Extinção dos campos naturais no Corredor Ecológico do Rio Chapecó preocupa

O Corredor Ecológico do Rio Chapecó, localizado no Oeste de Santa Catarina, é uma das áreas mais importantes para a preservação da biodiversidade no estado. Abrangendo 5 mil km² e protegendo florestas nativas, como a Floresta de Araucária e a Mata do Alto Rio Uruguai, a região desempenha um papel essencial na manutenção dos ecossistemas. No entanto, os campos naturais dessa área estão em risco de extinção, como aponta um estudo realizado por Juliana Mio, pesquisadora da Epagri/Ciram.

A pesquisa, que utilizou inteligência artificial para prever o uso e cobertura da terra, revela que entre 2000 e 2018 houve uma redução de 55% dos campos naturais na região, em grande parte devido à expansão da agropecuária. Cenários futuros indicam que, se essa tendência continuar, restarão apenas 0,5% desses campos até 2036, com a possibilidade de uma redução ainda maior, para 0,2%, em caso de recessão econômica. A situação é preocupante e evidencia a necessidade de ações urgentes para reverter esse quadro.

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O principal fator responsável pela drástica diminuição dos campos naturais no Corredor Ecológico do Rio Chapecó é o avanço da agropecuária. A demanda por novas áreas de cultivo e pastagem tem pressionado ecossistemas nativos, transformando áreas de vegetação natural em campos agrícolas. Essa tendência não é exclusiva do Rio Chapecó. Em outras regiões de Santa Catarina, como o Planalto Sul, 72% da expansão da soja nos últimos 10 anos ocorreu em detrimento de áreas de campos naturais, conforme aponta o pesquisador Kleber Trabaquini, também da Epagri/Ciram.

Essa conversão de áreas naturais para uso agrícola traz uma série de consequências ambientais. A perda de biodiversidade, a degradação do solo e a alteração no ciclo da água são apenas alguns dos impactos negativos. Além disso, a remoção dos campos naturais contribui para o aumento da vulnerabilidade da região a eventos climáticos extremos, como as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024, agravadas pela perda de vegetação natural que antes atuava como reguladora dos fluxos de água.

A perda dos campos naturais no Corredor Ecológico do Rio Chapecó e em outras regiões de Santa Catarina não apenas afeta a biodiversidade local, mas também agrava problemas ambientais em uma escala mais ampla. Juliana Mio alerta que a destruição desses ecossistemas compromete os serviços ecossistêmicos, essenciais para a qualidade de vida humana. Esses serviços incluem a regulação da qualidade do solo, do ar, da água, do clima e a ciclagem de nutrientes.

Sem a presença dos campos naturais, a região corre o risco de enfrentar uma série de problemas ambientais, como erosão do solo, redução da qualidade da água e maior frequência de enchentes. Esses impactos já podem ser observados em diversas áreas, e a situação tende a se agravar caso não sejam tomadas medidas eficazes para preservar os remanescentes desses ecossistemas.

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Diante do cenário preocupante revelado pelo estudo, a pesquisadora Juliana Mio destaca a urgência de implementar ações de recuperação e conservação dos campos naturais. Ela argumenta que é essencial que documentos de gestão territorial, como o Plano de Gestão do Corredor Ecológico do Rio Chapecó e o Plano de Desenvolvimento SC 2030, incluam medidas específicas e direcionadas para a preservação desses ecossistemas.

A Epagri, por sua vez, já tem desenvolvido diversas iniciativas para promover o manejo sustentável dos campos naturais e a recuperação de áreas degradadas. Uma dessas ações é o apoio à produção do queijo artesanal serrano, um produto tradicional feito com leite cru integral de gado alimentado em pastagens nativas. Esse queijo recebeu uma Indicação Geográfica (IG) do INPI, na modalidade Denominação de Origem, para uma área que abrange mais de 1,4 milhão de hectares nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essa certificação valoriza o produto local e incentiva práticas sustentáveis de manejo do pasto nativo, ao mesmo tempo em que preserva a identidade cultural da região.

Além das ações já mencionadas, a Epagri tem implementado práticas inovadoras para a conservação e recuperação dos campos naturais. Entre as principais iniciativas estão o manejo sustentável das áreas nativas, o plantio direto, a integração lavoura-pecuária-floresta e a restauração de áreas degradadas. Essas práticas têm como objetivo reduzir as emissões de carbono, melhorar a qualidade do solo e aumentar a biodiversidade.

O manejo sustentável dos campos naturais, por exemplo, permite que os produtores utilizem essas áreas de forma equilibrada, mantendo sua produtividade sem comprometer a regeneração dos ecossistemas. Já o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta ajudam a preservar o solo, reduzir a necessidade de insumos químicos e promover a diversificação das atividades agropecuárias.

Essas práticas, quando aliadas ao suporte técnico e capacitação oferecidos pela Epagri aos produtores rurais, têm se mostrado eficazes na preservação dos campos naturais, garantindo que eles continuem a fornecer serviços ecossistêmicos essenciais e a sustentar a biodiversidade local.

Os produtores rurais desempenham um papel crucial na conservação dos campos naturais. Como principais gestores das áreas produtivas, sua participação é fundamental para o sucesso de qualquer ação de recuperação ambiental. A Epagri tem se esforçado para engajar os produtores em práticas conservacionistas, oferecendo capacitação e assistência técnica para que eles adotem métodos sustentáveis de manejo e recuperação das áreas nativas.

A preservação dos campos naturais também pode trazer benefícios econômicos para os produtores. Produtos como o queijo artesanal serrano, que valorizam o uso sustentável dos pastos nativos, são exemplos de como a conservação ambiental pode ser integrada ao desenvolvimento econômico local. A certificação de origem desses produtos aumenta seu valor no mercado, proporcionando uma fonte de renda adicional para as comunidades rurais que adotam práticas de manejo sustentável.