A pesquisa sobre psicodélicos tem ganhado força nos últimos anos, especialmente no campo da saúde mental. A psilocibina, o principal composto psicoativo dos cogumelos mágicos, está no centro de estudos que visam entender como essas substâncias podem ajudar no tratamento de distúrbios mentais.
Um estudo recente liderado pelo Dr. Nico Dosenbach, da Universidade de Washington, revelou insights fascinantes sobre como a psilocibina altera as conexões cerebrais e pode proporcionar mudanças terapêuticas duradouras.
O estudo envolveu varreduras cerebrais funcionais (fMRI) em participantes que ingeriram psilocibina ou um placebo. O Dr. Dosenbach, participante do ensaio, descreveu sua experiência como algo além do comum. “Até o efeito começar, ninguém no ensaio sabia se havia tomado psilocibina ou ritalina, um estimulante usado como placebo,” explicou Dosenbach. Quando os efeitos começaram, ele percebeu que seus pensamentos estavam dessincronizados e que seu cérebro parecia funcionar como um computador.
Essa experiência subjetiva destacou um dos principais objetivos do estudo: entender como a psilocibina afeta a atividade cerebral. “Descobrimos que a psilocibina dessincroniza o cérebro”, disse Ginger Nichols, coautora do estudo. A droga desconecta o cérebro de suas vias típicas e promove novas conexões, o que pode explicar seus efeitos terapêuticos.Metodologia do Estudo
O estudo foi pequeno, envolvendo apenas sete voluntários que tomaram 25 miligramas de psilocibina de grau farmacêutico ou uma dose de 40 miligramas de metilfenidato. As varreduras cerebrais foram realizadas antes, durante e três semanas após a ingestão da substância. Os participantes incluíam indivíduos com experiência prévia em psicodélicos ou “experiências místicas”.
Durante as varreduras, os pesquisadores observaram mudanças significativas nas conexões cerebrais. Em particular, houve um aumento nas conexões com o hipocampo anterior, uma área responsável pela memória emocional, percepção e imaginação. A rede de modo padrão, que impacta o senso de si, tempo e espaço de uma pessoa, também mostrou atividade aumentada.
Essas mudanças nas conexões cerebrais podem ser responsáveis pelo sucesso de alguns psicodélicos no tratamento de distúrbios mentais, como depressão e ansiedade. Pequenos ensaios clínicos já demonstraram que uma ou duas doses de psilocibina podem fazer mudanças duradouras em pessoas com transtorno depressivo resistente ao tratamento tradicional.
Além da depressão, a psilocibina tem mostrado promessa no combate à cefaleia em salvas, ansiedade, anorexia nervosa, transtorno obsessivo-compulsivo e várias formas de abuso de substâncias. Em muitos desses ensaios, psicoterapeutas treinados acompanham os pacientes durante a viagem psicodélica, ajudando a orientar e integrar as experiências vividas.
O Dr. Petros Petridis, do Centro de Medicina Psicodélica do NYU Langone, destacou em uma revisão do estudo que a psilocibina pode tornar as conexões cerebrais mais maleáveis, ajudando as pessoas a superar “padrões rígidos e mal adaptativos” de pensamento e comportamento. Ele sugeriu que ensaios clínicos maiores e com populações diversificadas são necessários para confirmar a eficácia dos psicodélicos e o papel da psicoterapia no tratamento.
Cada participante do estudo teve experiências únicas durante a viagem psicodélica. Dosenbach relatou sentir-se presente nas mentes de outros neurocientistas, experimentando seus pensamentos como se fossem seus. “A ciência ainda não entende completamente o cérebro, mas eu senti como se de repente soubesse exatamente como o cérebro funciona”, disse ele.
Outro participante descreveu a sensação de ter a luz de Deus brilhando sobre ele durante o pico de sua experiência. As varreduras cerebrais confirmaram esse momento, mostrando dessincronização máxima das vias típicas do cérebro.
Essas experiências místicas, embora difíceis de quantificar, são uma parte importante do impacto terapêutico da psilocibina. Elas podem proporcionar insights profundos e uma sensação de conexão que ajuda na transformação pessoal e na cura.O estudo mostrou que, após a viagem psicodélica, a maioria das redes cerebrais retornou ao normal. No entanto, as conexões entre a rede de modo padrão e o hipocampo anterior persistiram por até três semanas. Essa persistência pode ser fundamental para o impacto terapêutico da psilocibina.
“A psilocibina poderia abrir a porta para a mudança, permitindo que o terapeuta guie o paciente,” escreveu Petridis. O efeito duradouro das novas conexões cerebrais sugere que a psilocibina pode ser uma ferramenta poderosa na psicoterapia, ajudando os pacientes a romper padrões de pensamento negativos e promover a cura.Embora a psilocibina ainda seja ilegal nos Estados Unidos, o estado do Oregon legalizou seu uso pessoal para maiores de 21 anos em 2020. Além disso, a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) designou a psilocibina como um medicamento inovador, acelerando seu desenvolvimento e revisão.
A crescente aceitação e legalização da psilocibina refletem seu potencial terapêutico. À medida que mais pesquisas confirmam seus benefícios, é provável que vejamos uma mudança nas políticas de saúde pública, permitindo um acesso mais amplo a esses tratamentos inovadores.