No coração do campus da tradicional universidade William & Mary, na Virgínia (EUA), um achado arqueológico recente está reescrevendo parte da história americana. Em meio a escavações conduzidas por especialistas do Center for Archaeological Research da instituição, vieram à tona as estruturas remanescentes da Williamsburg Bray School, uma escola do século XVIII criada para educar crianças negras — tanto livres quanto escravizadas — em pleno período colonial.
O edifício, que funcionou entre os anos de 1760 e 1765, é agora reconhecido como uma das instituições mais antigas dedicadas à alfabetização de crianças afrodescendentes na América do Norte. A descoberta, originalmente identificada pela Colonial Williamsburg Foundation, reacendeu debates sobre o papel invisibilizado das comunidades negras na formação intelectual e social dos Estados Unidos.
Vestígios da resistência por meio do saber
Durante as escavações, os arqueólogos descobriram um porão até então desconhecido, conservado sob as fundações do antigo prédio. O espaço revelou uma camada arqueológica impressionante, composta por objetos que atravessam períodos históricos cruciais, do século XVIII ao início do século XX. Entre os artefatos estavam fragmentos de lápis de ardósia, botões antigos, pedaços de vidro, cerâmica e até joias, possivelmente pertencentes a alunas que ali passaram.

Um dos elementos mais simbólicos encontrados foi um fragmento de vidro decorado com a imagem da deusa romana Minerva — uma representação da sabedoria, da estratégia e da civilização. A presença de tal figura reforça o caráter educacional do local e aponta para a valorização do conhecimento, mesmo em um contexto de forte opressão racial.
Da educação de crianças negras à formação das primeiras mulheres universitárias
O edifício da Bray School também teve um papel notável após o fim de suas atividades escolares originais. Já no século XX, suas instalações serviram como alojamento para algumas das primeiras mulheres a ingressarem na vida universitária em uma época em que a educação superior era quase exclusivamente masculina. Assim, o local se transforma em testemunha silenciosa de diferentes capítulos da inclusão na educação norte-americana.
Para a presidente da William & Mary, Katherine Rowe, a descoberta é mais do que arqueológica — é identitária. “As raízes da nossa universidade e da cidade se encontram aqui. Cada fragmento revela uma camada esquecida da nossa história compartilhada, conectando o passado colonial às transformações sociais do século XX”, afirmou.
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