Fotos: Simon Ritz, Inrap
Arqueólogos na França identificaram três ânforas antigas contendo dezenas de milhares de moedas romanas durante escavações realizadas na vila de Senon, no nordeste do país. Os recipientes de cerâmica, característicos das culturas grega e romana e utilizados desde o período Neolítico, estavam enterrados no solo de antigas residências de um assentamento com cerca de 1.800 anos. A descoberta foi feita por equipes do Instituto Nacional Francês de Pesquisa Arqueológica Preventiva (Inrap).
De acordo com o Inrap, os três jarros reuniam mais de 40 mil moedas romanas. O pesquisador Vincent Geneviève informou que o primeiro recipiente continha aproximadamente 38 quilos de moedas, o que corresponde a uma estimativa entre 23 mil e 24 mil unidades. O segundo jarro, incluindo o peso da cerâmica, alcançava cerca de 50 quilos. Com base nas cerca de 400 moedas encontradas no gargalo quebrado no momento da escavação, os especialistas estimam que ele poderia conter entre 18 mil e 19 mil moedas. O terceiro recipiente já havia sido removido em época anterior, restando apenas três moedas no local onde estava enterrado.
Os arqueólogos descartam a hipótese de que os jarros representem reservas escondidas em períodos de instabilidade ou ameaça. A interpretação mais aceita aponta para um sistema organizado de gestão monetária, planejado a médio e longo prazo, possivelmente no âmbito de famílias ou administrações locais. Esse sistema permitiria depósitos e retiradas de moedas ao longo do tempo, indicando um controle financeiro estruturado.
Essa interpretação é reforçada por evidências observadas durante a escavação. Em dois dos casos, moedas foram encontradas aderidas à parte externa das ânforas, o que indica que elas foram colocadas ali após o enterramento dos recipientes. Além disso, os jarros estavam posicionados em salas de uso comum e em níveis próximos à superfície, sugerindo fácil acesso aos seus proprietários.
A vila de Senon está situada em uma região com ocupação humana anterior à conquista romana, habitada por povos celtas conhecidos pelos romanos como gauleses. As escavações conduzidas pelo Inrap revelaram diversas estruturas escavadas, como fossos, valas e buracos, que indicam a presença de construções da época gaulesa feitas majoritariamente com materiais perecíveis, especialmente madeira e taipa.

Os vestígios arqueológicos apontam que um assentamento organizado já existia no local entre o século 2 a.C. e o início da era cristã. Com a consolidação do domínio romano, ocorreram mudanças significativas nos métodos construtivos e no crescimento urbano, incluindo a substituição gradual de estruturas de terra e madeira por edificações em pedra. Esse processo levou à exploração intensiva do calcário local, comprovada pela identificação de dez pedreiras na área, algumas com até três metros de profundidade.
Inicialmente situadas atrás das residências, em áreas que correspondiam a pátios ou jardins, essas pedreiras foram progressivamente incorporadas ao tecido urbano. Posteriormente, passaram por reutilizações e adaptações, como a construção de muros de pedra seca em suas partes superiores. A extração de calcário desempenhou papel relevante na economia regional até o século 9.
O período romano na região foi marcado pela construção de ruas pavimentadas e casas em alvenaria, cujos vestígios apresentam bom estado de conservação. Ao longo dessas vias, foram identificadas diversas unidades habitacionais compostas por salas de estar, adegas, instalações domésticas ou artesanais e amplos pátios localizados na parte posterior das edificações.
Os elementos arquitetônicos e os objetos encontrados no sítio arqueológico indicam que a população local possuía elevado nível socioeconômico, possivelmente formada por artesãos ou comerciantes. Esse perfil é compatível com a localização da área residencial, situada no centro urbano da antiga cidade, próxima a espaços públicos como a praça, templos, banhos e um teatro, o que reforça a importância histórica e econômica do assentamento no contexto regional do período romano.




