O dia 19 de junho é dedicado ao cinema brasileiro, arte que há mais de um século traduz em imagens e sons a diversidade, as contradições e a beleza do país. Desde os primeiros registros de Afonso Segreto em 1898 até as indicações ao Oscar, nossa cinematografia traça uma jornada de resistência e criatividade. Uma das conexões mais potentes dessa trajetória é o elo entre cinema e literatura. Adaptar um livro para o cinema é traduzir palavras em imagens — e o Brasil já mostrou ser mestre nessa arte.
1. O Auto da Compadecida (2000), de Ariano Suassuna
Um dos maiores sucessos do cinema e da televisão brasileira, O Auto da Compadecida, dirigido por Guel Arraes, é baseado na peça homônima de Ariano Suassuna. A obra mistura comédia, crítica social e religiosidade nordestina em uma narrativa ágil e encantadora. João Grilo e Chicó, personagens centrais, ganharam vida nas atuações memoráveis de Matheus Nachtergaele e Selton Mello.
2. Capitães da Areia (2011), de Jorge Amado
Dirigido por Cecília Amado, neta do escritor, o filme Capitães da Areia traz às telas a história de um grupo de meninos de rua que luta para sobreviver em Salvador nos anos 1930. A adaptação mantém o tom poético e crítico do romance, abordando desigualdade, infância marginalizada e resistência com sensibilidade e vigor visual.
3. Lavoura Arcaica (2001), de Raduan Nassar
A obra-prima de Raduan Nassar ganhou uma interpretação cinematográfica visceral pelas mãos de Luiz Fernando Carvalho. Lavoura Arcaica é um drama denso e poético, que mergulha nos conflitos familiares, religiosos e existenciais de um jovem dividido entre a tradição e o desejo de liberdade. Com atuações intensas e fotografia estonteante, é considerado um dos filmes mais belos da cinematografia brasileira.
4. Estorvo (2000), de Chico Buarque
Primeiro romance de Chico Buarque, Estorvo foi levado ao cinema por Ruy Guerra com uma abordagem visual ousada e narrativa fragmentada. O filme, protagonizado por Júnior (Jorge Perugorría), retrata o vazio existencial, a paranoia urbana e o desconforto social de uma forma quase onírica. Um exemplo de como literatura e cinema podem dialogar em níveis profundos e simbólicos.
5. Dom (2003), de Machado de Assis
Inspirado no clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis, o filme Dom, dirigido por Moacyr Góes, oferece uma leitura moderna e provocativa da relação entre Bentinho e Capitu. Ao transpor o romance para um contexto contemporâneo, a obra cinematográfica reacende o eterno debate sobre traição, ciúmes e manipulação, mantendo viva a genialidade de Machado na linguagem do cinema.
6. Quincas Berro d’Água (2010), de Jorge Amado
Mais uma vez, Jorge Amado serve de fonte para o cinema. A adaptação de A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água, sob direção de Sérgio Machado, traz a irreverência, o humor e o lirismo típicos do autor baiano. A história do funcionário público que troca a vida careta pela boemia rendeu um filme espirituoso e visualmente marcante, com excelentes atuações de Paulo José e Vladimir Brichta.
Conclusão
O Dia do Cinema Brasileiro não é apenas uma data para celebrar o passado, mas também para reconhecer o poder que temos de contar nossas próprias histórias. E quando literatura e cinema se encontram, nasce uma alquimia rara: a da palavra transformada em imagem, da leitura transformada em experiência coletiva.
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