Com a chegada do fim do ano, o pagamento do 13º salário se torna um alívio financeiro para muitos brasileiros. Contudo, de acordo com uma pesquisa recente da Serasa, a maior parte desse recurso está sendo destinada ao pagamento de dívidas.
Esse cenário reflete o endividamento crescente da população e evidencia como o 13º, que poderia ser usado para compras, viagens ou investimentos, acaba servindo como ferramenta para recuperar o equilíbrio financeiro.
Os dados da Serasa mostram que mais de 70% dos brasileiros pretendem utilizar o 13º salário para quitar dívidas. Entre as principais pendências estão cartões de crédito, financiamentos e contas de consumo atrasadas. Esse comportamento é impulsionado por uma combinação de fatores: alta da inflação, juros elevados e desemprego ainda em níveis preocupantes.
O endividamento não afeta apenas a classe mais baixa. Famílias de classes média e alta também relatam dificuldades em manter as contas em dia. O crédito fácil, aliado ao consumo exacerbado, tem levado muitas pessoas a se endividarem além do que podem pagar. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), cerca de 78% das famílias brasileiras estão endividadas.
O uso do 13º salário para quitar dívidas é uma escolha estratégica para muitos. Quitar pendências permite limpar o nome em serviços de proteção ao crédito, como Serasa e SPC, além de evitar que juros continuem acumulando. Essa decisão é fundamental para quem deseja recomeçar o ano seguinte com maior estabilidade financeira.
“Decidi usar todo o meu 13º para pagar as parcelas atrasadas do financiamento do carro. Agora, posso respirar mais aliviada”, relata Ana Lúcia, moradora de Belo Horizonte. Como Ana, muitos brasileiros veem nesse pagamento extra uma oportunidade de regularizar suas finanças e evitar complicações futuras.
Por outro lado, há quem destine parte do 13º para formação de reserva de emergência, poupando ou investindo em opções mais seguras. Essa prática, embora ainda pouco difundida no Brasil, é uma forma de evitar novos ciclos de endividamento.
Os especialistas em economia alertam sobre a importância de usar o 13º salário com responsabilidade. Antes de tomar qualquer decisão, é recomendável fazer um levantamento completo das dívidas existentes e priorizar aquelas que possuem juros mais altos ou que podem trazer consequências mais graves em caso de inadimplência.
Além disso, planejar as compras de fim de ano é essencial. Promoções como a Black Friday e as festas natalinas muitas vezes incentivam o consumo por impulso, o que pode resultar em mais endividamento. Adotar o consumo consciente, analisando se os produtos são realmente necessários e comparando preços, pode evitar arrependimentos futuros.
“Mesmo com o 13º, é importante não gastar além do que se pode. Um planejamento financeiro eficaz inclui metas realistas e a construção de uma reserva para emergências”, explica Carlos Eduardo de Souza, economista e consultor financeiro.
Embora grande parte do 13º esteja sendo usada para quitar dívidas, o pagamento desse benefício também injeta dinheiro na economia. Segundos dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o 13º deve movimentar cerca de R$ 250 bilhões neste ano.
Esse montante é essencial para o aquecimento do comércio e da indústria, especialmente no período natalino. O aumento do poder de compra impulsiona setores como vestuário, alimentos e eletrônicos. Apesar disso, o impacto poderia ser ainda maior se a população não estivesse tão endividada.
Para que o uso do 13º não seja apenas um alívio momentâneo, mas parte de uma mudança estrutural, a educação financeira é indispensável. Incluir noções básicas de finanças pessoais desde cedo é uma forma de preparar as futuras gerações para lidar melhor com os desafios econômicos.
Iniciativas como oficinas de planejamento financeiro e programas de renegociação de dívidas, como o “Feirão Limpa Nome” da Serasa, têm ajudado brasileiros a entender melhor suas finanças e a buscar soluções sustentáveis para seus problemas.