Desvendando os segredos do jogo do Bicho

O cenário político brasileiro é palco de debates acalorados sobre a legalização de jogos de azar, uma discussão que não é nova, mas que ganha novos contornos com a proposta atual de legalizar o Jogo do Bicho e outras modalidades. A história desse jogo, que remonta ao século XIX, é marcada por uma intrincada relação com a cultura popular e com a ilegalidade. Neste artigo, exploraremos a história do Jogo do Bicho, sua popularização e os argumentos em favor e contra sua legalização.

O Jogo do Bicho, criado pelo barão João Batista Drummond em 1892, foi uma estratégia inteligente para atrair visitantes ao zoológico da Vila Isabel, no Rio de Janeiro. A ideia era simples: realizar uma rifa que premiasse os visitantes, associando números a diferentes animais. Essa prática pioneira logo se tornou popular, com os participantes recebendo bilhetes com a imagem de um dos 25 animais escolhidos diariamente. O sucesso foi estrondoso, mas a ilegalidade do jogo resultou em sua proibição após apenas cinco anos de funcionamento.

Apesar da proibição, o Jogo do Bicho se disseminou rapidamente, sendo vendido não apenas no zoológico, mas em estabelecimentos por toda a cidade. O prêmio atrativo, correspondente a 20 vezes o valor do bilhete, cativava uma população urbana crescente, muitas vezes desempregada ou com baixos salários. O jogo se tornou parte da cultura popular, com expressões como “fazer uma vaquinha” originando-se dessa prática.

Após mais de um século, o funcionamento do Jogo do Bicho permanece praticamente inalterado. Com uma lista de 25 animais, cada um associado a quatro números, os participantes escolhem um animal e aguardam o resultado da Loteria Federal. Os dois últimos números sorteados determinam o vencedor, cujo prêmio varia de acordo com o valor apostado.

O Jogo do Bicho transcendeu suas origens ilegais para se tornar parte do imaginário coletivo brasileiro. Expressões como “zebra” e “fazer uma vaquinha” têm origem nesse jogo, demonstrando sua influência cultural.

Apesar de associado ao crime organizado, o Jogo do Bicho ganhou a confiança da população devido à sua reputação de honestidade. Os pagamentos pontuais e a padronização dos prêmios contribuíram para essa percepção, mesmo com a ilegalidade persistente.

A proposta de legalização do Jogo do Bicho levanta questões complexas sobre a regulamentação de jogos de azar no Brasil. Sua história intricada, marcada por popularidade e ilegalidade, reflete os desafios enfrentados pelo país na abordagem desse tema. Enquanto alguns defendem sua legalização como forma de combater o crime organizado e gerar receita, outros alertam para os riscos associados ao vício em jogos de azar. O debate continua, mas é certo que o Jogo do Bicho permanece enraizado na cultura brasileira, independentemente de sua legalidade.