Aumento de cigarrinha-do-milho em Santa Catarina exige ação rápida dos produtores

Santa Catarina enfrenta um aumento preocupante no número de cigarrinhas-do-milho infectadas por patógenos que causam enfezamentos nas lavouras de milho. De acordo com o quinto boletim de monitoramento da Epagri, essa praga está se espalhando nas plantações em estágio inicial, principalmente em áreas onde o milho já começou a ser semeado.

Diante desse cenário, especialistas estão recomendando ações imediatas para controlar o inseto, como o uso de sementes tratadas e a aplicação de inseticidas. O monitoramento intensivo, iniciado em agosto, visa acompanhar a evolução da infestação e mitigar os impactos na safra.

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A cigarrinha-do-milho é um pequeno inseto que, embora minúsculo, pode causar grandes estragos nas lavouras de milho ao transmitir patógenos causadores de enfezamentos. O monitoramento em Santa Catarina é conduzido por uma equipe da Epagri, responsável por rastrear a presença dos insetos em mais de 60 lavouras espalhadas pelo estado. Esse trabalho teve início na entressafra, durante a semana de 5 a 9 de agosto, e continua ao longo da safra principal e da safrinha.

As armadilhas instaladas nas plantações capturam cigarrinhas, que são enviadas a laboratórios para análise de infectividade. As amostras são examinadas para verificar a presença de quatro patógenos que compõem o complexo dos enfezamentos do milho: o fitoplasma do enfezamento vermelho, o espiroplasma do enfezamento pálido, o vírus do rayado fino e o vírus do mosaico estriado.

O boletim emitido semanalmente fornece um panorama geral da infestação, incluindo o número de cigarrinhas capturadas por armadilha e a taxa de infectividade dos insetos. Essas informações são fundamentais para ajudar os produtores a planejar o manejo de suas lavouras.

O quinto boletim de monitoramento revela que a situação está se agravando em Santa Catarina. Embora a maioria das lavouras ainda esteja na fase de entressafra, o número de cigarrinhas está crescendo rapidamente em áreas onde o milho já começou a ser plantado. A média estadual de capturas ainda é relativamente baixa, com 2,65 cigarrinhas por armadilha, mas a tendência de aumento é clara.

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Segundo Maria Cristina Canale Rappussi da Silva, pesquisadora da Epagri responsável pela análise dos insetos capturados, o fitoplasma do enfezamento vermelho está entre as maiores preocupações. Nos últimos dias, esse patógeno foi identificado em cigarrinhas coletadas em municípios do Oeste catarinense, como Guatambu e Chapecó. O enfezamento vermelho pode causar sérios danos às lavouras, comprometendo o desenvolvimento das plantas e reduzindo a produtividade.

Apesar do aumento do fitoplasma, há boas notícias em relação a outros patógenos. O espiroplasma do enfezamento pálido, uma bactéria que também afeta o milho, não tem aparecido nas amostras até agora. Além disso, o vírus do rayado fino, que já causou problemas em safras anteriores, também não tem sido identificado neste ano.

Por outro lado, o vírus do mosaico estriado, um patógeno menos conhecido, tem sido encontrado com mais frequência. Embora ainda haja muito a ser estudado sobre esse vírus, sua presença constante nas análises de laboratório é motivo de alerta, pois ele pode afetar negativamente a qualidade da produção.

Diante do aumento das cigarrinhas infectadas, a Epagri recomenda aos produtores que adotem estratégias de manejo adequadas para proteger suas lavouras. Entre as principais recomendações estão o uso de sementes tratadas com inseticidas, que ajudam a proteger as plantas nos estágios iniciais de desenvolvimento, quando são mais vulneráveis ao ataque da cigarrinha.

Outro método de controle é a aplicação foliar de inseticidas, que deve ser realizada com base nas orientações específicas para cada tipo de produto. Maria Cristina ressalta a importância de os agricultores seguirem cuidadosamente as recomendações contidas na bula dos produtos químicos, garantindo assim a eficácia do tratamento e minimizando o impacto ambiental.

Além disso, é fundamental que os produtores fiquem atentos ao milho voluntário, também conhecido como guaxo ou tiguera. Esse milho nasce de forma espontânea durante a entressafra e pode servir de abrigo para as cigarrinhas, permitindo que os insetos se mantenham ativos mesmo fora do período de plantio principal. A eliminação desse milho é crucial para reduzir o risco de infestação nas lavouras.

O ataque da cigarrinha-do-milho pode ter consequências devastadoras para a produtividade das lavouras. Os enfezamentos causados pelos patógenos transmitidos por esse inseto afetam o crescimento das plantas, prejudicam a formação das espigas e, em casos mais graves, podem levar à perda total da colheita.

O enfezamento vermelho, por exemplo, causa o atrofiamento das plantas, deixando-as com folhas avermelhadas e secas. Isso impede o desenvolvimento adequado das espigas, reduzindo drasticamente o rendimento. Já o enfezamento pálido, causado por espiroplasmas, provoca sintomas semelhantes, com o amarelamento das folhas e a formação de espigas menores e mal desenvolvidas.

A presença de vírus, como o rayado fino e o mosaico estriado, também é preocupante, pois essas doenças podem se espalhar rapidamente e afetar grandes áreas de plantio. Embora o rayado fino ainda não tenha sido identificado este ano, sua ausência não garante que o vírus não possa ressurgir em lavouras mais vulneráveis.

Para enfrentar essa ameaça, o estado de Santa Catarina criou, em 2021, o programa Monitora Milho SC, uma iniciativa conjunta que envolve várias instituições e entidades do setor agrícola. O programa foi criado para acompanhar de perto a evolução da cigarrinha-do-milho e os patógenos associados, oferecendo informações valiosas aos produtores sobre as melhores práticas de manejo.

O programa é coordenado por um Comitê de Ação contra Cigarrinha-do-milho e Patógenos Associados, que inclui representantes da Epagri, Udesc, Cidasc, Ocesc, Fetaesc, Faesc, CropLife Brasil e a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária. Juntos, esses órgãos trabalham para garantir que as lavouras de milho em Santa Catarina recebam o monitoramento adequado e que os produtores tenham acesso a todas as informações necessárias para combater essa praga.

O Monitora Milho SC emite boletins semanais com dados atualizados sobre a infestação da cigarrinha e os níveis de infectividade dos insetos capturados. Esses relatórios são essenciais para orientar as decisões dos agricultores, ajudando-os a adotar medidas preventivas no momento certo e a evitar perdas significativas nas safras.