Copom decide hoje se aumenta a taxa Selic

A taxa Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação e, por consequência, regular a atividade econômica. Ao definir essa taxa, o Copom determina os rumos do crédito, do consumo e da produção no país. A reunião desta quarta-feira (17) é particularmente importante, pois há incertezas no cenário econômico interno e externo, além de uma possível divisão entre os membros do comitê. Isso cria grande expectativa sobre a decisão final: manter ou aumentar a taxa básica de juros.

Nas últimas reuniões, a Selic passou por cortes consecutivos, caindo de 13,75% para 10,5% ao ano. Entretanto, a recente alta do dólar e o aumento nos preços de energia e alimentos, impulsionados pela seca prolongada em diversas regiões do país, trouxe novos desafios ao cenário inflacionário. Isso levanta a questão: o Copom optará por interromper os cortes e elevar a taxa?

Um dos principais fatores que influenciam a decisão do Copom é o comportamento da inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o indicador oficial de inflação, ficou negativo em 0,02% em agosto, marcando a primeira deflação desde junho de 2023. No entanto, a expectativa é de que o alívio seja temporário, uma vez que o preço da energia elétrica deve subir em setembro, com a aplicação da bandeira tarifária vermelha, e a seca prolongada deve pressionar o custo dos alimentos.

De acordo com o boletim Focus, que reúne previsões de mercado, a inflação para 2024 foi ajustada de 4,22% para 4,35%, um patamar muito próximo do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3% com intervalo de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

A alta no dólar também é um fator que preocupa o Banco Central. Quando a moeda americana se valoriza, os preços de produtos importados sobem, impactando diretamente a inflação. Isso afeta não apenas bens de consumo, mas também insumos para a produção, como combustíveis e fertilizantes, aumentando o custo de produção em diversos setores da economia.

A crise climática tem sido um fator determinante para o aumento dos preços de energia e alimentos. A seca prolongada em várias regiões do país reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas, principal fonte de energia no Brasil. Com isso, o governo precisou acionar as termelétricas, que possuem um custo de operação mais elevado, resultando em aumento nas tarifas de energia elétrica.

Além disso, a escassez de chuvas impacta diretamente a produção agrícola, elevando o preço de itens básicos como arroz, feijão, café e leite. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou recentemente que o choque de oferta de alimentos não pode ser resolvido apenas com uma alta nos juros. No entanto, a combinação de fatores como seca, alta do dólar e pressão inflacionária coloca o Banco Central em uma posição delicada, exigindo cautela na decisão sobre a Selic.

O mercado financeiro está dividido sobre o que o Copom decidirá nesta reunião. A maioria dos analistas consultados no boletim Focus acredita que a Selic será elevada em 0,25 ponto percentual, encerrando 2024 em 11,25% ao ano. Essa previsão reflete a preocupação com o aumento da inflação, mas também considera a necessidade de manter um nível de juros que estimule a economia.

No comunicado da última reunião, o Copom indicou que o cenário econômico exige cautela e um acompanhamento cuidadoso dos fatores que influenciam a inflação. A possível divisão entre os membros do comitê sugere que há um debate interno sobre a melhor estratégia: continuar com os cortes de juros para estimular o crescimento ou aumentar a Selic para conter as pressões inflacionárias.

Vale lembrar que a última vez que o Copom aumentou a Selic foi em agosto de 2022, quando a taxa subiu de 13,25% para 13,75% ao ano. Desde então, o comitê adotou uma postura de cortes graduais, com a taxa chegando ao nível atual de 10,5% ao ano. A decisão desta quarta-feira pode marcar uma mudança de direção nessa política.

A Selic é usada como referência para as demais taxas de juros da economia. Quando o Banco Central aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, pois juros mais altos encarecem o crédito, desestimulando o consumo e a produção. Isso, por sua vez, ajuda a controlar a inflação, uma vez que a menor demanda reduz a pressão sobre os preços.

Por outro lado, quando a Selic é reduzida, o crédito fica mais barato, incentivando a produção e o consumo. Isso estimula a economia, mas também pode criar pressões inflacionárias, caso o aumento na demanda não seja acompanhado pelo aumento na oferta de bens e serviços.

As decisões do Copom afetam diretamente os juros cobrados pelos bancos em empréstimos, financiamentos e cartões de crédito. Taxas de juros mais altas tornam o crédito mais caro, o que pode desestimular o consumo e retardar o crescimento econômico. Já taxas mais baixas facilitam o acesso ao crédito, promovendo maior atividade econômica, mas com o risco de descontrole inflacionário.

Para o restante de 2024 e 2025, a política monetária do Banco Central deve continuar focada no controle da inflação, especialmente diante dos desafios trazidos pela instabilidade externa e pelos problemas climáticos internos. O cenário internacional também influencia as decisões do Copom, já que a alta dos juros nos Estados Unidos e na Europa afeta o fluxo de capitais para mercados emergentes como o Brasil, pressionando o câmbio.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu metas de inflação de 3% para 2025 e 2026, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Para que essas metas sejam alcançadas, o Banco Central precisará equilibrar o controle da inflação com o estímulo ao crescimento econômico, o que pode exigir ajustes pontuais na Selic ao longo dos próximos anos.

Além disso, a divulgação do próximo Relatório de Inflação, no final de setembro, será fundamental para entender como o Banco Central planeja lidar com os desafios econômicos atuais. O relatório trará previsões atualizadas sobre a inflação e a política monetária, oferecendo mais clareza sobre o que podemos esperar em termos de ajuste da Selic