A poluição sonora costuma ser associada apenas a impactos na saúde humana, mas seus efeitos vão muito além. Estudos recentes demonstram que o excesso de ruídos pode afetar diretamente a vegetação, comprometendo processos vitais como germinação, crescimento e reprodução. O que antes era visto como apenas um incômodo urbano, hoje é entendido como uma ameaça silenciosa à biodiversidade vegetal e à estabilidade dos ecossistemas.
O que é a poluição sonora
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), ruídos acima de 50 decibéis já são prejudiciais ao bem-estar humano, e quando ultrapassam 75 dB podem até causar perda auditiva. Porém, esse impacto não se restringe às pessoas: animais e plantas também sofrem com a constante exposição a sons artificiais, principalmente em áreas urbanas, próximas a rodovias ou polos industriais.
Como os ruídos afetam as plantas
Segundo a bióloga Patrícia Farias de Souza, mestre e doutoranda em Dinâmica dos Oceanos e da Terra pela UFF, as ondas sonoras e as vibrações interferem diretamente na fisiologia vegetal. Esse estresse acústico pode reduzir a absorção de nutrientes, prejudicar a fotossíntese e enfraquecer os mecanismos de defesa natural das plantas, tornando-as mais vulneráveis a pragas e doenças.
Além disso, espécies que dependem fortemente de polinizadores — como flores ornamentais, frutíferas e algumas leguminosas — sofrem ainda mais, pois o barulho afasta abelhas, borboletas e até morcegos. Isso compromete a reprodução, reduzindo a diversidade vegetal e criando um efeito cascata em toda a cadeia ecológica.

Espécies invasoras e desequilíbrio ambiental
A poluição sonora também favorece o avanço de espécies invasoras, mais resistentes ao estresse ambiental. Com o afastamento das espécies nativas sensíveis ao ruído, abrem-se nichos que acabam ocupados por plantas e animais oportunistas. Esse processo altera a composição e a estrutura dos ecossistemas, ameaçando o equilíbrio natural e reduzindo a variabilidade genética das populações vegetais.
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Possíveis soluções
Para reduzir os impactos do ruído sobre a vegetação, especialistas defendem medidas práticas e acessíveis. Entre elas estão a criação de barreiras verdes, como corredores ecológicos, jardins verticais e matas ciliares, capazes de atenuar o som em áreas sensíveis. Também são recomendados o planejamento urbano sustentável, que limite o tráfego em zonas próximas a habitats frágeis, o uso de materiais que diminuam a propagação sonora em rodovias e construções, além do monitoramento de polinizadores e campanhas de educação ambiental.
Conclusão
A poluição sonora é um problema invisível, mas com impactos reais sobre a biodiversidade. Muito além de prejudicar a saúde humana, ela compromete processos vitais das plantas, altera ecossistemas e ameaça a estabilidade de diferentes espécies. Reconhecer o silêncio como recurso natural essencial é o primeiro passo para adotar medidas que protejam a vegetação e, por consequência, toda a cadeia de vida que dela depende.
Fonte: Portal IG