O Brasil viveu um dia marcante nesta quinta-feira (28), quando o dólar atingiu R$ 6 pela primeira vez na história. Apesar de fechar ligeiramente abaixo, em R$ 5,9891, a cotação histórica evidencia a crescente fragilidade do real e o impacto de um cenário de incertezas econômicas e fiscais.
Simultaneamente, o governo federal apresentou medidas para corte de gastos e isenção de Imposto de Renda (IR) para contribuintes que ganham até R$ 5 mil. Apesar de alguns pontos positivos, o pacote levantou questionamentos sobre a sustentabilidade das contas públicas, influenciando negativamente os mercados.
O marco histórico: dólar atinge R$ 6
A cotação do dólar atingiu a máxima de R$ 6,0029 ao longo do dia, antes de fechar em R$ 5,9891. Essa valorização inédita reflete uma combinação de fatores internos e externos, incluindo:
- Incertezas fiscais: A fragilidade nas contas públicas brasileiras afeta diretamente a confiança dos investidores.
- Busca por segurança: Em momentos de instabilidade global, o dólar se fortalece como moeda de refúgio.
- Desvalorização do real: O real tem sido uma das moedas mais vulneráveis entre os mercados emergentes, influenciado pela política econômica e pelo alto endividamento público.
A alta do dólar reforça um momento de volatilidade para a economia brasileira, com implicações diretas para inflação, investimentos e comércio exterior.
O pacote econômico: corte de gastos e isenção de IR
Nesta mesma quinta-feira, os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Rui Costa (Casa Civil) detalharam um pacote econômico que promete reduzir os gastos públicos em R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026. As principais medidas incluem:
- Cortes de gastos: Limitação no reajuste do salário mínimo e restrições ao abono salarial.
- Nova alíquota de IR: Contribuintes com renda anual acima de R$ 600 mil pagarão até 10% a mais de imposto.
- Isenção de IR para salários até R$ 5 mil: Promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente o limite de isenção está em R$ 2.824.
Embora as medidas de cortes sejam vistas como necessárias para equilibrar as contas públicas, a isenção do IR gerou dúvidas no mercado, considerando o impacto potencial de R$ 40 bilhões anuais no orçamento.
Reações do mercado financeiro
O mercado financeiro reagiu de forma negativa aos anúncios do governo. A expectativa inicial era de que o pacote trouxesse maior previsibilidade fiscal, mas a percepção de que ele pode ser insuficiente para equilibrar receitas e despesas gerou volatilidade.
Queda no Ibovespa
O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, registrou queda de 1,42%, encerrando aos 125.853 pontos. Com isso, acumulou perdas de:
- 1,12% na semana;
- 1,57% no mês;
- 4,85% no ano.
Alta do dólar
A moeda americana acumulou:
- 1,70% de alta na semana;
- 2,27% no mês;
- 21,84% no ano.
Esses resultados reforçam o impacto direto da instabilidade fiscal e das incertezas sobre as políticas econômicas.
Por que o dólar alto preocupa?
A valorização do dólar traz implicações diretas e indiretas para diversos setores da economia:
- Inflação: Produtos importados, combustíveis e insumos tornam-se mais caros, pressionando o custo de vida.
- Investimentos: A volatilidade afasta investidores estrangeiros, que buscam mercados mais previsíveis.
- Setor empresarial: Empresas endividadas em dólar sofrem com o aumento dos custos.
- Comércio exterior: Exportadores podem ser beneficiados pela competitividade dos preços, mas o saldo geral é negativo para uma economia dependente de importações.
O desafio do governo: equilíbrio fiscal
O pacote anunciado tinha como objetivo reforçar o compromisso do governo com o arcabouço fiscal, mas a combinação de cortes e isenções gerou desconfiança. A complexidade das medidas e a dependência de aprovação no Congresso tornam o cenário ainda mais incerto.
Analistas apontam que, embora a isenção de IR possa beneficiar famílias, ela não gera impacto suficiente no consumo para compensar o custo fiscal. Além disso, a demora na apresentação de uma estratégia clara enfraquece a confiança dos investidores.
O que esperar daqui para frente?
O governo enfrenta um desafio monumental: controlar os gastos públicos, promover justiça social e sustentar a confiança do mercado. Para isso, será fundamental:
- Maior transparência: Explicar como as medidas serão implementadas e compensadas.
- Compromisso com o arcabouço fiscal: Demonstrar rigor na gestão das contas públicas.
- Reformas estruturais: Investir em medidas que promovam crescimento sustentável e reduzam a dependência externa.
O recorde histórico do dólar, ultrapassando R$ 6, simboliza os desafios econômicos enfrentados pelo Brasil em um cenário de incertezas. Embora o pacote econômico tenha trazido avanços pontuais, as dúvidas sobre sua execução e impacto fiscal geraram reações negativas no mercado.
A alta volatilidade deverá continuar nos próximos meses, exigindo respostas claras e eficientes do governo. Somente com um compromisso sólido com a sustentabilidade fiscal será possível estabilizar a economia e restaurar a confiança dos investidores, fundamentais para o desenvolvimento do país.