Coluna Prestes: quase 100 anos das sangrentas batalhas em Dionísio Cerqueira e Campo Erê

Autor: Luiz Veroneze – MTB 9830/PR

Um algarismo: 200 mortos, ecoa ao longo no tempo, ao longo das décadas, na voz de populares e escritores, surpreendendo seus interlocutores com um número expressivo: “neste ponto foram enterrados mais 200 homens”.

Particularmente, eu desconfio sempre da história, pois opiniões costumam “aumentar” os fatos.

Antes de analisar a quantidade de mortos na famosa “batalha da linha Separação”, que aconteceu entre tropas do governo, uma achando que a outra se tratava das tropas revolucionárias do Comandante Luiz Carlos Prestes, vamos responder outra pergunta, igualmente importante.

A história da Colunas Prestes na região Extremo Oeste Catarinense

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Cemitério da batalha da linha Separação. Foto Luiz Carlos Veroneze

O que foi a Coluna Prestes?

Bem, simplificando, a Coluna Prestes foi uma marcha de longa duração, realizada por políticos e militares brasileiros entre os anos de 1924 e 1927 (3 anos), na qual os seus integrantes criticavam o governo do então presidente Arthur Bernardes e de seu sucessor, Washington Luís, em manifestações de defesa ao voto secreto e a obrigatoriedade do ensino primário para toda a população, entre outros objetivos.

Descontentes do presidente Arthur Bernardes (1922-1926), que governou o país em constante estado de sítio, apoiado por lideranças rurais, os revolucionários obtiveram o apoio das outras classes, que reivindicavam condições igualitárias.

Os rebeldes paulistas e os gaúchos se juntaram em 29 de outubro, sob o comando do capitão Luiz Carlos Prestes, que deram início, então, à marcha que ficou conhecida como a Coluna Prestes, e resultou em vários confrontos com os exércitos do Governo, em vários lugares do Brasil.

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Neste infográfico de Jornal de Santa Catarina, você pode conferir as principais batalhas da Coluna Prestes

Contextos locais

Ao final de janeiro de 1925, a Coluna Prestes chegou a Porto Feliz (Mondaí), onde fez a travessia do rio Uruguai em balsa, com 1.500 homens, 40 mulheres e 1.000 cavalos. Nos primeiros dias de fevereiro, a Coluna partiu para Barracão (hoje Dionísio Cerqueira). O caminho percorrido pela Coluna foi feito as margens do rio Peperi-Guaçu, abrindo picada no meio do mato, lentamente e com muita dificuldade, até chegar a Barracão, lugar que hoje é Dionísio Cerqueira.

A Coluna Revolucionária de Luiz Carlos Prestes ao chegar na região já não era mais a mesma que saiu, e pois muitos homens desistiram pela dificuldades de enfrentar mato fechado. Chegou à Barracão com 800 homens, dos quais quase 500 armados, mas apenas 10 fuzis para combate mais feroz. Na região, transitando entre Barracão e Campo Erê, ficaram de 7 de fevereiro até o dia 28 de março, com o acampamento montado na região da Linha Maria Preta. 

As sangrentas batalhas em Dionísio Cerqueira

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Memorial da batalha da Colunas Prestes, na linha Maria Preta. Próximo do ponto do memorial e na outra colina, na região do galpão ao fundo, nestes dois pontos se posicionaram as tropas que se enfrentaram. Foto de Luiz Carlos Veroneze

Na região do Extremo Oeste Catarinense aconteceram duas batalhas importantes: Dionísio Cerqueira e Campo Erê.

Em Campo Erê, ficaram acampados por um mês na propriedade de Rocha Loures, onde foram surpreendidos pelos soldados do oficial Firmino Paim, em 19 de fevereiro de 1925, sendo desbaratados. O grupo se reagrupou na Linha Maria Preta, hoje comunidade de Dionísio Cerqueira, ficando ali acampado por mais alguns dias até que, no dia 24 de março de 1925, foram novamente surpreendidos pelos legalistas,

A história registra duas batalhas em áreas de Dionísio Cerqueira. Mas apenas a da Linha Maria Preta foi entre revolucionários e soldados do Governo. A outra batalha, onde temos o cemitério antigo da Linha Separação, não foi entre soldados e os revolucionários, e sim entre as tropas legalistas do próprio Governo, que por ser uma noite escura achavam que lutavam contra os revolucionários de Prestes.

