Créditos:Orlando Kissner/Alep
Um aumento de 315% no Brasil, 1.381% no Paraná e uma projeção de 4,2 milhões de casos no país até o fim de ano. A epidemia da dengue alcança números impactantes e os desafios para o combate à doença no Estado foram temas de uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná. O encontro promovido pela deputada estadual Márcia Huçulak (PSD) reuniu especialistas e lotou o Plenarinho para debater e identificar estratégias eficazes e sustentáveis para barrar o avanço da doença cujo cenário foi definido como “aterrorizante”.
“A dengue tem abalado o Brasil, nos desafiado e é uma doença que precisa do trabalho de toda a sociedade. Só o setor saúde não vai dar conta. Nós estamos com as emergências cheias em várias regiões no estado. Nós já temos 16 óbitos confirmados no Paraná. E a tendência, segundo o Ministério de Saúde, é de passar de 4 milhões de casos no Brasil”, afirmou a parlamentar.
O atual patamar nunca foi atingido tão rapidamente, segundo dados do Ministério. Até o dia 20 de fevereiro, foram registrados 688.461 casos prováveis no Brasil – 315% a mais do que no mesmo período de 2023, ano em que o país bateu recorde de mortes. Este ano, já ocorreram 122 óbitos no país; outros 456 ainda sob investigação. Há ainda 5.561 casos de dengue grave ou com sinais de alarme.
O Paraná é o quarto estado com maior número de casos prováveis, 72.526 – bem à frente do Rio de Janeiro com 51.532 casos e que decretou epidemia na quarta-feira (21). Em número de casos absolutos, Minas Gerais aparece em primeiro lugar (232.683), seguida por São Paulo (117.571) e Distrito Federal (80.979).
O número atual no estado é o dobro dos piores momentos já registrado na crise de 2019-2020. O alerta da coordenadora estadual de Vigilância Ambiental, Ivana Lucia Belmonte, foi acompanhado de um prognóstico ainda pior. “Um estudo da Fiocruz, publicado esta semana, aponta que a dengue está afetando municípios que nunca foram impactados e está avançando para o todo o território”, disse Ivana, que representou o Secretário da Saúde do Paraná, Beto Preto.
Um dos motivos para o agravamento, na avaliação da especialista, é o fenômeno El Niño. “As mudanças climáticas, com muita temperatura elevada, precipitações de chuva muito intensas facilitaram a proliferação vetorial”, acrescentou.
Há mais de 30 anos neste enfrentamento, ela considera que só uma mudança de cultura pode contribuir para frear a doença. “Qualquer pessoa sobre que fazer para prevenir a dengue. E por que não fazemos? Então, essa mudança cultural é importante para que a gente tenha realmente uma alteração de cenário epidemiológico”.
Em Curitiba, o panorama é o mais crítico da história em relação à dengue, com 349 casos, com 311 casos importados de outros estados A avaliação é da superintendente de Gestão em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, Flávia Celen Quadros. Ela representou a secretária Beatriz Battistella Nadas.
“Em 45 dias, registramos mais da metade dos casos de 2023, e oito vezes mais casos do que no mesmo período do ano anterior. Temos 12 pessoas internadas O cenário para a Macrorregião Leste é aterrorizante”, afirmou. “É uma região enorme, com quase 50% da população do estado. Além da capital, inclui a Região Metropolitana de Curitiba, região de União da Vitória, Ponta Grossa e Guarapuava, onde não tínhamos tanta dengue”, acrescentou Huçulack.
A conselheira estadual de Saúde Maria Lucia Gomes confessou estar “apavorada”. “Nunca tivemos a situação que estamos vendo hoje. Estou apavorada. Curitiba sempre foi exemplo, mas esse ano não é mais. É um horror. Nós temos de fazer a nossa parte. É revoltante porque a sociedade não tem noção do quanto e investido para conscientizar a população. Fico triste de ver os agentes terem de fazer mutirão para limpar o quintal de um cidadão. Isso custa caro. É uma fortuna também o custo de uma pessoa internada. E vacina é para 90 dias, aí já morreu todo mundo. A dengue tipo 3 mata!”, alertou Maria Lúcia, que representou o presidente do Conselho, Rangel da Silva.
