Na manhã desta segunda-feira (3), o mercado financeiro assistiu a mais um movimento surpreendente no mercado cambial, com a moeda norte-americana registrando sua maior sequência de perdas em duas décadas. O dólar, que operava em alta logo no início do dia, fechou com queda de 0,34% em relação ao real, cotado a R$ 5,8159. Esse movimento ocorre após a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou a suspensão das tarifas comerciais que seriam impostas ao México, um gesto que trouxe alívio aos mercados e provocou um recuo na cotação da moeda americana.
O clima de tensão entre os dois países, alimentado por meses de ameaças de tarifas sobre importações mexicanas, foi suavizado com um compromisso do México em reforçar o controle de sua fronteira. A presidente da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, declarou que o país enviaria imediatamente 10 mil membros da guarda nacional para trabalhar em conjunto com as autoridades dos EUA em questões de segurança e combate ao tráfico de drogas. A medida ajudou a acalmar os ânimos no mercado cambial, que viu a cotação do dólar voltar a níveis mais baixos, após superar R$ 5,90 em sua máxima do dia.
Essa é a 11ª sessão consecutiva em que o dólar apresenta desvalorização ante o real, um marco importante, dado que não se via uma sequência tão prolongada de perdas desde 2003. Esse movimento reflete a crescente confiança do mercado em relação a um possível acordo entre os dois países, além de ser alimentado pela especulação de que as tensões comerciais entre os EUA e seus parceiros internacionais possam ser amenizadas.
A oscilação no mercado de câmbio também foi acompanhada por um desempenho negativo do índice Ibovespa, que fechou em queda de 0,13%, a 125.970,46 pontos. Esse recuo está alinhado com o desempenho de Wall Street, que também registrou perdas, refletindo o ambiente de incerteza nos mercados financeiros globais. Na Europa, o impacto foi semelhante, com as principais bolsas também fechando em baixa. A Ásia, por sua vez, viu uma queda mais acentuada, com o índice Nikkei, de Tóquio, perdendo 2,66%, e o Kospi, em Seul, recuando 2,52%.
As tarifas sobre produtos importados sempre foram uma bandeira de campanha do presidente Trump, que recorreu à Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional para justificar suas ações. A medida, que permite ao presidente norte-americano tomar decisões unilaterais sobre questões comerciais e econômicas, havia gerado um clima de incerteza no mercado global. Contudo, a suspensão temporária das tarifas contra o México parece ter sido um movimento estratégico para evitar uma escalada de tensões, especialmente com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos.
Trump, por sua vez, também aproveitou o momento para renovar suas ameaças a outros parceiros comerciais, incluindo a União Europeia e o Reino Unido. Em declarações à imprensa, o presidente norte-americano sugeriu que novas tarifas poderiam ser impostas a esses blocos caso não se chegue a acordos comerciais satisfatórios para os EUA. Essa postura reflete uma continuidade da política protecionista adotada pela administração Trump, que tem como objetivo a redução do déficit comercial dos Estados Unidos e o fortalecimento da economia interna.
Enquanto isso, no cenário doméstico, o governo brasileiro e o Banco Central observam atentamente os desdobramentos dessas negociações, uma vez que as flutuações do dólar afetam diretamente a economia do país. O real, que tem sido uma das moedas mais volúveis nos últimos meses, se beneficia de uma estabilidade relativa no curto prazo, mas especialistas alertam para os possíveis efeitos adversos de uma retomada das tensões comerciais globais.
A desvalorização do dólar frente ao real pode, em um primeiro momento, proporcionar alívio para o bolso do consumidor, mas também levanta questões sobre o impacto nas exportações brasileiras e na competitividade da indústria nacional.
A expectativa agora é que as negociações entre os Estados Unidos e o México sigam avançando, com um possível acordo comercial sendo fechado nos próximos dias. Contudo, a complexidade das questões envolvidas – que incluem segurança, imigração e comércio – indica que o caminho até a estabilidade plena pode ser longo e sinuoso.