A densa área florestal nativa na Zona da Mata em Rondônia, próxima à Terra Indígena Massaco e à Reserva Biológica do Guaporé, revela mais um capítulo intrigante de sua história milenar.
Pesquisadores autônomos revisitaram um cenário de descobertas arqueológicas, desvendando os segredos guardados por pilões-bacias esculpidos em pedra. Recentes expedições exploram o potencial significado desses artefatos e as teorias que envolvem a região.
A terra que guarda segredos
A região de Alta Floresta d’Oeste, situada a 528 quilômetros de Porto Velho, é um verdadeiro tesouro arqueológico. Marcada por vestígios de ocupação ao longo dos séculos, a área despertou o interesse de pesquisadores, entre eles o juiz da Comarca Ji-Paraná, Maximiliano Deitos. Embora não seja um especialista, sua dedicação às causas ambientais e arqueológicas o conduziu a anos de pesquisa na região.
Deitos e sua equipe acreditam que a concentração de sítios ruínas nos municípios de Alta Floresta D’Oeste, Alto Alegre dos Parecis e Rolim de Moura merece a atenção da ciência. A última expedição, realizada em 13 de outubro, reuniu quatro destemidos exploradores que seguiram os passos do biólogo Joaquim Cunha (in memoriam) e do indigenista Evandro Santiago.
As pedras esculpidas na forma de pilões com circunferências médias de 32,6 cm e profundidade média de 16 cm revelam um fascinante padrão. As dimensões variam, sendo os principais pilões-bacias medindo 2,60 de largura por 4,70 x 5,30 x 3,10 de altura. Em sua superfície, exibem 27 desses artefatos, cada um contendo uma história antiga.
Ao observar esses pilões-bacias, a mente do pesquisador Joaquim Cunha viajava até a lendária cidade perdida do Paititi, no leste dos Andes. Ele acreditava que objetos de pedra, cobre e ferro encontrados na região eram evidências dessa cidade escondida nas florestas tropicais do sudeste do Peru, norte da Bolívia e noroeste do Brasil.
Uma jornada pelo desconhecido
A mais recente expedição, liderada por Maximiliano Deitos, desbravou a mata fechada e de difícil acesso, percorrendo 2,3 km até alcançar os vestígios do sítio arqueológico. O grupo se deparou com um misterioso bloco de pedra gigante com cortes perfeitos, reminiscentes das construções em Cuzco-Machu Picchu. Uma cachoeira majestosa, com aproximadamente 75 metros de altura, serviu como pano de fundo para o altar, revelando a grandiosidade do local.
A emoção de revisitar esse cenário arqueológico foi palpável. Para Maximiliano, que já esteve no local quatro vezes desde 2010, a experiência de reviver o “sonho do Eldorado Paititi” é quase inenarrável. O grupo pernoitou no local, testemunhando o reflexo da lua e das estrelas nos 27 pilões-bacias, todos meticulosamente medidos e fotografados para estudos posteriores.
As teorias sobre a função dos pilões-bacias se multiplicam à medida que novas observações são feitas. O pesquisador independente Júnior Stoker sugere que esses artefatos podem ter sido usados para a extração de minérios por antigos nômades. A construção desses pilões, segundo ele, poderia ter sido destinada ao armazenamento de uma mistura de água com moídos de pedras para a extração de ouro em pó.
Outra hipótese intrigante envolve a possibilidade de as pedras modificadas com ranhuras, encontradas na entrada entre a cachoeira e o principal conjunto de pilões, terem sido utilizadas para afiar ou apontar estacas usadas em pequenas escavações. A escassez do minério teria contribuído para a evasão desse grupo da região.
Desafios e ameaças
Apesar das descobertas fascinantes, a região enfrenta desafios significativos. Invasores já foram detectados próximo ao sítio arqueológico, e a pecuária avança, destruindo geoglifos e ameaçando a preservação desses vestígios. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), informado há 14 anos sobre a descoberta, enviou profissionais à região, mas os estudos não avançaram.
Maximiliano Deitos expressa sua preocupação com o possível impacto da atividade pecuária e a necessidade de uma ação mais efetiva por parte das autoridades. A região, rica em mistérios arqueológicos, aguarda por estudos mais aprofundados e pela preservação de seu patrimônio cultural.
A Zona da Mata de Rondônia continua a ser um convite à exploração e preservação. Enquanto pesquisadores autônomos desvendam os mistérios dos pilões-bacias e outros vestígios arqueológicos, é imperativo que as autoridades intensifiquem os esforços para proteger esse patrimônio único. A região guarda segredos de uma civilização antiga, e é responsabilidade de todos garantir que essas histórias não se percam no tempo.