, em 11 de dezembro de 2024.
O Egito tem intensificado esforços para repatriar peças históricas que foram levadas para fora do país ao longo dos séculos. Cada item recuperado representa uma vitória na luta pela preservação de um patrimônio que é fundamental para a identidade cultural egípcia e para o legado da civilização antiga. A colaboração entre instituições egípcias e irlandesas foi essencial para concretizar essa importante iniciativa.
De acordo com o ministro do Turismo e Antiguidades do Egito, Shereef Fathy, a operação só foi possível graças ao trabalho conjunto do Ministério das Relações Exteriores egípcio, da embaixada do Egito em Dublin, da embaixada da Irlanda no Cairo e da Universidade de Cork. Ele também destacou a atitude positiva da universidade, que demonstrou disposição em devolver as peças ao Egito, reforçando os laços culturais e científicos entre os dois países.
O conjunto de itens recuperados inclui um raro sarcófago de madeira pintado, que contém restos de uma múmia, além de quatro vasos canópicos de calcário e cinco peças de cartonagem colorida usadas na cobertura de múmias.
O sarcófago pertence ao período Saíta (664-525 a.C.) e é atribuído a um indivíduo chamado Hor, que detinha o título de “Portador de Lótus”. Dentro do sarcófago foram encontrados fragmentos da múmia e dentes, que análises indicam ser do próprio Hor. O design do sarcófago reflete o estilo artístico característico do período Saíta, com decorações ricamente detalhadas.
Os vasos canópicos, usados no processo de mumificação para armazenar os órgãos internos do falecido, são datados da 22ª Dinastia (945-712 a.C.), pertencente ao Período Tardio do Egito Antigo. Eles pertenciam a um sacerdote chamado Ba Wer, que possuía títulos importantes como “Pai do Deus” e “Guardião dos Campos do Deus”.
As peças de cartonagem colorida recuperadas são do período greco-romano e foram utilizadas para cobrir múmias, apresentando decorações elaboradas e cores vibrantes que destacam a habilidade artística da época.
O processo de devolução das peças foi guiado por um acordo bilateral firmado entre o Conselho Supremo de Antiguidades do Egito e a Universidade de Cork. Esse acordo estabelece a colaboração entre as duas instituições para garantir que peças históricas do Egito retornem ao seu local de origem.
As peças estavam sob posse da universidade desde os anos 1920 e 1930, quando foram adquiridas por meio de atividades arqueológicas realizadas naquele período. Com a assinatura do acordo, a universidade reforçou seu compromisso ético com a preservação e devolução de patrimônios culturais.
As peças retornadas serão inicialmente depositadas no Museu Egípcio, localizado na Praça Tahrir, no Cairo, onde passarão por processos de conservação e restauração. Posteriormente, elas serão exibidas em uma mostra temporária que destacará as conquistas do Egito na repatriação de seu patrimônio histórico.
Esse esforço não é apenas uma celebração do retorno das peças, mas também uma oportunidade de educar o público sobre a importância da proteção do patrimônio cultural e de promover a conscientização sobre a preservação da herança cultural global.
Para o Egito, a recuperação dessas peças é mais do que um simples ato simbólico, é um reflexo de sua dedicação contínua à preservação de sua identidade cultural. A repatriação de artefatos históricos ajuda a construir uma narrativa completa da história do país, preservando esses itens como parte do legado de uma das civilizações mais antigas e influentes do mundo.
Além disso, cada peça recuperada fortalece o turismo cultural no Egito, que é uma das principais fontes de receita para o país. O apelo global da história egípcia atrai milhões de visitantes todos os anos, e a recuperação de artefatos fortalece a reputação do Egito como um destino cultural de destaque.
Embora o Egito tenha alcançado progressos significativos na recuperação de seus artefatos, a questão do tráfico de antiguidades ainda é um problema global. Muitas peças continuam em coleções privadas ou em museus no exterior, muitas vezes sem documentação adequada sobre sua origem.
A cooperação internacional, como demonstrada pela Universidade de Cork, é essencial para resolver essas questões. Além disso, o fortalecimento de acordos bilaterais e a promoção de leis internacionais mais rigorosas podem ajudar a proteger o patrimônio cultural de futuras pilhagens.