Dados de uma pesquisa realizada pela empresa Varejo 360 mostram que os consumidores já estão ajustando seus hábitos de compra para enfrentar a alta dos preços. O levantamento, que analisou os primeiros 21 dias de janeiro, revela quedas significativas na aquisição de itens essenciais, supérfluos e até produtos de higiene e limpeza.
Entre os alimentos básicos, o leite UHT registrou uma queda de aproximadamente 4,5% no volume médio comprado por cliente, enquanto o café torrado e moído recuou cerca de 2,5%. Apesar de o café ter apresentado aumentos de preço mais expressivos, a redução no volume de compras foi menor, já que os consumidores vinham ajustando seu consumo desde o ano passado. Itens como chocolate e biscoitos, considerados “pequenas indulgências”, também sofreram quedas superiores a 5% e 3,7%, respectivamente.
O que chama a atenção é o recuo no consumo de produtos de limpeza e higiene pessoal, mesmo sem aumentos significativos de preço. Itens como lava-roupas líquido ou em pó, sabonetes e desodorantes apresentaram variações negativas no volume de compras, indicando que os consumidores estão priorizando gastos com alimentação em detrimento de outras categorias.
Fernando Faro, diretor da Varejo 360, explica que os preços elevados dos alimentos estão pressionando o consumo de outras categorias. “As pessoas estão tendo que fazer escolhas e estão priorizando a alimentação. Para garantir a xícara do café, que está muito caro, elas estão abrindo mão de outra coisa. O cobertor está curto”, afirma.
Outra tendência observada é a migração para marcas próprias, que oferecem preços mais acessíveis em comparação com as marcas tradicionais. Em janeiro, o crescimento desses itens foi de cerca de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo Antônio Sá, sócio da Amicci, empresa especializada em desenvolver produtos para redes varejistas.
Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, destaca que o processo de adaptação do consumidor à inflação é gradual e inclui estratégias como o fracionamento das compras e a diluição no uso de produtos. “Ele pode levar um café melhor para servir no domingo e outro para o dia a dia. No caso dos produtos de limpeza, pode ter uma diluição. Aquele sabão que durava dez lavagens passa a durar 12”, explica.
Para Ricardo Cobacho, diretor do GoodBom, rede de supermercados do interior de São Paulo, a troca de marcas mais caras por opções mais em conta já era perceptível desde o último trimestre de 2023. Ele ressalta que os varejistas também enfrentam desafios, como a dificuldade de repassar aumentos de custos sem perder margem. “Agora, com o reajuste do diesel, vamos ter dificuldades”, afirma.
O cenário atual reflete um comportamento típico de períodos inflacionários, em que os consumidores priorizam o essencial e buscam alternativas para equilibrar o orçamento. A pesquisa da Varejo 360 reforça que, enquanto a inflação persistir, as mudanças nos hábitos de compra devem continuar.