Com câncer aos 39 anos uma mãe diz que a doença lhe tornou melhor e mais próxima de Deus

O programa Diz Aí Podcast realizou sua 31ª edição no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, com a presença de Laura Marina Schereiner Farias, de 39 anos, que enfrenta com otimismo o câncer de mama.

Por cerca de 60 minutos, ela conversou com Luiz Carlos Veroneze, destacando a sua expectativa em superar este momento, ver seu filho crescer, o apoio da família e sobre os momentos difíceis do tratamento. Ela ainda deu informações importantes sobre o autocuidado e de como as mulheres devem ficar atentas às reações de seu corpo.

Laura comentou que o tratamento é desafiador, as quimioterapias a deixam bastante debilitada. Ao ser perguntada, como está encarrando o tratamento, ela respondeu:

Laura – Não é fácil o processo, ele é difícil. Dizer que é fácil é mentira, mas tem que encarar, tem que encarar de frente, ainda mais a gente que é mãe, tem que lutar por nós e pelos filhos, mas também, se você vê com força de vontade, não é difícil. Muita gente acha que o diagnóstico do câncer é uma sentença de morte, mas hoje em dia com os tratamentos avançados, os índices de cura são bem elevados, principalmente quando se tem o diagnóstico precoce.

Eu senti uma dor embaixo da axila que parecia uma íngua, assim que fiz o exame de toque, que é muito importante a mulher se tocar, fazer o alto exame. Assim que eu senti um nódulo já muito grande, ele não era um nódulo pequeno, já grande liguei pra minha médica em Francisco Beltrão. Isso foi num domingo, ela me pediu com urgência um ultrassom da mama. Como foi em outubro, mês da prevenção ao câncer de mama, tinha muita gente fazendo, eu só consegui fazer na outra semana, o médico foi excelente e fez na hora, pediu a biópsia e seis dias depois veio o resultado, confirmando que era um câncer de mama maligno. Já recebi o encaminhamento ao CEONC de Francisco Beltrão, isso na terça, na quarta já consultei com o médico oncologista e na semana seguinte iniciei o tratamento com quimioterapia. Tudo é muito rápido, pois a doença é rápida demais.

Tem muita gente que faz a cirurgia antes e depois as quimioterapias. No meu caso, fizemos o inverso. Primeiro preciso diminuir porque o câncer que eu tenho é um tal de triplo negativo, ele é um câncer bem agressivo. Apesar de eu descobrir ele no início, já está no estágio três, bem avançado. Sempre tomei todos os cuidados, exames, consultas. Tinha feito mamografia um ano antes e não tinha absolutamente nada. Do dia pra noite ele surgiu.

Luiz: O câncer de mama surge de uma hora para a outra e se desenvolve muito rápido. É preciso que a mulher fique muito atenta, né?

Laura -Eu não tenho nenhum na família de câncer de mama, não sou alcoólatra, não sou fumante, não sou obesa, tive filho antes dos 30 anos, sempre tomei as precauções e mesmo assim do nada surgiu. Faz alguns dias que fiz um exame genético de mutação, chamado BRCA1 e BRCA2. Tem mulheres que tem essa mutação, elas têm altas chance de desenvolver o câncer de mama ou câncer de ovário. Que tem caso na família é interessante fazer, porque o diagnóstico precoce é essencial. Quem tem a tendência a desenvolver o câncer, já pode tomar medidas antecipadas, conforme a orientação do seu médico.

Luiz – Esse exame é caro?

Laura – Sim, ele custa entre R$ 1,7 mil a R$ 3 mil. Mas quem tem condições, é interessante fazer. Estimativas apontasm que até 2025 serão diagnosticadas mais de 700 mil pessoas com câncer.

Luiz – O estilo de vida provoca estes altos índices de câncer?

Laura – O câncer vem do emocional, como uma reação do corpo, isso relacionado ao stress, uma má alimentação, hábitos não saudáveis, entre outras coisas. A gente que é mulher, olha muito para a parte estética, ir ao salão de beleza, fazer unha, cabelo, se vestir bem, mas às vezes a gente esquece do nosso interior, da nossa saúde. Se você conversar com a maioria das mulheres, faz 2 anos, 3 anos, que fez o preventivo. Ou, faz só em outubro, quando é o mês da campanha. Minha mensagem para as mulheres, se cuidem, não deixem a saúde para segundo plano. A gente não deixa a beleza para segundo plano, mas a saúde muitas vezes a gente deixa.

O processo é difícil, fazer as quimioterapias, mas a família enfrenta a doença junto com a gente. Eu não chorei, só uma vez, quando descobri que meu filho tinha chorado na escola. Falei, não é juto com ele. Quando a gente descobre a doença, a gente ganha uma força surreal, isso pela minha mãe e meu filho. Eu não tinha chorado até descobrir que ele chorou, então foi só essa vez, encarrei a situação, levantei a cabeça, falei não vou chorar, não vou me desesperar e nem achar culpado. Isso não vai me curar, o que vai me curar é manter a cabeça no lugar, manter o equilíbrio e não deixar esse bicho me vencer.

Toda vez que eu vou na oncologista em Beltrão, ela fica bem surpresa, tá diminuindo. Eu fiz as quimioterapias vermelhas, que são as mais fortes, deixa a gente mal por dias, sem conseguir comer. São quatro sessões das vermelhas. Agora faço as brancas, mais leves. Ao todo farei 16 quimioterapias, quatro vermelhas e 12 brancas. O câncer muda a cabeça da gente, eu digo que hoje sou a minha melhor versão.

Luiz – Essa fase que você tá enfrentando te aproximou mais da religiosidade?

Laura – Eu tinha realmente me afastado da igreja, me afastado de Deus. Eu tento não ver o lado ruim do câncer, tento ver o outro lado, como lado bom que ele me aproximou de Deus e aumentou a minha fé. Acredito que Ele tem um propósito pra mim, eu sei que Ele me usou para algum propósito. Acho que que Deus deu isso para dizer ‘ó eu tô aqui e você tem que confiar em mim’. Eu tenho muita fé, tenho muita fé tanto é que eu projeto futuro, eu me vejo daqui meses curada, contando a minha história. Onde que eu faço tratamento tem um sininho que as pessoas tocam quando vencem o câncer, toda vez que eu passo por ele eu converso com ele e digo: me aguarde que daqui alguns dias eu vou estar tocando o sininho.

Luiz – Com esse mundo conectado, a gente não se conversa mais dentro de casa né? O câncer te deixando mais e casa agora, fortaleceu isso?

Laura – Sim. Com o celular a gente não se vê mais, só manda mensagem. Agora eu e minha mãe conversamos todos os dias. As vezes a gente brica por pouca coisa, se ofende por pouca coisa, e isso não leva a nada. As pessoas hoje são fracas, qualquer coisa elas desmoronam. Essa doença é difícil, é preciso estar forte para enfrenta-la.

Luiz – Como você se vê daqui 5 anos?

Laura – Me vejo mais forte do que fui até agora, mais realizada. Gostaria de ver o mundo diferente, as pessoas mais próximas umas das outras, entendo mais umas às outras. Eu me vejo fazendo um trabalho de divulgação da minha história e de conscientização das mulheres.

O podcast com Laura Faria é bem extenso. A gente compilou nesta entrevista menos de 50%. Convidamos você a assistir o programa completo, no canal @dizaipodcastfronteira.