Complexo sacrificial de 2.400 anos na Rússia revela rituais misteriosos

Complexo sacrificial de 2.400 anos na Rússia revela rituais misteriosos

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Arqueólogos da Academia Russa de Ciências trouxeram à luz um dos achados mais intrigantes dos últimos anos: um complexo sacrificial de 2.400 anos descoberto entre dois montes funerários no sítio de Vysokaya Mogila, nos Urais russos. O local, utilizado entre os séculos IV e III a.C., fazia parte de uma necrópole de elite, composta por grandes estruturas que marcavam sepultamentos de alto status social. Entretanto, o mais surpreendente não veio das tumbas principais, mas de uma discreta cova circular onde nobres nômades realizavam rituais fúnebres em homenagem aos mortos.

De acordo com os pesquisadores, boa parte dos objetos não estava enterrada diretamente nos montes, mas distribuída ao redor deles, especialmente em um recinto sacrificial a oeste de uma das estruturas funerárias. Esse detalhe indica que os rituais eram feitos ao ar livre, acessíveis e visíveis a quem participava das cerimônias. Itens foram depositados a apenas 20 e 50 centímetros do solo, reforçando a hipótese de uso constante, com oferendas renovadas ao longo do tempo.

Artefatos importados e símbolos de status

O Instituto de Arqueologia afirma que o complexo sacrificial é o mais rico do tipo já identificado. Além da quantidade de artefatos, chama atenção o fato de muitos deles terem sido importados de regiões como o norte do Cáucaso e da área do Mar Negro — algo inédito naquele território. Entre os objetos estavam peças de ferro, adornos de prata, placas de ouro e uma peça frontal de montaria com gancho, possivelmente retirada de outro local de culto.

Outro destaque é uma placa de ouro costurada, representando a pata e a cabeça de um tigre, elemento raro que sugere uma simbologia ligada ao poder e à proteção espiritual. A descoberta inclui também fragmentos de estrutura metálica que podem ter sido saqueados de outros espaços rituais.

Rituais com cavalos e sacrifícios animais

Os achados revelam a importância do cavalo entre as elites nômades que ocupavam a região. Foram encontrados arreios completos, feitos de bronze e ferro, muitos deles ricamente adornados com discos metálicos em formato de animais míticos, pássaros, figuras humanas e desenhos geométricos. A associação entre montaria e rituais funerários indica prestígio, indicando que o status de um guerreiro era acompanhado para além da vida.

Outro elemento marcante são mandíbulas de javali, dispostas de maneira ritualística como se representassem um animal sacrificado. Próximo a elas, havia uma tigela de madeira decorada com prata e imagens de animais, possivelmente utilizada em cerimônias de libações ou oferendas alimentares.

Todas essas evidências sugerem práticas funerárias complexas conduzidas por um grupo de elite, provavelmente ligado a chefes tribais. Os objetos não serviam apenas como decoração, mas como instrumentos simbólicos, reforçando poder, linhagem e proteção espiritual aos mortos. O espaço entre os montes funerários, longe de ser um simples vazio, funcionava como palco para os rituais que uniam vivos e ancestrais.

A descoberta oferece uma nova perspectiva sobre povos nômades que, até então, eram vistos apenas como guerreiros itinerantes. Agora, emerge a imagem de uma sociedade sofisticada, com comércio de longa distância, arte refinada, crenças estruturadas e rituais que ecoavam poder, honra e continuidade espiritual.

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