O passado e o presente de Dionísio Cerqueira sob um olhar nostálgico das mudanças locais

A Tri Fronteira é uma região marcada por suas raízes históricas e sua localização estratégica na fronteira entre Brasil e Argentina, testemunhando inúmeras transformações ao longo das décadas.

Essas mudanças são sentidas e observadas por aqueles que vivenciaram a evolução local, como Dona Inês Gonçalves Mores, a primeira vereadora da cidade, que recentemente compartilhou suas memórias em uma entrevista ao “Diz Aí Podcast”, promovido pela TV da Fronteira.

Com 69 anos, durante seu bate-papo com Luiz Veroneze, diretor do Jornal da Fronteira, Dona Inês ofereceu um olhar nostálgico sobre os anos de 1980, comparando-os com a realidade atual de 2024.
Nos anos de 1980, Dionísio Cerqueira era uma cidade em pleno desenvolvimento, mas ainda marcada por um ambiente que misturava o antigo e o novo.

As ruas eram pavimentadas com paralelepípedos, as casas de madeira dominavam a paisagem, e os veículos que circulavam pelas ruas eram predominantemente modelos clássicos como Fusca, Brasília, Corcel e Kombi. Era uma época em que a vida na cidade ainda tinha um ritmo mais lento, e as mudanças, embora constantes, não eram tão visíveis para os moradores acostumados com a paisagem.

Dona Inês, na época que assumiu como vereadora, com apenas 17 anos, foi uma das testemunhas atentas dessas transformações. Como vereadora, ela teve uma visão privilegiada do desenvolvimento urbano e das questões que moldavam o futuro da cidade. Ela lembra com carinho de como a comunidade era próxima e de como as mudanças, mesmo que graduais, começavam a desenhar uma nova Dionísio Cerqueira.

Quarenta e quatro anos depois, a cidade de Dionísio Cerqueira apresenta uma realidade bastante diferente. Onde antes havia casas de madeira, hoje se erguem edifícios comerciais; as pedras de calçamento foram substituídos por asfalto; e os veículos que circulam pelas ruas hoje são modelos modernos como Gol, Jetta, Taos e Hilux.

A paisagem urbana mudou, mas, ao mesmo tempo, manteve alguns de seus elementos característicos, criando um contraste interessante entre o antigo e o novo.
Ela comenta que, para quem trabalha dentro de um escritório e raramente sai para as ruas, é fácil se impressionar com as transformações.

“As pessoas não se dão conta, mas as coisas estão mudando a todo instante”, ela disse. Esse sentimento de mudança constante é um reflexo do dinamismo de uma cidade que, apesar de pequena, está em constante evolução.

Durante a entrevista, Dona Inês compartilhou memórias de sua infância e juventude em Dionísio Cerqueira. Ela recordou, por exemplo, da Linha Separação, uma área próxima à hípica, onde, quando criança, via casas de madeira de dois andares construídas bem próximas à rua. Hoje, essa mesma área tem apenas três ou quatro moradores, com as casas mais distantes umas das outras, refletindo as mudanças demográficas e urbanísticas da cidade.

Outra lembrança marcante foi a da casa onde ela morava com sua família, perto do antigo cemitério do Peperi, próximo à Ascoagrin. Em uma tarde, enquanto sua mãe assava pão, a família foi surpreendida pela chegada de policiais, alertando sobre um possível confronto entre as forças policiais do Brasil e da Argentina devido a um desacordo na fronteira.

“A Polícia Militar encheu um caminhão de moradores e levou para outro lugar, para preservar as famílias”, relembrou-se Dona Inês. Felizmente, a situação foi resolvida de forma pacífica, e as famílias puderam retornar às suas casas.

Dionísio Cerqueira, apesar das mudanças, ainda preserva parte de sua história nas construções antigas que resistem ao tempo. Dona Inês menciona algumas dessas casas, como a da família Silva Dico, localizada na entrada da Aduana de Turismo, e a da família Maran, um pouco mais acima. Essas construções são testemunhos vivos de uma época em que a cidade ainda estava se formando e oferecem uma conexão tangível com o passado para os moradores e visitantes.

A preservação dessas memórias é essencial para manter viva a identidade de Dionísio Cerqueira. Em um mundo onde a urbanização rápida muitas vezes apaga as marcas do passado, a cidade se destaca por encontrar um equilíbrio entre o novo e o antigo, respeitando sua história ao mesmo tempo em que abraça o futuro.