Como o macramê transformou barbantes em arte

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O macramê não nasceu da pressa. Ele é herdeiro da contemplação. É arte tecida com os dedos, mas nutrida de tempo, silêncio e paciência. Ao contrário de muitas tendências que surgem e somem como fumaça no vento, essa técnica milenar de tecer com nós ressurge com uma força quase poética, conectando passado e presente em cada entrançado de barbante. Não requer agulhas, não depende de máquinas, tampouco exige destreza de mestre para começar: basta uma corda e vontade de criar. Mas não se engane.

Por trás de cada suporte de planta pendurado na varanda ou de cada cortina boho, existe uma lógica, uma ordem e uma beleza ritual que remontam aos artesãos árabes do século XIII. O macramê voltou — e mais do que isso: ele se reinventa a cada nó, ganhando espaço na decoração, na moda e até na terapia ocupacional. Neste artigo, vamos destrinchar essa técnica artesanal com uma lente jornalística, didática e curiosa. Como surgiu? O que é possível criar? Quais os principais nós? E, sobretudo: como fazer macramê de maneira simples, elegante e funcional, mesmo que você esteja começando agora? Respire fundo. É hora de se deixar amarrar — com delicadeza — pelo fascinante universo do macramê.

O que é macramê e por que ele voltou a ser tendência?

Macramê é uma técnica de tecelagem manual baseada em nós. Ao contrário do crochê ou do tricô, que dependem de agulhas, o macramê utiliza apenas os dedos e cordas ou fios. Sua origem remonta às antigas civilizações árabes e persas, e seu nome deriva do termo árabe “migramah”, que significa franjas decorativas.

Durante os séculos, essa técnica viajou do Oriente Médio para a Europa pelas rotas comerciais e chegou às Américas com os colonizadores. Ganhou força nos anos 1970 com o movimento hippie, foi esquecido nos anos 1980 e 90, e agora renasce com o boom do design afetivo, da decoração natural e do movimento do “faça você mesmo” (DIY). Em tempos de sobrecarga digital, o macramê surge como um respiro tátil e meditativo.

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Os tipos de fios mais usados no macramê moderno

Escolher o fio certo é essencial para o sucesso do seu projeto. As opções mais populares são:

  • Barbante de algodão cru: o mais usado, versátil e sustentável.
  • Cordão de malha: reciclado e robusto, ideal para peças decorativas maiores.
  • Fio encerado ou de seda: usado para bijuterias e peças delicadas.
  • Corda de sisal ou juta: mais rústico, ótimo para suportes de plantas ou painéis de parede.

A espessura dos fios impacta diretamente na textura do trabalho. Fios mais grossos rendem peças maiores e com visual mais bruto; os mais finos, por sua vez, oferecem acabamento detalhado.

Começando do zero: os nós básicos do macramê

Antes de tentar fazer uma peça complexa, é fundamental aprender os nós básicos — eles são como o alfabeto da técnica. Com apenas três tipos, já é possível criar uma variedade impressionante de projetos:

  • Nó simples ou de laçada: base de praticamente todo trabalho em macramê.
  • Nó quadrado (ou nó duplo): forma um padrão plano, firme e visualmente atrativo.
  • Nó espiral (ou meia-volta): cria um efeito de torção, ótimo para colunas ou pingentes.

Com esse repertório mínimo, já se pode iniciar pequenos projetos como pulseiras, chaveiros ou suportes de vaso.

Macramê para iniciantes: o que fazer na primeira tentativa?

Se você está começando, o ideal é iniciar com um suporte de plantas simples. O projeto exige poucos nós, fica pronto em menos de 30 minutos e tem aplicação prática imediata.

Você vai precisar de:

  • 4 cordas de 2,5 metros (barbante 4 mm)
  • 1 argola de madeira ou metal
  • Tesoura

Passo a passo básico:

  1. Dobre todas as cordas ao meio e passe pela argola, criando 8 pontas.
  2. Faça um nó simples na base da argola com todas as cordas juntas.
  3. Separe os fios em pares e vá fazendo nós quadrados a cada 10 cm.
  4. Junte os fios cruzando os pares e repita os nós.
  5. Finalize com um nó grande para unir todas as pontas e corte as sobras.
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Simples, funcional e bonito. Além disso, ver a peça pronta em pouco tempo traz uma gratificação imediata.

macramê

Projetos criativos com macramê para decoração e além

O macramê pode ser adaptado para objetos de tamanhos e funções muito variados. Entre os mais populares estão:

  • Painéis de parede estilo boho
  • Cortinas para portas ou janelas
  • Caminhos de mesa
  • Capas de almofadas
  • Balancinhos suspensos
  • Bolsas e mochilas artesanais
  • Cestos organizadores
  • Cabeceiras de cama

A beleza do macramê está em sua modularidade: ao dominar os nós básicos, o artesão pode criar peças cada vez mais complexas, mesclando formas, cores e texturas.

O valor terapêutico do macramê: entre a arte e o cuidado emocional

Cada nó exige atenção, cada repetição exige paciência. Por isso, o macramê se tornou um aliado inesperado na saúde mental. Psicólogos e terapeutas ocupacionais têm utilizado a técnica como ferramenta de terapia manual para tratar ansiedade, depressão e até recuperação motora.

A concentração necessária para seguir os nós promove um estado de presença — o famoso “estado de flow” — que reduz os pensamentos acelerados. Além disso, o sentimento de produtividade ao finalizar uma peça é poderoso.

Como empreender com macramê: do hobby ao negócio

Com a popularização do estilo boho e escandinavo na decoração, o mercado para produtos em macramê cresceu nos últimos anos. Plataformas como Elo7, Etsy e até o Instagram tornaram-se vitrines para quem quer vender peças autorais.

Para transformar o hobby em renda, vale seguir alguns passos:

  • Produza um portfólio variado: diferentes tipos de peças e tamanhos.
  • Invista em boas fotos: estética vende.
  • Estude precificação: calcule o tempo de produção, o custo dos materiais e a margem de lucro.
  • Explore nichos: decoração infantil, casamentos, lembrancinhas, pet.
  • Crie kits DIY: para quem quer aprender, mas não sabe por onde começar.
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Macramê contemporâneo: técnica ancestral com alma moderna

Embora o macramê tenha raízes seculares, ele não parou no tempo. Hoje, vemos artistas que combinam a técnica com materiais inesperados: luzes LED, espelhos, madeira entalhada e até fios metálicos. Outros apostam em grandes instalações, transformando paredes inteiras em tapeçarias tridimensionais.

Nas redes sociais, tutoriais rápidos e vídeos de “satisfying knots” viralizam diariamente, mostrando que o macramê é também uma linguagem visual contemporânea — uma arte que conecta dedos, olhos e emoções.

No mundo atual, tão veloz e fragmentado, fazer macramê é quase um ato de resistência silenciosa. Cada nó ensinado, aprendido e repetido é um convite à desaceleração, à contemplação e à reconexão com o que é manual, natural e humano. Seja por hobby, terapia, decoração ou renda extra, o macramê oferece mais do que peças artesanais: oferece tempo de qualidade.

É uma prática que une tradição e modernidade, simplicidade e sofisticação, e que pode ser feita por qualquer pessoa, em qualquer lugar — desde que haja um pouco de corda e um desejo sincero de criar. Ao final, não se trata apenas de aprender a fazer nós, mas de redescobrir em si mesmo a capacidade de construir, com as próprias mãos, algo belo e duradouro.

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