O diretor de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Curitiba, Pedro Henrique de Almeida, falou sobre a ponta de atendimento, a abordagem terapêutica e a necessidade de considerar a possibilidade de dengue com o exame laboratorial, sem a necessidade de qualquer exame laboratorial diante dos sintomas e em regiões endêmicas. “Identificar, hidratar corretamente e pactuar a retaguarda adequada nas regionais”, citou.
Chegada da vacina
A audiência pública coincidiu com a chegada primeiro lote de vacinas contra a dengue, enviado pelo Ministério da Saúde e o anúncio foi feito aos presentes no Plenarinho. Segundo o Governo do Estado, a remessa com 35.025 doses do imunizante Qdenga, produzido pela farmacêutica Takeda, teve seu envio antecipado após diálogos das secretarias estaduais com a pasta federal. Ao todo serão encaminhadas 523.005 vacinas para os estados. A faixa etária definida como prioritária para a imunização é de crianças de 10 a 14 anos.
“O maior número de internações que se observa é nessa idade. Mas temos poucas vacinas. E não dá para confiar só na vacina, especialmente, porque são necessárias duas doses, com um intervalo de 90 dias. Só então a pessoa terá imunidade. Por isso, nós temos de fazer um trabalho nas escolas, nos condomínios, nas casas, onde estão 75% dos focos do mosquito”, ponderou a parlamentar
Repelente
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Romualdo Gama, falou da articulação para a chegada da vacina. Ele lembrou, também, que nem todos os repelentes são eficazes, sendo os mais indicados os que possuem a substância icaridina. Ele ainda citou que a maior concentração de picadas do mosquito é pela manhã até 15 horas e reforçou a importância de limpeza de caixas d´água A deputada Márcia Huçulak aproveitou para informar que a prefeitura de Curitiba tem disponibilizado repelentes nos Armazéns da Família por R$ 10,25.
Assustador
O secretário municipal de Saúde de Antonina, Odileno Garcia Toledo, fez um desabafo sobre a situação da cidade, cujo um cenário é “ideal” para a proliferação da dengue: região de mata atlântica, com humidade, calor intenso, chegando à sensação térmica de 50 graus e uma região portuária, com grande movimento, acarretando mais incidência no número de casos.
“Temos 1.417 registros, não atualizados e, infelizmente, tivemos a notícia do segundo óbito. É ruim para nós e nos coloca em uma situação de derrota contra a doença. O ano passado foi o ano que mais trabalhamos com a dengue, com campanhas nas escolas… Ainda assim, vimos aumentar o número de casos. Estamos com equipes sobrecarregadas, trabalhando em mutirão. A cidade inteira tem casos confirmados. Assusta”, contou.
O presidente da Associação das Administradoras de Condomínios do Estado do Paraná (AACEP), Claudio Marcelo Baiak, colocou a entidade à disposição dos Órgãos públicos para reforçar o combate ao mosquito. A ACCEP reúne aproximadamente 150 mil unidades em condomínios, abrangendo cerca de 550 mil pessoas em todas as regiões do estado. “Importante reforçar o treinamento dos colaboradores para facilitar o acesso aos agentes de saúde”, afirmou.
A secretária de Saúde do município de Paulo Frontin e vice-presidente adjunta do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Paraná (COSEMS), Bruna Cristina Markevicz, ressaltou a preocupação com a epidemia pelo aumento dos gastos dos municípios com a saúde e a importância de apoio, inclusive financeiro, às gestões municipais para manter as ações de combate.
Também compôs a mesa a presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná, Ethelly Feitosa Rodrigues Santos.
Relatório
Ao final do evento ficou definida a elaboração de um relatório com sugestões e recomendações a ser encaminhado a órgãos competentes. “Também vou apresentar o relatório aqui na nossa casa, onde tenho conversado com os deputados da importância de todo mundo atuar nas suas regiões, afinal nós temos um poder de voz”, concluiu Huçulak.