A presença de ratos em áreas urbanas sempre foi um desafio para a saúde pública, mas um novo estudo publicado na revista Science Advances revela que as infestações estão aumentando de forma alarmante em várias cidades ao redor do mundo. A pesquisa aponta que fatores como o aquecimento global, a urbanização crescente e mudanças nos hábitos humanos têm contribuído diretamente para essa proliferação. Entre as cidades mais afetadas, Washington lidera o ranking de crescimento nos avistamentos de ratos, seguida por São Francisco, Toronto, Nova York e Amsterdã.
Os cientistas analisaram dados de 16 cidades e descobriram que 11 delas registraram aumento significativo nas reclamações sobre ratos. A principal explicação para esse fenômeno está ligada ao aumento das temperaturas devido à queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural. Segundo o autor principal do estudo, Jonathan Richardson, da Universidade de Richmond, a elevação da temperatura global estende o período de atividade dos ratos, permitindo que eles se reproduzam mais vezes ao longo do ano.
“Se o inverno começa uma ou duas semanas mais tarde e a primavera chega mais cedo, isso proporciona um período maior para que os ratos possam se alimentar e se reproduzir”, explica Richardson. Como resultado, uma única fêmea pode ter até 16 filhotes por mês, acelerando exponencialmente o crescimento populacional desses roedores.
Outro fator crucial identificado pelo estudo é a densidade populacional das cidades. O crescimento desordenado e a alta concentração de pessoas criam condições ideais para que os ratos se proliferem. Eles são extremamente adaptáveis e vivem próximos aos humanos, alimentando-se de restos de comida e encontrando abrigo em locais pouco higienizados.
Kathleen Corradi, coordenadora do programa de controle de roedores da cidade de Nova York, destaca que os ratos são considerados um dos mamíferos mais bem-sucedidos, ficando atrás apenas dos humanos e dos camundongos domésticos. “Eles seguiram os humanos pelos continentes e hoje habitam todas as regiões do mundo, exceto a Antártida”, afirma.
Os ratos não são apenas um incômodo visual ou estrutural. Eles representam uma ameaça real à saúde pública. Segundo o especialista em roedores de Houston, Michael Parsons, cidades com alta população de ratos enfrentam problemas sérios, como:
- Transmissão de doenças, incluindo leptospirose e hantavírus;
- Danos estruturais em veículos e edificações devido à ação dos roedores;
- Contaminação de alimentos e estoques de mantimentos;
- Impactos psicológicos e declínio da qualidade de vida da população.
Enquanto algumas cidades registram aumento na presença de ratos, outras vêm conseguindo reduzir esse problema. Nova Orleans, Louisville e Tóquio foram as únicas metrópoles analisadas que apresentaram quedas significativas nos relatos de infestações. Especialistas acreditam que o sucesso de Nova Orleans se deve a campanhas educativas e ações preventivas bem estruturadas.
Jonathan Richardson destaca que medidas eficazes não envolvem apenas armadilhas e venenos. “A chave para reduzir a população de ratos está na prevenção. Trabalhar com a população, conscientizar sobre o armazenamento correto do lixo e evitar o acúmulo de resíduos são estratégias essenciais”, explica o biólogo.
Nova York, que recentemente adotou contêineres resistentes a ratos em substituição aos sacos plásticos de lixo, já começa a observar resultados positivos. Além disso, a cidade implementou um esquadrão de combate especializado para lidar com o problema de forma estratégica e eficiente.
Com o avanço das mudanças climáticas e o crescimento contínuo das cidades, os especialistas alertam que a presença de ratos deve continuar sendo um desafio urbano. “À medida que nossas cidades se aquecem e se tornam mais densamente povoadas, criamos mais oportunidades para que os ratos prosperem”, afirma Kaylee Byers, cientista da Universidade Simon Fraser.
No entanto, especialistas enfatizam que o objetivo não deve ser eliminar completamente os ratos, mas sim controlar sua população de maneira sustentável. “Zero ratos é um objetivo irrealista”, diz Richardson. “Mas precisamos encontrar um equilíbrio para que a convivência com esses animais não comprometa a saúde e a qualidade de vida nas cidades.”