O Jornalista Domingos Meirelles, no livro A noite das grandes fogueiras, em suas pesquisas, revela naquele cemitério da Linha Separação, hoje cercado e preservado, foram enterrados mais de 200 soldados, mas a verdade é que esse número nunca foi confirmado, já que se tratou de um grave erro militar, e nunca foi oficialmente divulgado. Pode ser mais, ou bem menos…

Hoje, com muitas lavouras e campos desmatados, não conseguimos imaginar o cenário da época, composta por mata fechada. Entretanto, registros dão conta de que na Linha Separação, em 1925, já existia uma vila com numerosas casas. Depois, em 1029, governador Adolpho Konder inaugurou a primeira escola brasileira da região de fronteira, justamente na Linha Separação.

Hoje, se fala que a batalha da Maria Preta foi um confronto monumental, com 800 homens do bando de Prestes contra quase 2.000 homens de Claudino Nunes, da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Os jornais da época divulgaram que Prestes tinha na verdade 300 homens. Conta-se que na Batalha da Linha Maria Preta morreram cerca de 10 homens de Prestes, e mais uma dezena de homens de Claudino Nunes. A Coluna de Prestes conseguiu fugir no mato, na direção de seu outro acampamento na linha Separação, na altura onde hoje temos a hípica.

Por meio de suas fontes, Prestes sabia da vinda da Força Militar Ferroviária do General Paim Filho, que vinha ao seu encontro, com a intenção de surpreendê-lo, fechando o cerco, de um lado Claudino Nunes e de outro Paim Filho.

Percebendo sua derrocada eminente, Luiz Carlos Prestes bate em retirada por um banhado por ali existente, e no meio da noite as duas tropas governistas se encontram, passando a guerrear entre si, ambas pensando que estavam guerreando com o inimigo, que somente depois de muitos tiros e baixas percebem o equívoco.

Cansados, metade dos homens de Prestes desistem de continuar. A outra metade continua a Marcha, em direção à Foz do Iguaçu, para se juntar com a coluna paulista comandada por Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa.

Polêmicas da Coluna Prestes

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Capa do Jornal de Beltrão, de 2012. em matéria sobre as batalhas em Dionísio Cerqueira. Na época, Luiz Veroneze e Cleiton Weinzemann receberam os jornalistas Ivo Pegoraro e Jorge Baleeiro de Lacerda.

Tirando a nobre causa, por onde passou a Coluna Prestes deixou marcas negativas, como o confisco de animais e alimentos para servir os seus integrantes. Ao longo de quase dois meses transitando entre Barracão, Campo Erê e Santo Antonio, o grupo de Prestes precisava comer, precisava de cavalos e armamentos, buscando isto… nas propriedades. Na região da tri-fronteira e nos outros lugarejos próximos, esse acampamento da Coluna Prestes assustou muitos moradores, que fugiram para a Argentina, abandonando suas casas. Na época não havia controles sanitários, então as famílias partiam para dentro do território vizinho levando gados, porcos e cavalos, e muitos nunca mais voltaram para o Brasil.

Conclusão

A Coluna Prestes, um dos episódios mais marcantes da história brasileira, permanece como um símbolo de resistência e luta por justiça social. Apesar de suas complexidades e desfechos diversos, o legado deixado por essa jornada de mais de três anos ecoa na memória coletiva do país. Através da análise de suas causas, trajetória e consequências, torna-se evidente que a Coluna Prestes não apenas influenciou os rumos políticos e sociais do Brasil, mas também inspirou gerações subsequentes a buscar um país mais justo e igualitário. É fundamental reconhecer e estudar esse importante capítulo da história nacional para compreendermos as origens e desafios do Brasil contemporâneo, reafirmando assim o compromisso com a construção de uma sociedade mais democrática e inclusiva.

Veja abaixo algumas imagens de jornais da época da Colunas Prestes

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