Em um mundo cada vez mais permeado por tensões e desafios, o pensamento crítico se torna uma habilidade fundamental. Com o avanço da tecnologia e o acesso ilimitado à informação, a própria verdade tem sido questionada, dando espaço para termos como “fake news” e “pós-verdade”. Além disso, com a propagação do novo coronavírus, teorias de conspiração e debates sobre o melhor caminho a seguir têm ganhado destaque. Nesse contexto, desenvolver o pensamento crítico torna-se uma necessidade urgente.
A teoria dos estágios do pensamento crítico, desenvolvida pelos psicólogos Linda Elder e Richard Paul, oferece um modelo para compreender os processos mentais das pessoas. Essa teoria identifica seis níveis de pensamento crítico, desde os mais superficiais até os mais aprofundados.
Segundo os autores, o pensamento crítico é definido como a habilidade e disposição de aprimorar o pensamento, submetendo-o sistematicamente à autoavaliação intelectual. O desenvolvimento desse tipo de pensamento está relacionado ao compromisso individual e à prática constante, pois a utilização efetiva da mente não ocorre de forma automática. Os estágios propostos por Elder e Paul são os seguintes:
Estágio um: Pensador irreflexivo
Nesse estágio, as pessoas não refletem sobre o ato de pensar e o impacto que isso tem em suas vidas. Suas opiniões e decisões podem ser baseadas em preconceitos e equívocos. Essas pessoas não avaliam explicitamente seus pensamentos para melhorá-los e muitas vezes não estão cientes dos padrões adequados para a avaliação do pensamento, como clareza, precisão, rigor, relevância e lógica.
Estágio dois: Pensador iniciante
Nesse estágio, as pessoas estão conscientes da importância do pensamento e de como problemas nessa área podem ter consequências significativas em suas vidas. O principal desafio é reconhecer a necessidade de refletir sobre o próprio pensamento para aprimorá-lo. Embora possam identificar algumas falhas em sua forma de pensar, podem não perceber todas elas. Nesse estágio, pode-se desenvolver a percepção de que o pensamento envolve conceitos, hipóteses, inferências, implicações e pontos de vista, além de padrões para avaliar o pensamento, como clareza, precisão, relevância e lógica.
Estágio três: Pensador básico
Nesse estágio, as pessoas começam a assumir o controle do pensamento em áreas específicas de suas vidas. Elas reconhecem que o pensamento pode ter falhas e esforçam-se para compreender e melhorar essas questões. Começam a ter consciência da função do pensamento em relação a conceitos, hipóteses, implicações e pontos de vista. Também começam a reconhecer que existem padrões para avaliar o pensamento. Nesse estágio, os pensadores apreciam as críticas ao seu poder de reflexão e passam a monitorar seus pensamentos esporadicamente. Eles também percebem o pensamento egocêntrico tanto em si mesmos quanto nos outros.
Estágio quatro: Pensador em desenvolvimento
Nesse estágio, além de identificar suas falhas de pensamento, o indivíduo tem habilidade para lidar com elas. Ele adquire o senso dos hábitos necessários para assumir o controle e realiza análises regulares do próprio pensamento. No entanto, ainda tem habilidades limitadas para a análise de níveis mais profundos dos processos mentais.
Estágio cinco: Pensador maduro
Esse pensador de nível mais elevado possui hábitos que permitem analisar o pensamento com percepção sobre diferentes áreas da vida. É capaz de ser imparcial e perceber aspectos prejudiciais em pontos de vista tanto de outras pessoas quanto de si mesmo. Faz autocrítica frequentemente e sem dificuldade, buscando constantemente o aprimoramento. Tem discernimento para desenvolver novos hábitos, reconhecer inconsistências e contradições, compreender outras pessoas de forma empática e coragem para confrontar posicionamentos com os quais não concorda ou que provocam desconforto.
Estágio seis: Pensador sofisticado
Nesse estágio, o indivíduo tem controle total sobre o processamento de informações e tomada de decisões. Além de estar no comando, ele monitora, revisa e repensa continuamente suas estratégias para aprimorar constantemente o pensamento. As habilidades do pensamento crítico são internalizadas a ponto de serem tanto conscientes quanto altamente intuitivas. Embora não tenha controle total sobre seu egocentrismo, o pensador sofisticado possui um alto grau de controle sobre ele.
Diante das tensões e da disseminação de informações questionáveis, o desenvolvimento do pensamento crítico se torna uma ferramenta essencial para enfrentar os desafios do mundo atual. Através dos estágios propostos por Linda Elder e Richard Paul, é possível perceber a importância de refletir sobre o próprio pensamento, identificar falhas e buscar aprimoramento constante. Ao fortalecer o pensamento crítico, indivíduos podem tomar decisões mais fundamentadas, questionar a desinformação e contribuir para um debate público mais saudável e embasado.