Ciclos: Artista Eduardo Kobra cria obra monumental em silos do velho moinho

Se você passou pelo Viaduto do Capanema, em Curitiba, recentemente e olhou para os gigantescos silos do Moinho Anaconda, provavelmente se surpreendeu com a explosão de cores que tomou conta do local. O que antes era apenas concreto sem vida, agora se transforma em uma das maiores obras de arte urbana do Brasil. O responsável? Ninguém menos que Eduardo Kobra, o renomado muralista brasileiro que tem suas pinturas espalhadas pelos quatro cantos do mundo.

A obra, batizada de “Ciclos”, cobre nada menos que 5 mil m² de área, fazendo dela a segunda maior intervenção já realizada pelo artista. O mural traz a identidade marcante de Kobra, com suas cores vibrantes e figuras humanizadas, e promete entrar para a história da capital paranaense como um dos maiores ícones do muralismo urbano.

Do concreto ao colorido: a jornada de um mural histórico

O projeto da obra não foi simplesmente concebido e aplicado sem planejamento. Antes de ganhar vida nos silos industriais, a arte passou por um processo burocrático criterioso, com avaliação e aprovação da Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU) de Curitiba. Isso porque, desde 2023, a cidade conta com uma legislação específica para intervenções visuais em fachadas, permitindo que grafites, murais, pinturas e outras expressões artísticas sejam regulamentadas, evitando conflitos entre artistas e proprietários de imóveis.

A engenheira civil Thaís Schutz Millack, do Departamento de Controle do Uso do Solo (UUS), foi uma das primeiras a ver a versão final da obra, antes mesmo de ela tomar forma nos silos. “Foi incrível! Ele anexou um material super bonito, eu imprimi em A3 e pendurei no meu armário aqui no Urbanismo. Curitiba tem tantos painéis bonitos de outros artistas, não tinha do Kobra ainda. Curitiba merecia, é uma cidade tão linda, combina tanto com arte”, comenta entusiasmada.

Eduardo Kobra: um mestre da arte urbana

Kobra é um nome que dispensa apresentações quando o assunto é muralismo. O artista paulistano é conhecido mundialmente por suas obras hiper-realistas, marcadas por cores vivas e referências culturais que transformam espaços urbanos em verdadeiras galerias a céu aberto. De Nova York a Tóquio, seus murais celebram desde grandes personalidades até causas sociais e históricas.

Em “Ciclos”, a proposta é reforçar a ideia de transformação, evolução e continuidade. O artista utiliza sua assinatura visual para retratar a passagem do tempo, conectando o passado e o presente da região, antes um polo industrial, agora um ponto turístico e cultural.

Curitiba e a arte urbana: uma cidade que abraça a criatividade

Curitiba tem se consolidado cada vez mais como um polo de arte urbana no Brasil. Com murais assinados por diversos artistas renomados, a cidade ganhou uma legislação moderna que incentiva a expressão artística, valorizando o espaço público sem prejudicar a paisagem urbana.

Com a chegada de “Ciclos”, a cidade entra no circuito global de grandes obras de arte urbana, reforçando sua vocação para a criatividade e inovação. A pintura nos silos do Moinho Anaconda não apenas dá um novo fôlego a uma estrutura antes esquecida, mas também se torna um novo ponto turístico e cultural para moradores e visitantes.

Eduardo Kobra: O muralista brasileiro que conquistou o mundo

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Infância e primeiros passos na arte

Eduardo Kobra nasceu em 1975 na cidade de São Paulo, em uma periferia da zona sul. Desde criança, demonstrou interesse pelo desenho e, ainda adolescente, encontrou no grafite uma forma de expressão. Crescendo em meio à efervescente cena do hip-hop e da cultura urbana dos anos 1980 e 1990, Kobra começou a deixar sua marca nos muros da cidade. Seu talento e sua técnica rapidamente chamaram atenção, e ele passou a desenvolver um estilo único, misturando realismo, cores vibrantes e referências históricas.

O surgimento do estilo inconfundível

O trabalho de Eduardo Kobra é facilmente reconhecido por seu uso marcante de cores intensas, traços geométricos e formas tridimensionais. Ele utiliza a técnica do fotorrealismo, criando murais que parecem ganhar vida. Outro aspecto central de sua arte é o resgate da memória histórica e cultural, frequentemente homenageando personalidades icônicas e movimentos sociais.

Expansão internacional

Com o tempo, Kobra ultrapassou as fronteiras do Brasil e se tornou um dos muralistas mais conhecidos do mundo. Seus trabalhos podem ser vistos em cidades como Nova York, Londres, Paris, Tóquio, Moscou e Dubai. Entre suas obras mais famosas estão:

  • “Etnias” (Rio de Janeiro, 2016) – Um dos maiores murais do mundo, criado para as Olimpíadas, retratando cinco rostos indígenas representando os cinco continentes.
  • “O Beijo” (Nova York, 2012) – Inspirado na icônica fotografia do marinheiro beijando uma enfermeira ao final da Segunda Guerra Mundial.
  • Retratos de grandes personalidades, como Nelson Mandela, Frida Kahlo, Martin Luther King, Albert Einstein e Ayrton Senna.

Temas e impacto social

Além da estética impressionante, Kobra utiliza sua arte para transmitir mensagens de paz, diversidade e consciência ambiental. Ele frequentemente aborda temas como a luta contra a violência, a preservação da natureza e os direitos humanos. Seu mural “Coexistência”, pintado em Amsterdã, une símbolos de diferentes religiões para promover a tolerância e o respeito.

Legado e reconhecimento

Eduardo Kobra já pintou mais de 3 mil murais ao redor do mundo e continua ativo, reinventando-se a cada projeto. Seu trabalho, que começou nas ruas de São Paulo, hoje é admirado em galerias, prédios e espaços públicos internacionais. Em 2019, ele entrou para o Guinness World Records com o maior mural grafitado por um único artista, um painel de 5.742 m² em São Paulo.

Com um traço inconfundível e mensagens poderosas, Kobra segue colorindo o mundo, resgatando memórias e inspirando gerações com sua arte transformadora.