A agricultura brasileira, reconhecida mundialmente por sua escala e eficiência, enfrenta um desafio estrutural que impacta diretamente sua competitividade: a dependência de defensivos químicos importados. Em 2023, o Brasil importou mais de 2,7 milhões de toneladas desses produtos, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), consolidando-se como o maior mercado global para esses insumos.
Essa dependência não apenas eleva os custos de produção, mas também expõe o setor a flutuações cambiais e variações do mercado internacional.
Embora o Brasil seja um gigante agrícola, o país carece de uma indústria química nacional forte para a produção de defensivos genéricos. Luiz Alberto Moreira da Silva, diretor da Luft Agro e especialista com mais de cinco décadas de experiência no setor, destaca que essa lacuna compromete a autonomia do país. Ele ressalta que, mesmo que houvesse investimentos para estruturar uma base industrial no Brasil, os custos poderiam ser ainda mais elevados do que os dos produtos importados.
Além disso, Luiz Alberto aponta que, para sustentar uma indústria nacional competitiva, seria necessário não apenas atender à demanda interna, mas também disputar espaço no mercado global, o que traria desafios adicionais em termos logísticos e econômicos.
Em meio à crescente pressão por práticas agrícolas mais sustentáveis, os defensivos biológicos surgem como uma solução promissora para reduzir a dependência de químicos importados. Esses produtos, feitos a partir de organismos vivos ou substâncias naturais, têm demonstrado eficácia em aplicações específicas, como no controle de nematóides na cultura da soja.
De acordo com Luiz Alberto, os defensivos biológicos vão além da agricultura orgânica e já conquistam espaço entre grandes produtores do agronegócio brasileiro. Ele explica que, além de responderem às exigências de sustentabilidade, esses insumos representam uma inovação crucial para o futuro do setor.
Desafios para a expansão dos biológicos no Brasil
Apesar de seu potencial, os defensivos biológicos enfrentam obstáculos significativos no Brasil, especialmente devido às demandas logísticas em um território tão vasto. Esses produtos requerem condições específicas de armazenamento, como refrigeração ao longo de toda a cadeia de transporte, o que aumenta os custos e dificulta sua adoção em larga escala.
No entanto, a evolução tecnológica e a crescente aceitação dos biológicos no mercado global indicam um futuro promissor. Luiz Alberto acredita que, embora os defensivos químicos e biológicos devam coexistir por algum tempo, haverá um equilíbrio crescente entre essas soluções no campo brasileiro.
O futuro do agronegócio brasileiro
A transição para práticas agrícolas mais sustentáveis não é apenas uma exigência ambiental, mas também uma estratégia para fortalecer a competitividade do Brasil no mercado internacional. O uso de defensivos biológicos, combinado com esforços para reduzir a dependência de insumos importados, aponta para um cenário em que a agricultura brasileira poderá atender às demandas globais sem comprometer sua produtividade.
Essa adaptação é essencial para garantir que o agronegócio continue sendo um pilar econômico do Brasil, ao mesmo tempo em que responde às transformações impostas por consumidores e reguladores em busca de sustentabilidade.